98% das medicações usadas no tratamento do melanoma no SUS são pouco eficazes

De 2015 a 2017, quase 100% (99,2%) das medicações usadas no tratamento de pacientes com melanoma (câncer de pele) metastático na rede pública consiste de quimioterápicos antigos e que sabidamente têm pouca eficácia no controle da doença. Em face da baixa eficácia, além da toxicidade, especialmente quando comparada à eficácia e segurança dos tratamentos modernos para melanoma, sua utilização não é mais justificável além de representar mau uso do dinheiro público. A informação está na pesquisa do Instituto Oncoguia/cliqueSUS, que levantou dados relativos a 4.338 pacientes com melanoma metastático em tratamento, que originaram 13.187 APACs (Autorização de Procedimento de Alta Complexidade), somando 34.842 aplicações de tratamentos.

O levantamento mostra a existência de prescrições contendo drogas reconhecidamente sem nenhuma eficácia para melanoma, como Etoposide, Irinotecano e Clicofosfamida, totalizando 1,4% do total das prescrições. O segundo e maior grupo, representando quase 98% das prescrições, consiste de medicações que embora tenham historicamente sido as únicas alternativas para tratamento, são sabidamente pouquíssimo eficazes. Neste grupo se incluem quimioterápicos isolados ou em combinação (como dacarbazina, carmustina, platinas, taxanos, vimblastina) e imunoterápicos antigos, como Interferon. Entre os tratamentos considerados eficazes – o que representa apenas 0,71% do total analisado – figuram vermurafenibe, nivolumabe, ipilimumabe e interlucina em associação com quimioterapia (bioquimioterapia).

“O melanoma é uma doença muito grave. Tivemos grandes avanços nos últimos anos, mas eles não estão chegando à nossa população. É inconcebível que menos de 1% dos tratamentos oferecidos pelo governo sejam tratamentos modernos, eficazes no combate à doença”, explica Luciana Holtz, presidente do Instituto Oncoguia.

A faixa etária predominante dos pacientes, de acordo com o estudo, é de 61 a 65 anos, sendo que mais de 70% estão acima de 51 anos. Os estados do Sul têm a maior prevalência de pessoas com a doença, sendo registrados casos principalmente no Paraná, com 5,57 a cada 100 mil habitantes, no Rio Grande do Sul, 5,28, e em Santa Catarina, com 4,63.

A pesquisa foi divulgada em primeira mão durante o Fórum Temático Oncoguia sobre o Melanoma no Brasil, em São Paulo. Durante o encontro, representantes do Ministério da Saúde foram questionados quanto ao resultado da pesquisa. Em resposta, o próprio Ministério questionou os dados do DataSUS, apontando que não são fidedignos. Segundo André Marques dos Santos, fundador da plataforma de inteligência de mercado cliqueSUS, o DataSUS é a plataforma oficial e a única fonte de coleta de dados do governo. “Seria uma total irresponsabilidade afirmar isso em vez de tomar iniciativas para melhorar o dado apresentado”, disse Santos durante o Fórum.

Redação

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