Carta aberta ao Fantástico sobre o Zika Vírus

A primeira geração de crianças portadoras de Síndrome Congênita do Zika (SCZ) completa dois anos de idade. São vítimas da maior epidemia de Zika na história.

Em novembro de 2015, o Ministério da Saúde decretou a epidemia do vírus Zika. O país vivia uma situação de emergência em saúde pública que começara dois meses antes. Na ocasião, médicos do Nordeste observaram o crescente número de bebês com microcefalia na região. Pouco tempo depois, pesquisadores confirmaram que os casos de microcefalia estavam relacionados a um novo vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti.

De acordo como Ministério da Saúde, de outubro de 2015 a 26 de agosto de 2017, foram notificados 14.558 casos suspeitos de alterações no crescimento e desenvolvimento, possivelmente relacionadas à infecção pelo vírus Zika.

No último domingo, reportagem veiculada no programa Fantástico, da Rede Globo, afirmava que, neste período, 3.087 crianças tiveram a confirmação do diagnóstico de SCZ.

A grande maioria delas vive na região Nordeste, especialmente no estado de Pernambuco.

A reportagem mostrou uma série de casos de superação das crianças, e da batalha diária de suas mães, que desde o diagnóstico abdicaram de suas vidas para estar ao lado de seus filhos em tempo integral.

As terapias oferecidas hoje nos 32 centros de atendimento em Pernambuco realmente têm possibilitado enormes avanços no desenvolvimento destas crianças. Quatro delas, mostrou a reportagem, superaram todas as expectativas e já conseguem andar.

No entanto, a informação que não se viu no Fantástico foi que apenas uma pequena minoria das crianças afetadas pela SCZ têm acesso às terapias. Há, possivelmente, ainda aquelas que desconheçam o diagnóstico.

“A grande maioria das mulheres diagnosticadas com o Zika vírus na gestação vive em situação de risco, sem acesso a saneamento básico ou a serviços de saúde. De lá para cá, a situação destas mulheres não melhorou”, afirma o Dr. Olímpio Moraes, presidente da Comissão de Assistência Pré-Natal da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO).

Para o especialista, uma nova epidemia pode surgir a qualquer momento, e será tão ou mais catastrófica do que a anterior.

“O vírus segue circulando e oferecendo riscos, especialmente às gestantes”, concorda o Dr. Thomaz Gollop, Professor Livre-Docente em Genética Médica pela Universidade de São Paulo e coordenador do Grupo de Estudos sobre o Aborto (GEA).

Por este motivo, os especialistas alertam para a necessidade de implementação de novos serviços para que todas as crianças tenham a oportunidade de receber o diagnóstico e receber todas as terapias necessárias.

Benefício de Prestação Continuada às vítimas

É também importante destacar a urgente necessidade de se oferecer apoio às mães, que lutam ao lado das crianças com SCZ. A dedicação, nestes casos, ocorre em período integral. Em muitos casos, esta situação impede que estas mulheres mantenham seus empregos, dificultando ainda mais o sustento de suas famílias.

Em vista desta situação, desde junho de 2016, quando publicado no Diário Oficial da União, as crianças vitimadas pela SCZ passaram a ser incluídas no Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social – BPC. O benefício, criado pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), tem por objetivo principal amparar pessoas à margem da sociedade e que não podem prover seu sustento.

No entanto, assim como acontece com as terapias de reabilitação, o BPC também não está disponível a todas as vítimas da Síndrome. Assim, longe dos grandes centros urbanos, sem acesso aos centros de reabilitação, mães permanecem ao lado de seus filhos, em completo abandono, aguardando o cumprimento da lei.

Redação

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