Dra. Rosa Celia Pimentel Barbosa: Do agreste alagoano ao coração das crianças

Por Carol Gonçalves

O currículo é extenso. Estudos e atuação no Brasil, na Inglaterra e nos Estados Unidos. Trabalhos em publicações médicas nacionais e internacionais. Palestrante em vários congressos. Membro de diversas associações médicas. Cerca de 30 honrarias, sendo a mais recente o prêmio Personalidade do Ano da Área da Saúde, concedida pela Hospitalar em maio último. Mas tudo isso é muito pouco para descrever a cardiologista infantil Dra. Rosa Celia Pimentel Barbosa. A médica, que nasceu em Palmeira dos Índios, Alagoas, venceu grandes desafios desde a sua infância num internato, passando por muitos recomeços, até fundar o Hospital Pediátrico Pro Criança Jutta Batista, em 2014, para dar continuidade e sustentabilidade ao projeto social Pro Criança Cardíaca, criado por ela em 1996, que já atendeu, gratuitamente, mais de 15 mil crianças cardíacas carentes. “O importante era não me perder neste caminho cheio de obstáculos e não esquecer que o que me levou a tudo isto foi a vontade de servir ao próximo”, descreve em sua biografia no site do projeto.

Quais os principais desafios enfrentados durante sua trajetória?

Os desafios, sem dúvida, foram muitos. Uma infância pobre que motivou a minha criação em um orfanato. Onze anos sem retornar à minha casa. Visitas dos meus pais uma vez por ano. Paralelo a isso tive uma educação com formação acadêmica e de valores. Fui muito amparada por pessoas maravilhosas que me seguiram durante o orfanato e após a minha saída. Esta base me deixou forte para meu passeio pela vida. Aprendi a ter foco, determinação e perseverança, que me fez atingir as minhas metas. Não tenho mágoas. Só a agradecer.

O que é cuidar do ser humano?

Cuidar do ser humano é um privilégio, para isto você tem de estar estruturada na sua vida profissional e pessoal.

Conte um momento marcante de sua carreira.

Um dos momentos marcantes foi quando decidi que precisava me requalificar para cuidar da criança cardíaca. Tinha de largar meu emprego público, o que me causou muitas dúvidas. Como eu iria abrir mão de um salário que garantiria minha vida? Não foi fácil, mas foi uma decisão que me colocou no caminho certo. Consegui uma bolsa de estudos no Conselho Britânico para fazer pós-graduação em um dos melhores hospitais da Europa, o National Heart Hospital, em Londres, onde fiquei dois anos. Ainda em Londres, fiz concurso para médica nos Estados Unidos e fui trabalhar no Texas Children´s Hospital. Um hospital de excelência: aprendizado sem fim.

Quais as suas lutas?

A nossa luta diária é para trabalhar com muito profissionalismo e responsabilidade. E lembrar que lidamos com vida, a vida da criança.

Quais os valores que a ajudam a lidar com as adversidades?

Ética, transparência, responsabilidade e muito profissionalismo. É um aprendizado diário.

Como é sua rotina atualmente?

Minha rotina é cuidar do paciente. Atendo na minha clínica, onde realizamos avaliação clínica e exames cardiológicos, e trabalho no hospital, que é acoplado à clínica. Faço parte de uma equipe multidisciplinar. Sou presidente do Pro Criança Cardíaca, que cuida da criança cardíaca carente. Lembro que sozinha não se chega a lugar nenhum.

Como relaciona sua vida profissional com a pessoal?

Minha vida pessoal é muito tranquila. Sou privilegiada, não tenho problemas e, por isso, posso trabalhar com muito foco, disciplina e usar meu poder técnico e de credibilidade para ajudar o outro.

O que gosta de fazer nos momentos de lazer?

Gosto de ficar quieta, ler, me exercitar e curtir minha família.

Quais seus planos para o futuro?

O meu futuro será o que planto hoje. Atuar com muita responsabilidade para garantir a estabilidade do nosso trabalho. Na realidade, não penso no futuro, meu foco é no agora.

Fale um pouco do hospital, de seu trabalho e desenvolvimento.

O Hospital Pediátrico Pro Criança Jutta Batista – construção idealizada e coordenada por mim desde o lançamento da pedra fundamental, em 2009 – foi inaugurado em setembro de 2014. É uma instituição do bem que mostra o poder da generosidade do ser humano, pois foi construída e equipada com doações dos nossos parceiros. Temos uma excelente estrutura para cuidar da criança, independentemente da faixa etária, da complexidade da patologia e de sua condição social. Fui sua presidente até março de 2019, quando o hospital foi arrendado para a Rede D’Or, uma rede com sucesso na gestão de hospitais. Com isto, estamos garantindo a continuidade e a sustentabilidade do trabalho do Pro Criança Cardíaca no cuidar do pequeno carente com o coração doente. E, para isto, precisamos dos parceiros caminhando conosco e fazendo doações. Mais informações no site www.procrianca.org.br.

Com sua experiência, pode elencar os maiores desafios que a saúde enfrenta no Brasil atualmente?

Os gastos que o governo tem com a saúde é de alta relevância. Tem de pensar em um círculo, onde todos precisam estar alinhados. Evitar o desperdício e ter muita transparência em todas as frentes.

Como eles podem ser vencidos, em sua opinião?

Os obstáculos só serão vencidos com o entender que somos todos iguais. Precisamos trabalhar com a cultura de transparência, ética e responsabilidade. Toda vez que vejo os problemas que temos de enfrentar, que não são poucos, e comparo com o governo no lidar com a saúde, fico realmente preocupada, porque somos um grão de areia. A equipe governamental precisa ter um plano estratégico e contar com profissionais competentes e comprometidos para vencer os obstáculos do caminho. Muito importante acabar com a cultura de apagar incêndio, atuando todos os dias com muito profissionalismo, sem deixar pendências para o dia seguinte. Assim, se o incêndio vier, as chamas serão menos intensas e os danos, menores. Importante analisar o que causou o incêndio, para que ele não se repita. Ser correto e humilde. Quanto menos combustível disponível, menores serão os estragos.

Matéria originalmente publicada na Revista Hospitais Brasil edição 98, de julho/agosto de 2019. Para vê-la no original, acesse: portalhospitaisbrasil.com.br/edicao-98-revista-hospitais-brasil

Redação

Redação

5 thoughts on “Dra. Rosa Celia Pimentel Barbosa: Do agreste alagoano ao coração das crianças

  1. Dr Rosa Célia, uma Dr incrível se hoje estou vivo devo minha vida primeiramente a Deus e segundo a ela, que com todo amor do mundo cuidou de mim, no momento em que mais precisei, eu tinha apenas no máximo 3 anos de vida, hoje estou com 34, graças a Deus amor hoje estou aqui.

    Que Deus derrame chuvas de bençãos sobre ela.

  2. Dra. ROSA CÉLIA é um orgulho para ALAGOAS e para o BRASIL !!! Sua competência aliada ao seu espírito humanitário, faz dela um ser único … ímpar … iluminado !!! Conheci está mulher fantástica quando estive na sua Clínica, para saber das possibilidades que teria meu neto, ainda na barriga da mãe, que foi diagnosticado com a Síndrome de Tetralogia Fallot, conhecida como “crianças azuis” !!! A segurança dela diante do problema, me encantou !!!

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