Artigo – Setembro Amarelo e o suicídio entre profissionais da saúde

A história triste e real da cor amarela como símbolo da prevenção ao suicídio é devido ao jovem Mike Emme, (1977-1994), morador do Colorado, EUA. Ele comprou um Mustang antigo, recuperou e pintou de amarelo. Mike, muito alegre, adorava seu carro e era amado pela família e amigos. Em setembro de 1994, às 23h52, seus pais (Dale e Darlene) chegaram e encontraram Mike Emme (17 anos) morto por um tiro, dentro do seu Mustang amarelo. Ao lado do corpo um bilhete: “Mãe, pai, não se culpem. Eu amo vocês. Com amor, Mike. 11:45 pm”. Sete minutos foi o tempo decorrido entre escrever o bilhete e ser encontrado morto pelos pais. Isso levou uma campanha, pelos pais e amigos de Mike, que fez pessoas com tendências suicidas, procurarem ajuda imediatamente, ao descobrirem os primeiros sinais e sintomas da doença.

Desde 2014, vinte anos após a morte de Mike, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), organizam o Setembro Amarelo no Brasil.

Este ano, em especial, o Setembro Amarelo ganhou mais atenção, pois a pandemia Covid-19 está afetando a saúde mental das pessoas. Estudos mostram aumento de depressão, angústia, ansiedade, notadamente entre profissionais de saúde. Acrescem questões com perda de familiares e amigos. Profissionais de saúde são treinados para cuidar e conviver com dor e sofrimento, porém a maneira como tem ocorrido as mortes, em número excessivo e muito rapidamente, abalou ainda mais médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem. Desde o início percebeu-se aumento de Burnout, depressão e ansiedade entre os trabalhadores da saúde no mundo inteiro. A pandemia Covid-19 ocasiona efeitos negativos na disposição física e mental de profissionais que atuam no atendimento de pacientes infectados pelo vírus Sars-CoV-2.

Médicos suicidam-se mais que a população geral, o que é ainda mais preocupante. Estudo apresentado na reunião da American Psychiatric Association (APA), de 2018, mostrou um suicídio consumado ao dia (para cada suicídio, 25 pessoas fazem tentativa e muito mais pessoas pensam em cometer) entre médicos dos Estados Unidos da América, que é a mais alta taxa de suicídio dentre todas as profissões (a maioria devido à depressão). Essa revisão sistemática sobre suicídio entre médicos mostrou taxa de suicídio em médicos de 28 a 40 por 100.000, mais que o dobro da encontrada na população geral (12,3 por 100.000). Muitos dos médicos não procuram ajuda ou fazem tratamento não adequado. Já temos vários casos na pandemia atual e aguardamos estudos conclusivos para vermos qual impacto corrido em termos de suicídio entre profissionais de saúde no Brasil e no mundo.

Pesquisa da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP) mostrou que 36% dos 916 profissionais de saúde que atuaram na linha de frente e foram acompanhados, possuíam pelo menos um distúrbio mental: ansiedade (43%), depressão (40%), insônia (61%) e estresse pós-traumático (36%). A maioria deles não percebia ou não dava importância aos sinais e sintomas de doença mental, pois o medo acompanha-os sempre, sendo o medo maior infectar-se ou contaminar familiares.

Nós da Hospital Care, holding de saúde, com 11 hospitais (SP, SC, PR), e várias outras unidades dedicadas à assistência, ensino e pesquisa em saúde, desde cedo alertamos nossos gestores e colaboradores para que estejamos atentos e busquemos apoio sempre que julgarmos necessário, sendo diligentes. O impacto foi amenizado na nossa empresa, pois sempre falamos sobre o tema, oferecemos apoio e não deixamos faltar insumos ou equipamentos de proteção individual, minimizando risco de contaminação. Sempre priorizamos atender todos bem e com segurança.

Mesmo hoje, com a diminuição dos casos em todo o país, continuamos chamando atenção para nossos gestores observarem muito bem nossos profissionais e, ao menor “sinal de alerta”, buscar ajuda. O estigma e o tabu relacionados ao suicídio dificultam buscar ajuda. Assim, reiteramos a importância de enfrentar o problema, tratando corretamente os problemas de saúde mental. A prevenção do suicídio não se limita ao setor saúde, mas toda sociedade, adotando diversas medidas, que ajudarão para diminuir as taxas de suicídio no mundo.

Ocorrem mais de 13 mil suicídios por ano no Brasil e mais de um milhão no mundo. Trata-se de triste realidade, que registra cada vez mais casos, principalmente entre jovens. Cerca de 96,8% dos casos de suicídio estão relacionados a transtornos mentais (depressão, depois transtorno bipolar, abuso de drogas). Importante que falemos corretamente sobre o tema. Comportamento suicida envolve fatores psicológicos, biológicos, genéticos, culturais e socioambientais.

Saúde é nosso bem maior, por isso busque ajuda sempre que necessário.

Florentino Cardoso é CMO da Hospital Care, de Campinas (SP)

Redação

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