Os cabelos costumam ser sinônimo de beleza e autoestima. Em casos de diagnóstico de câncer, a realização de quimioterapia gera preocupação com os efeitos colaterais na raiz dos fios (folículos pilosos), levando frequentemente à queda dos cabelos. Uma técnica que recentemente tem sido difundida no mundo, a crioterapia capilar, adotada pelo Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre (RS), pode evitar esse desconforto nos pacientes.
O hospital adquiriu o equipamento Paxman Scalp Cooler: um sistema que, através do resfriamento do couro cabeludo reduz a queda de cabelo em pacientes submetidos a tratamentos quimioterápicos. O equipamento é composto por uma unidade de refrigeração móvel e compacta, onde circula um líquido especial de refrigeração a -4ºC. A utilização de uma touca de silicone em conjunto com o novo equipamento mantém o couro cabeludo resfriado durante a quimioterapia.
Conforme a oncologista Daniela Dornelles Rosa, o racional é fazer a constrição de vasos sanguíneos que chegam ao couro cabeludo, reduzindo a quantidade de quimioterapia que atinge a raiz dos fios. Dessa forma, a chance de perda de cabelos é menor. O resfriamento também diminui a atividade dos folículos pilosos, diminuindo a velocidade de divisão celular, fazendo com que a quimioterapia tenha menos ação sobre eles.
“O resultado tem um efeito positivo na forma como a família e as pessoas ao redor tratam os pacientes, sem o sentimento de pena pela perda dos cabelos, o que impacta no emocional delas mediante a situação que já é delicada”, ressalta a oncologista, lembrando que a touca é específica para o couro cabeludo. Por isso, sobrancelhas, cílios e outros pelos do corpo podem cair durante o tratamento.
Em maio de 2017, Diana Rodrigues da Costa foi diagnosticada com câncer de mama. Para paciente, a utilização da técnica facilitou seu convívio social. “Preferi segurar a chance de não passar por essa experiência de perder os cabelos, que seria um esforço enorme para me reconhecer novamente. Manter os fios foi a oportunidade de olhar no espelho e não ver a doença”, relata.
Carolina Bratz Ely, de 41 anos, foi diagnosticada com câncer de mama em fevereiro de 2017. A partir da experiência de uma amiga que tinha passado por tratamento quimioterápico anos antes, Carolina passou a estudar tudo sobre esta possibilidade. Para a dentista, a crioterapia capilar fez total diferença para sua confiança, segurança e conforto durante o tratamento.
“Uma das coisas que mais me deixavam apavorada com o tratamento da doença era perder meus cabelos. Sempre fui vaidosa e tinha um receio muito grande de me sentir feia, de chamar a atenção das pessoas que eu estava doente. O fato de manter meus cabelos fez eu me sentir muito mais confiante e com alto-astral. Deu tão certo que, embora tenha perdido um pouco de cabelo, ninguém notou nada. Todas as pessoas referiam que o meu cabelo estava igual como sempre foi. Agradeço todos os dias esta possibilidade que tive e todo emprenho e carinho que recebi da equipe de enfermeiras da quimioterapia foram fundamentais para o sucesso do meu tratamento com a touca”, diz.
É importante salientar que as toucas hipotérmicas não funcionam para todas as pessoas. A efetividade varia de 50-65%, com resultados melhores de acordo com o tipo de quimioterapia recebida.