1 ano de pandemia no Brasil: adaptações, descobertas e o olhar para o futuro

Às vésperas de completar um ano de pandemia no Brasil, as instituições de saúde olham pelo retrovisor e enxergam tudo que mudou desde aquele 26 de fevereiro de 2020. No HCor, por exemplo, o time tem muitas lembranças de um processo que começou ainda antes do primeiro caso de Covid-19 no país. Na época, mesmo com casos somente do outro lado do oceano, o hospital mobilizou suas equipes para adaptá-las ao uso de equipamentos de proteção de contato e treiná-las para o manejo de pacientes com suspeita e confirmação de infecção pelo novo Coronavírus.

“Tivemos de implementar em tempo recorde mudanças de processos e reinventar nossa própria infraestrutura. Sem falar em todo o aprendizado com relação à gestão compartilhada, integração e solidariedade”, relembra Fernando Torelly, superintendente corporativo do hospital.

Nesse período, o hospital foi dividido – literalmente – em dois: um voltado às síndromes gripais e outro totalmente apartado para receber pacientes das mais de 50 especialidades que atende, batizado de “HCor mais Seguro”. Com a mudança, a instituição redesenhou alguns fluxos, e ainda desenvolveu um protocolo exclusivo para preparar a equipe assistencial a atender os pacientes suspeitos e confirmados com Covid-19, no pronto-socorro de síndrome gripal.

“O material orienta todo o passo a passo, desde o recebimento do doente, passando pela indicação de exames destinados a cada quadro clínico – como o exame PCR ou teste rápido de influenza, coletas laboratoriais, tomografia e ecocardiograma, e é atualizado à medida que sejam publicadas novas evidências científicas relacionadas ao tratamento da doença”, esclarece Pedro Mathiasi, infectologista e superintendente de Qualidade e Segurança do HCor.

De acordo com Mathiasi, em cada etapa do atendimento, áreas estratégicas são acionadas, como a equipe do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar e de Farmácia para separação de materiais e medicações individualizadas e o gerenciamento de leitos, por exemplo.

Todo esse cuidado foi fundamental para que o hospital atendesse quase 14 mil pacientes com suspeita de Covid-19 em seu pronto-socorro de Síndrome Gripal e pudesse receber o certificado de Melhores Práticas de Prevenção e Enfrentamento à Pandemia de Coronavírus, criado em 2020 pelo Instituto Brasileiro para Excelência em Saúde (Ibes). A instituição foi o primeiro centro de saúde em São Paulo – e também nas regiões Sul e Sudeste – a conquistar o selo de excelência.

No final do ano passado, após um novo aumento do número de casos da doença, o HCor também adotou novas medidas em seu plano de contingência, prevendo a ampliação do número de leitos de UTI e uma unidade flex para atendimento de pacientes com Covid-19.

“Nós contamos com um Comitê de Contingência que acompanha e analisa, de forma contínua, desde fevereiro passado, a gestão de dados relacionados ao Pronto-Socorro de Síndrome Gripal e à área destinada exclusivamente às internações e altas hospitalares de pacientes com suspeita ou diagnóstico confirmado”, destaca Torelly.

Perfil de pacientes atendidos

Com uma gestão de dados minuciosa, a equipe de Epidemiologia do hospital divulgou um levantamento feito no final de janeiro de 2021, com base em dados epidemiológicos de mais de 3,4 mil pacientes.

A catalogação mostra que 31% das pessoas que tiveram o diagnóstico confirmado de Covid-19 – e passaram pelo serviço de pronto atendimento ou ficaram internadas no hospital -, têm até 40 anos.

O estudo também relacionou as principais comorbidades, ou seja, doenças associadas, que podem agravar o quadro de Covid-19, dos pacientes acompanhados nos últimos 12 meses. Confirmando os dados mundiais, doenças pulmonares, hipertensão arterial e diabetes mellitus foram os principais problemas de saúde relacionados aos casos mais críticos.

Do total de 1.148 pacientes internados que testaram positivo para o novo Coronavírus, mais da metade deles (55%) têm diagnóstico de outras doenças respiratórias, ao passo que 51% convivem com pressão alta e 31% são diabéticos. As displidemias, elevação dos níveis do colesterol ruim e de triglicerídeos no sangue, também atingem quase um terço deles (28%).

O levantamento ainda mostrou que o tempo de hospitalização médio dos pacientes internados foi de 14,7 dias. Já entre os quadros nos quais o paciente foi para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), o tempo de internação hospitalar quase dobrou, passando para 28,3 dias. Os idosos foram os que mais necessitaram de cuidados intensivos. A média de idade entre esses pacientes é de 68,8 anos, sendo 68% deles do sexo masculino. “Estudos epidemiológicos são extremamente importantes no enfrentamento da pandemia. A inteligência de dados pode colaborar diretamente com a tomada de decisões e, aos poucos, ajuda a nortear protocolos e novas pesquisas clínicas”, destaca a médica Suzana Silva, coordenadora do setor de Epidemiologia do HCor.

Seguimento pós-alta

E se engana quem pensa que quando esses pacientes saem do hospital eles deixam de ser acompanhados. A identificação de sinais precoces do agravamento do quadro clínico em pessoas com suspeita de infecção pelo novo Coronavírus é fundamental para intervenções precoces e a redução de desfechos clínicos negativos dessa população. Por isso, a equipe do HCor implantou serviços de seguimento pós-alta de Covid-19.

A atuação prevê duas frentes: pacientes suspeitos liberados do pronto-socorro sem indicação de internação e aqueles com confirmação da doença que receberam alta hospitalar depois de passarem por Unidades de Internação ou de Terapia Intensiva.

Sabrina Bernardez Pereira, gerente de práticas médicas – responsável pelo acompanhamento desses pacientes – explica que os contatos remotos também podem evitar visitas médicas desnecessárias, incluindo idas a unidades de atendimento de urgência e emergências, que potencialmente expõem outras pessoas ao vírus, tanto nos deslocamentos por transporte público ou privado quanto dentro dessas unidades hospitalares.

No que diz respeito aos atendimentos de pacientes assistidos no pronto-socorro e não submetidos a internações, o serviço realiza o seguimento em escalas de 24h, 48h, 96h e 144h após a alta, sendo disponibilizados: entrega de oxímetro para população elegível; monitoramento de sinais de alerta; acompanhamento de desfecho (sintomas, saúde mental, ida ao PS, internação e óbito); suporte médico telefônico e suporte psicológico.

Já o fluxo de acompanhamento daqueles que chegaram a ser internados – independente do período – é feito nos intervalos de três, sete e 28 dias pós-alta hospitalar, com oferta de suporte psicológico, rastreamento de transtornos ansiosos e depressivos, avaliação de qualidade de vida, bem como acompanhamento de desfecho (ida ao PS, reinternação e óbito).

Reabilitação pós-Covid

Outro ponto seguido de perto pelo hospital são os sintomas prolongados da infecção, como fadiga, dor muscular e desconforto para respirar (fôlego curto), que podem acometer pacientes recuperados de quadros leves e moderados, e são ainda mais comuns naqueles que foram submetidos à internação.

O Programa de Reabilitação pós-Covid do HCor foi estruturado com base em um período de acompanhamento de até três meses – tempo estimado na literatura para recuperação completa dos sintomas.

“É preciso que esses pacientes tenham em mente que, apesar de se tratar de uma doença nova, já existem programas montados em algumas instituições para reabilitá-los no ambiente ambulatorial hospitalar e que podem procurar a ajuda dos especialistas, assim que voltarem a testar negativo para Covid-19”, comenta Marisa Regenga, gerente de reabilitação do HCor.

Segundo a fisioterapeuta, aqueles que apresentaram comprometimento do pulmão, como a fibrose pulmonar, devem estar mais atentos e manter o suporte clínico durante todo o processo de recuperação.

Responsabilidade Social

Para além do cenário assistencial interno, o hospital somou esforços no atendimento de pacientes com Covid-19 em diferentes regiões do Brasil, em parceria com o Ministério da Saúde.

Organizada desde maio, uma das ações de Responsabilidade Social – viabilizada por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS) – levou a campo profissionais do HCor para auxiliar na qualificação de cerca de 12 mil médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e demais membros das equipes em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e centros de saúde públicos de referência no tratamento de pacientes diagnosticados com o novo Coronavírus. A iniciativa contemplou 16 estados brasileiros das regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste, além de Santa Catarina, na região sul.

Com atuação in loco, nossos especialistas se reuniram com a equipe local para organizar estratégias adaptadas à realidade da instituição apoiada. Além disso, após a visita presencial, os profissionais puderam participar de Sessões de Aprendizagem Virtual e contar com o suporte do serviço de Tele UTI, discutindo à distância os casos de pacientes com síndrome respiratória aguda grave (SARS) em decorrência da Covid-19 com médicos intensivistas do HCor.

Outra grande iniciativa encabeçada para beneficiar a sociedade foi a criação da chamada “Liga da Proteção” que, dentre outras ações, realizou a doação de mais de 10 toneladas de equipamentos de proteção individual e máscaras de pano, para instituições públicas de saúde e população geral, respectivamente.

Pesquisas Coalizão Covid-19 Brasil

Ao longo desses meses, o HCor também colocou seu Instituto de Pesquisa à disposição para realizar estudos que avaliam a eficácia e a segurança de potenciais terapias para pacientes com Covid-19 no Brasil.

Em uma aliança formada com outros hospitais, uma rede e um instituto de pesquisas brasileiros, intitulada Coalizão Covid-19 Brasil, a instituição participa de nove pesquisas feitas com diferentes medicamentos, das quais uma acompanha sequelas de pacientes – e é reconhecida pela OMS – e quatro já foram concluídas e publicadas nos principais periódicos científicos mundiais:

– a Coalizão I, que verificou o uso de hidroxicloquina, sozinha ou associada com azitromicina, em pacientes hospitalizados com quadros leves e moderados de Covid-19;

– a Coalizão II, que estudou o uso de azitromicina em pacientes hospitalizados com formas graves da doença;

– a Coalizão III, que avaliou se o anti-inflamatório dexametasona poderia trazer benefícios a pacientes adultos hospitalizados com formas graves de infecção pelo vírus e

– a Coalizão VI, que pesquisou a relevância de acrescentar tocilizumabe, medicamento utilizado para artrite, ao tratamento padrão contra o novo Coronavírus em pacientes hospitalizados em estado grave.

“Estamos muito satisfeitos em poder dar nossa contribuição científica nesta pandemia, mostrando o potencial do Brasil para produzir ciência de forma colaborativa com grandes resultados”, afirma Alexandre Biasi, superintendente de pesquisa do HCor.

Início da vacinação

Outro principal reflexo da importância da ciência durante a pandemia foi o desenvolvimento de diferentes vacinas para Covid-19 ao redor do mundo.

Desde o início deste ano, com a realidade do início da imunização no Brasil, um olhar para o futuro já parece ter se instalado em parte da população, embora o percentual de pessoas vacinadas no país ainda seja baixo.

No HCor, as primeiras doses do imunizante foram aplicadas no dia 20 de janeiro de 2021, seguindo o plano de prioridades definidas pela prefeitura da cidade de São Paulo.

Apesar desse movimento importante, o líder médico da Infectologia do HCor, Dr. Guilherme Furtado, ressalta que ainda é extremamente necessário manter o distanciamento e o uso correto de máscaras. “A vacinação está aí e é mais um reforço para combatermos o vírus, mas precisamos continuar nos cuidando e lembrar que a pandemia não acabou”.

Redação

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