Três estudos de hospital foram apresentados em evento internacional de esclerose múltipla

Especialistas do Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre (RS), participaram do Fórum do Comitê Americano para Tratamento e Pesquisa em Esclerose Múltipla (ACTRIMS) 2022, na Flórida, evento que reúne profissionais de todo o mundo para debate e troca de experiências. Na oportunidade, foram apresentados três estudos científicos desenvolvidos na instituição, sob o comando da coordenadora do Núcleo de Esclerose Múltipla e Doenças Desmielinizantes, médica neurologista Maria Cecília Aragon de Vecino.

Um dos estudos apresentados analisou uma associação entre a menopausa e a progressão da esclerose múltipla (EM), avaliando o impacto de fatores demográficos e clínicos. Em um total de 85 pacientes incluídos (30 homens, 35 mulheres pré-menopausa e 20 mulheres pós-menopausa), todos recebendo droga modificadora da doença (DMD), verificou-se que, por si só, a menopausa não é um fator associado à progressão da incapacidade na EM. Os dados sugerem que a terapia de reposição hormonal, o tratamento precoce e o contínuo manejo de comorbidades podem ser fatores de proteção para mulheres que sofrem com a doença. “Estamos começando a entender que o sistema imune está vinculado às questões hormonais, mais do que já vínhamos entendendo”, constatou Maria Cecília.

O segundo estudo tinha o objetivo de avaliar o perfil de internações de pacientes que sofrem com esclerose múltipla entre janeiro de 2014 e dezembro de 2020. Foram analisadas 332 internações em 153 pacientes, sendo que 75% era do sexo feminino, onde foi observado que pacientes que convivem com a doença apresentam maiores taxas de internações em comparação a pacientes com outras patologias e/ou a população em geral da mesma idade e sexo. Assim, constatou-se que a análise dos indicadores de gestão hospitalar é eficaz na identificação do perfil dos pacientes internados e funciona como ferramenta para planejamento de melhorias na assistência a esses casos.

Por fim, foi apresentado estudo que avaliou, de forma retrospectiva, as características do uso de drogas modificadoras de doença (DMD), sendo revisados prontuários médicos eletrônicos de pacientes atendidos no Hospital Moinhos de Vento e também em consultório particular. Foram incluídos 92 casos, a maioria com apenas um surto antes do diagnóstico. O estudo concluiu que as trocas de DMD estavam relacionadas à progressão dos casos, reforçando a importância de uma decisão otimizada de tratamento, reduzindo o acúmulo de incapacidades e retardando a progressão da doença.

Segundo Maria Cecília, esse é o quarto ano que o hospital participa do evento, levando trabalhos desenvolvidos pela instituição e que são aceitos pela comissão organizadora do fórum. “Essa aceitação muito nos entusiasma a continuar nessa linha, pois mostra a qualidade e a relevância do nosso trabalho. É um congresso americano e esse aval é fundamental”, destacou.

A especialista também fez um panorama sobre as discussões do congresso. “Voltamos a abordar a questão dos biomarcadores, uma necessidade cada vez maior para diagnóstico e tratamento”, observou. Os Biomarcadores são substâncias do nosso sistema biológico que podem ser identificadas e quantificadas em exames laboratoriais, como os de sangue, urina e líquido cefalorraquidiano (LCR), servindo como diagnóstico ou de indicadores da nossa condição de saúde. Além de auxiliar no diagnóstico, os marcadores biológicos podem também prever o agravamento e a progressão de algumas doenças crônicas autoimunes, como é o caso da EM. “É importante destacar que biomarcadores são úteis para o acompanhamento do tratamento de evolução do paciente. São extremamente válidos, mas ainda continuamos órfãos de algo mais específico para o diagnóstico”, ressaltou. Outro assunto abordado foi o manejo de sintomas. “Além de escolher o tratamento, também é preciso tratar os sintomas. Como temos uma equipe multidisciplinar, esta abordagem integral do paciente nos toca especialmente na questão dos sintomas”, relatou.

Questões como a evolução da gestação, que não tem interferido na doença, a integração de protocolos e o impacto da Covid-19 em pacientes com esclerose múltipla também estiveram em debate. “Também foi importante ver que assuntos como o transplante de medula óssea, que realizamos no Hospital Moinhos de Vento, tem mostrado sua eficácia e segurança. Enfim, o fórum trouxe muito daquilo que precisamos: novos conhecimentos, consolidação de alguns conceitos e abertura de novos enfoques e propostas de trabalho”, concluiu.

Redação

Redação

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.