Um estudo publicado recentemente na revista científica Neurobiology of Aging, desenvolvido em parceria entre pesquisadores da L’Oréal Brasil, Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), UFRJ e EPISKIN, avançou na compreensão das mudanças na fisiologia cutânea ao longo dos anos e a consequente perda da sensorialidade da pele. A pesquisa, realizada com um modelo de pele humana reconstruída (RHE) da EPISKIN, mostrou que a formação de agregados proteicos já conhecidos por degenerar neurônios também contribui para o envelhecimento da pele.
Os pesquisadores descobriram que agregados da proteína alfa-sinucleína causam afinamento da pele porque deflagram inflamação e reduzem a multiplicação das células. A alfa-sinucleína é conhecida por se agregar no cérebro e causar lesões em determinadas regiões que culminam na doença de Parkinson. “Agora estamos revelando que essa mesma proteína pode se acumular na pele e causar uma degeneração semelhante ao envelhecimento”, revelou Marília Zaluar Guimarães, que lidera o estudo juntamente de Stevens Rehen, ambos UFRJ/IDOR. “É possível que esse acúmulo seja acelerado por exposição ao ultravioleta, e que os próprios neurônios sensitivos sejam fonte da proteína”, afirma a pesquisadora.
A ação desses aglomerados no cérebro já havia sido identificada como agente causador de doenças como Alzheimer e Parkinson. Em 2019, cientistas da L’Oréal, em colaboração com a McGill University, identificaram pela primeira vez a presença desses aglomerados na pele. “Nosso estudo investigou o papel dessas proteínas na pele e possíveis causas da fragilidade cutânea com o envelhecimento”, diz Rodrigo De Vecchi, CEO da EPISKIN no Brasil. Segundo o estudo, esses aglomerados também podem impactar neurônios sensoriais da pele, responsáveis por transmitir sensações do toque ao cérebro, além de estarem relacionados ao afinamento da epiderme, a camada mais externa da nossa pele.
As alterações nos sentidos que ocorrem com a idade, como perda de visão e audição, são amplamente estudadas. No entanto, as alterações fisiológicas na pele e a perda tátil ainda precisam de uma melhor compreensão. A diminuição da sensorialidade da pele envelhecida tem implicações psicológicas, afetando a sensação de bem-estar ao aplicar um produto, por exemplo, ou durante um abraço. Além disso, a deterioração dessa sensorialidade pode impactar diretamente a qualidade de vida, expondo os idosos a riscos adicionais relacionados à diminuição na percepção de mudanças de temperatura ou texturas, acrescentou o Dr. De Vecchi.
O Grupo L’Oréal foi pioneiro no desenvolvimento da pele humana reconstruída como uma ferramenta chave para a pesquisa de pele e tecidos humanos. Em 2017, em parceria com o IDOR, a L’Oréal introduziu neurônios sensoriais permitindo a identificação do mecanismo de ação desses aglomerados de proteínas.
Esta descoberta abre caminho para novas pesquisas para entender os mecanismos de prevenção do acúmulo dessas proteínas ao longo do envelhecimento, bem como o desenvolvimento de produtos que estimulem a sensorialidade da pele envelhecida.
Referências:
Júlia T. Oliveira, Vanja Dakic, Gabriela Vitória, Carolina da S.G. Pedrosa, Mayara Mendes, Luiz Guilherme H.S. Aragão, Thyago R. Cardim-Pires, Damien Lelièvre, Daniel Rodrigues Furtado, Roberta O. Pinheiro, Débora Foguel, Lionel Breton, Charbel Bouez, Rodrigo De Vecchi, Marília Zaluar P. Guimarães, Stevens Rehen, Oligomeric α-Synuclein induces skin degeneration in reconstructed human epidermis, Neurobiology of Aging,Volume 113, 2022, Pages 108-117, ISSN 0197-4580