Médicos que prestam serviço como pessoa jurídica ou que mantêm consultórios costumam pagar mais imposto do que deveriam. Não raro, também, deixam de obter receitas que teriam direito. A falta de um planejamento tributário e de uma gestão financeira é o que está por trás do que a administradora Júlia Lázaro chama de “ralos financeiros”.
Sócia-fundadora da Mitfokus – empresa de soluções financeiras e tecnológicas especializada na área de saúde, Júlia Lázaro foi uma das participantes do “Futuro Médico Web Conference”, evento on-line promovido pela Escola de Telemedicina. A especialista da Mitfokus abordou o tema “Como otimizar a gestão da sua clínica e evitar ralos financeiros”.
Diante do diagnóstico, Júlia Lázaro sinalizou caminhos para a solução: planejamento tributário e controle rigoroso do faturamento são imprescindíveis para a sustentabilidade financeira do consultório, clínica e prestadores de serviços médicos.
Para o planejamento tributário, um passo fundamental é o médico ter uma assessoria especializada no momento de registro no Cadastro Nacional de Atividades Econômicas (Cnae), da Receita Federal, para que sejam inseridas ali, de maneira precisa, as atividades condizentes com os serviços que presta na prática. Muitas vezes o profissional deixa de aproveitar algum benefício tributário de determinada atividade, por não estar devidamente registrado, explicou a especialista.
CONTROLE
Sobre o acompanhamento minucioso das receitas, Julia Lázaro falou da importância de se contar com sistemas específicos para esse controle. “Quando o médico atende por muitos convênios, atua em muitos procedimentos, lida com muitas tabelas; se fizer o acompanhamento manual, ou delegar isso à secretária que precisa focar no atendimento ao público, o profissional acaba se perdendo e gerando um grande ralo financeiro”, adverte.
É comum, em seu trabalho na Mitfokus, identificar médicos que não se dão conta de glosas (quando planos de saúde não repassam valores de atendimentos), por exemplo. Ou, quando percebem, o prazo para recurso expirou. “Recentemente acompanhamos um caso em que os ralos financeiros representavam 50% do faturamento do consultório”, ilustrou a administradora.
SEM MISTURAR
“Nem pensar”, advertiu também, sobre misturar as finanças pessoais com as dos negócios. Júlia Lázaro recomenda, por exemplo, contas bancárias diferentes para a vida pessoal e para a vida profissional. “É preciso separar, deve haver disciplina”, sublinhou. “Sem isso, é comum o profissional depois ficar se perguntando ‘para onde está indo o dinheiro?’”.
Júlia Lázaro tratou ainda de duas dúvidas recorrentes. Uma, é se vale a pena o profissional constituir pessoa jurídica (o “ser PJ”). A outra, mais emergente, sobre a precificação de consultas e atendimentos remotos – a telemedicina, que, com a pandemia do novo Coronavírus e a necessidade de distanciamento social, está se incorporando à prática.
A administradora informou que em torno de 85% dos médicos atuam como “PJ”; é uma forma de contrato que se estabeleceu no mercado de trabalho em saúde. O que, reiterou, reforça a defesa do planejamento tributário. “É importante fazer cursos rápidos, adquirir conhecimentos básicos nesse assunto”, recomendou.
Sobre a precificação da telemedicina, Júlia Lázaro defende que não há por que cobrar um valor aquém da consulta e atendimento presencial. Afinal, argumentou ela, a qualificação e a competência necessárias para o serviço são as mesmas. “A telemedicina é apenas uma ferramenta, diferente, para realizar a atividade. Mas o conhecimento que o profissional desenvolve em seu fazer médico é o mesmo”.
Informações: mitfokus.com.br