A partir de cobrança da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), bem como de outras entidades médicas, o Ministério da Saúde anunciou a assinatura de contrato com laboratório farmacêutico para fornecimento para a rede pública do medicamento adalimumabe. O anúncio põe fim a uma situação de desabastecimento que se arrastou por quase nove meses, comprometendo a atenção dispensada a milhares de pacientes. De acordo a Abbvie, empresa vencedora do certame para escolha do fornecedor, até 15 de maio as farmácias das secretarias estaduais de saúde receberão lotes do produto.
“Caso seu paciente esteja com dificuldade de adquirir medicamentos biológicos, em especial o adalimumabe, sugerimos que o informe de que o fornecimento está prestes a ser normalizado na rede pública. É bom lembrar que todas as indicações terapêuticas dessa droga no Sistema Único de Saúde (SUS) também estão disponíveis para os pacientes com planos de saúde, em linha com as coberturas obrigatórias no Rol de Procedimentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS)”, ressaltou o coordenador do Comitê de Imunobiológicos da SBD, Paulo Oldani.
Prejuízos – A falta do adalimumabe havia sido constatada na rede pública desde o segundo semestre de 2020, com prejuízo para pacientes portadores de doenças imunomediadas, que tiveram que conviver com essa situação decorrente do fornecimento irregular da droga em todo o território nacional. Em 2021, o impasse permaneceu. No primeiro trimestre deste ano, no caso específico do adalimumabe, apesar do Ministério da Saúde (MS) dispor do medicamento originador (Humira®) e de quatro biossimilares, a quantidade fornecida pelo governo federal aos estados foi insuficiente para atender a demanda.
Preocupados com as consequências que a dificuldade de acesso ao adalimumabe provoca na saúde dos pacientes que necessitam de fazer o uso regular da droga, a SBD, juntamente com a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) e o Grupo de Estudos da Doença Inflamatória Intestinal do Brasil (GEDIB), enviou carta aberta ao Ministério da Saúde. No ofício, foram cobradas providências urgentes para regularizar a situação e feita a sugestão de compra emergencial para acabar com o desabastecimento da substância.
Descontinuidade – O adalimumabe é um medicamento de alto custo usado no tratamento de doenças de pele, reumáticas, inflamatórias intestinais e oftalmológicas. Segundo Claudia Maia, membro do Comitê de Imunobiológicos, “a descontinuidade pode gerar consequências, como perda de visão, perda de segmento intestinal e deformidades permanentes. Sem o remédio, pacientes com enfermidades controladas tendem a recrudescer a estados mais intensos de sintomas”.
No SUS, o adalimumabe está estabelecido como a primeira opção de tratamento para diversas patologias, como a psoríase. Para outras, como a hidradenite supurativa, uma doença de pele com alta carga inflamatória e grande impacto na vida dos pacientes, não há sequer substituto, sendo a única opção de tratamento imunobiológico.
“A superação dessa crise deixa uma lição: é fundamental que a gestão trabalhe com um planejamento que contemple demandas de médio e longo prazo. Sem isso, além do descontrole da patologia, se abre a porta para gastos desnecessários ao sistema de saúde brasileiro. A Sociedade Brasileira de Dermatologia continuará a fazer o acompanhamento desses processos, pois quer o melhor para os pacientes e os especialistas”, finalizou Heitor de Sá Gonçalves, vice-presidente da SBD.