Uma gravidez completa dura cerca de 40 semanas a partir do primeiro dia do último período menstrual de uma mulher, mas um parto entre a 38ª e a 42ª semana ainda é considerado dentro do prazo normal. Mas quando um bebê nasce com 37 semanas ou antes disso ele é considerado prematuro. “Olha o paciente gigante que nós estamos cuidando aqui”, comenta a médica neonatologista Marina Cardoso, da Maternidade Santa Isabel (MSI), de Bauru (SP), sobre o Cauê Henrique da Silva Laureano, nascido em 11 de dezembro de 2020, que precisou ser internado na UTI.
Pesando 606 gramas e com 31 centímetros, o primeiro filho de Mikaela Thais da Silva Bernardo, 22, nasceu na 24ª semana de gestação. A data prevista para o parto era 6 de abril, mas ela estava com dilatação suficiente para ter o bebê. Depois do nascimento, Cauê sofreu três paradas cardíacas e ainda passou por diálise, porque os órgãos não estavam bem desenvolvidos. Ele perdeu peso e chegou a ficar com 450g. “No começo foi bem difícil, ele estava ligado a muitos aparelhos com bastante medicação e em um estado bem crítico. Estou esperando ele respirar sozinho e ganhar peso suficiente para ter alta e ir embora para casa. O quartinho dele já está pronto”, comenta a mãe.
Diante de tantas batalhas vencidas, a médica adotou o termo “gigante” para se referir ao Cauê que antes de sair da Maternidade ainda precisará fazer uma cirurgia de hérnia. “Tenho que pensar positivo e sei que ele ficará cada vez mais forte; ele é um milagre de Deus na minha vida”, comemora a mãe Mikaela. Após a alta, o Cauê estará entre as mais de 300 crianças que seguem em acompanhamento pela equipe da MSI no Ambulatório de muito baixo peso, setor que funciona desde 2015. E Pensando nele e nos demais bebês que nascem com peso inferior a 1.500 gramas, a equipe da Maternidade organizou uma programação especial intitulada “Prematuridade: cuidados na palma da mão” para integrar a Campanha Março Lilás, também em alusão ao Dia Nacional de Atenção ao Cuidado do Bebê Prematuro (comemorado em 14 de março).
Para o dia 15/3 (segunda-feira) estão programadas as aberturas da exposição de pequenas camisetas com um coração bordado e o carimbo dos pezinhos dos bebês internados na unidade nesse mês e da exposição fotográfica “Antes e Depois” que reúne 27 fotos de bebês acompanhados no ambulatório de muito baixo peso da Maternidade Santa Isabel. E de 15 a 19 de março serão divulgadas vídeo-palestras com depoimentos breves de médico oftalmologista, terapeuta ocupacional, pediatra, enfermeiro e fonoaudiólogo, com relatos de histórias marcantes e cuidados com os bebês atendidos na MSI. Os vídeos serão veiculados nas redes sociais oficiais da Famesp e da Maternidade Santa Isabel. Para saber mais acesse www.msi.famesp.org.br.
Cuidados especiais
No último trimestre, a Maternidade Santa Isabel, unidade estadual de saúde sob gestão da Fundação para o Desenvolvimento Médico e Hospitalar (Famesp), registrou uma média de 280 partos por mês. Desse total, 25% foram bebês prematuros (nascidos com até 37 semanas de gestação).
Esses bebês de partos prematuros passam semanas ou até meses internados em um dos 17 leitos de UTI Neonatal da MSI, que são referência para 18 cidades da microrregião incluindo Bauru.
Mas os cuidados após a alta hospitalar também são cruciais para a qualidade de vida da criança e para seu desenvolvimento, razão pela qual precisam manter o seguimento ambulatorial. A Maternidade Santa Isabel acompanha, hoje, mais de 300 crianças de Bauru e de outras 17 cidades da microrregião em seu ambulatório de muito baixo peso.
“O seguimento ambulatorial dos bebês prematuros é fundamental, pois é através dele que se pode detectar precocemente as possíveis alterações no crescimento e desenvolvimento da criança e realizar as intervenções necessárias, melhorando o prognóstico e proporcionando ganhos na qualidade de vida”, explica Marina Cardoso, pediatra neonatologista da Maternidade Santa Isabel de Bauru. “O melhor acompanhamento desse grupo de pacientes, de forma supervisionada e interdisciplinar, garantirá menores taxas de reospitalização e de índices de infecção nos primeiros anos de vida e melhores taxas de crescimento e neurodesenvolvimento”, destaca.
Em plena pandemia, pequenas guerreiras
Heloise Vitória Rodrigues da Silva nasceu em abril de 2020, no início da pandemia, com 590 gramas e 32 centímetros. O parto precisou ser realizado com apenas 25 semanas de gestação, pois a mãe Gislaine Cristina teve pré-eclâmpsia (pressão alta que surge repentinamente durante a gestação). Depois disso, Gislaine ainda ficou cinco dias em isolamento, pois estava com falta de ar e, portanto, havia a suspeita de Covid-19. Após o resultado negativo foi para o quarto e, enfim, pode reencontrar a filha. Ela estava grávida de gêmeas idênticas, mas uma delas não resistiu ao parto. “Por ter sido bem no começo da pandemia, foi bem sofrido”, relata.
Já Isabelly Ribeiro nasceu em 04 de fevereiro de 2019 com 28cm e 1.330 kg. “Lembro que na Maternidade, quando a gente ia dar banho, tinha que segurar com apenas dois dedos o ouvidinho dela”, conta Vanessa Russo Francisco Ribeiro. A filha veio bem antes do previsto e ela teve pressão alta. Nessa situação, para não haver sofrimento da bebê, o parto foi realizado com 30 semanas de gestação. Isabelly ficou internada por pouco mais de um mês na Maternidade Santa Isabel. No período foi transferida da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para a Unidade de Cuidados Intermediários (UCI). “Lá eu podia ficar o dia todo com ela, aí a gente podia amamentar, e após uma semana na UCI ela foi para o quarto” relembra. Mas antes de amamentar a pequena Isabelly, a mãe explica que, após o parto, ficou internada por 20 dias no Hospital de Base de Bauru (HBB) porque foi diagnosticada com a Síndrome de Help (falha do rim). “Após a alta precisei de repouso de dez dias e, desde o parto até o meu restabelecimento, o pai da Isabelly ficava lá e cá, durante o dia no Base e à noite na Maternidade.
Depois de todas as batalhas vencidas, mesmo com os riscos da pandemia, Vanessa não deixou de comparecer aos atendimentos ambulatoriais que são tão importantes para o desenvolvimento da filha, pois mesmo já sendo mãe de um garoto de 13 anos, a experiência é bem diferente. “Os cuidados que a gente tem que ter são muitos em relação aos que os bebês necessitam quando nascem no tempo certo” conta. “As orientações e ensinamentos sobre higiene e sobre como dar banho em um bebê prematuro, prescrição de vitaminas, entre outras coisas, foram fundamentais, pois minha família toda é de fora, então isso me ajudou muito”. A expectativa é de que, após dois anos de acompanhamento, Isabelly tenha alta do seguimento ambulatorial de prematuros em consulta agendada para o próximo dia 18, pois a evolução dela foi muito boa em praticamente todos os aspectos de saúde, como fala, comunicação, psicomotor, entre outros, conta.
Mas nem todo mundo agiu como Vanessa. Devido à pandemia de Coronavírus, o Ambulatório registrou um percentual de 39% no número de faltas às consultas e atendimentos em 2020, enquanto que no ano anterior este percentual ficou em 23%. “Com a pandemia notamos que o número de abstenções aumentou, e nesses casos entramos em contato com as famílias para reagendar a consulta o mais breve possível para não prejudicar o seguimento desse bebê”, ressalta Cardoso. O acompanhamento não deve ser interrompido, pois pode acarretar problemas de saúde para a criança. O assessor administrativo da Maternidade Santa Isabel, Robson Braguetto, enfatiza que o ambulatório segue os protocolos estabelecidos pelo Ministério da Saúde para realização dos atendimentos.
10º lugar em Prematuridade
O Brasil está em 10º lugar no ranking de países com ocorrência de mais partos prematuros divulgado pela OMS, mas, de acordo com a neonatologista, a taxa de nascimentos prematuros cresceu em todo o mundo. “Nos países mais ricos esse crescimento está ligado ao fato de as mulheres serem mães cada vez mais tarde e também ao aumento da utilização de métodos de fertilização, e nos países mais pobres as causas são mais variadas, como infecções, gestação na adolescência ou tardia e pré-natal incompleto” justifica.
Na Maternidade, o acompanhamento multiprofissional especializado dos bebês nascidos prematuros é realizado desde a alta hospitalar até em torno de sete anos, buscando promover seu crescimento e desenvolvimento da melhor forma possível” pontua. Neste seguimento, são acompanhados por pediatra neonatologistas que atuam com ênfase em particularidades como desenvolvimento neuropsicomotor, vacinação, suplementação vitamínica, além de intervenção precoce quando necessário e orientações aos familiares quanto aos cuidados de rotina.
Fatores que aumentam a incidência de partos prematuros
A pediatra neonatologista Marina Cardoso Gomes aponta os fatores que podem contribuir para ocorrência de partos prematuros:
- bolsa rota ou ruptura prematura de membranas;
- hipertensão crônica;
- pré-eclâmpsia;
- síndrome help;
- insuficiência istmo-cervical;
- descolamento prematuro de placenta;
- placenta prévia;
- malformações uterinas;
- gestação múltipla;
- fertilização in vitro;
- malformações fetais.
Ação Prematuridade: cuidados na palma da mão da MSI – Março Lilás
10/3
Distribuição de sabonetes artesanais em forma de pezinhos para os pais de bebês prematuros
15/3
Abertura da Exposição “Camisetinhas”
Os pais vão receber camisetinhas personalizadas com o “carimbo” dos pezinhos dos seus filhos.
Abertura da Exposição Antes e Depois de bebês que receberam cuidados na UTI neonatal na MSI
Painel com 27 fotos de bebês prematuros (antes e depois) para mostrar como estão as crianças hoje e a experiência da prematuridade, com exemplo de luta para que os pais que têm os bebês internados hoje saibam que outros já venceram esse desafio.
15 a 19/3
Vídeo-palestras com depoimentos breves de terapeuta ocupacional, pediatra e enfermeiro sobre histórias marcantes e cuidados com os bebês atendidos na MSI.