Utilizadas largamente nas áreas de educação e entretenimento, as tecnológicas hápticas, ou táteis, vêm ganhando aplicações profissionais no setor de saúde, juntamente com a realidade virtual, a realidade aumentada e a visualização 3D. Segundo Guilherme Hummel, coordenador científico da Hospitalar Hub, a internet 5G é uma das responsáveis pela evolução dessa tecnologia. A alta velocidade, a conexão massiva de dispositivos e a baixa latência da 5G permitirão, por exemplo, que um equipamento vestível possa conter cerca de 150 sensores funcionando sem interferência. “Nessa dimensão, a Internet das Coisas se tornará a Internet dos Corpos, propiciando às pessoas atualizarem seu personal-link, adicionando dispositivos, sensores ou chips em seus corpos”, preconiza.
Com o crescimento da consulta médica virtual, roupas hápticas dotadas de centenas de sensores integrados a inteligência artificial ajudarão no diagnóstico à distância, possibilitando aos pacientes sentirem o toque médico a milhares de quilômetros. Já há aplicações que contêm nuvens de dispositivos tão pequenos quanto grãos de sal. Cada um possui sensores, nanocâmeras e mecanismos de comunicação que coletam e enviam dados para centrais de inteligência artificial. Ao detectarem luz, temperatura, vibração, magnetismo ou produtos químicos, os sensores acoplados ao paciente permitem ao médico mensurar os sinais corporais e fazer o diagnóstico remotamente. “Esses recursos fornecerão feedback instantâneo sobre tratamentos, terapias e controles de ingestão medicamentosa”, comemora Guilherme Hummel.
Reabilitação e deficiência
As aplicações médicas hápticas poderão revolucionar as áreas de reabilitação neuropsicológica e cognitiva e até a reeducação sensorial. Vestíveis táteis para profissionais de saúde já são uma realidade. É o caso de uma jaqueta inteligente que orienta os neurocirurgiões a evitar danos em estruturas críticas, como vasos sanguíneos e sistemas nervosos, nos procedimentos invasivos cerebrais. Ao todo, 16 micromotores vibratórios, dispostos em dois círculos na parte de trás da roupa, alertam o cirurgião sobre a distância dessas estruturas. Os elementos são conectados ao sistema de neuronavegação, que usa vibrações para indicar ao médico a distância que seu bisturi está de estruturas críticas.
A peça foi desenvolvida pela mesma empresa que criou um cinto com feedback tátil usado por pessoas com “perda vestibular bilateral”, uma condição que piora o equilíbrio e dificulta a caminhada e o senso de direção do paciente. As roupas táteis também irão registrar a atividade elétrica dos músculos, que será traduzida em “movimentos pretendidos” a partir do aprendizado de máquina. Com isso, pessoas amputadas controlarão as próteses de mãos e pés.
No fundo, o feedback tátil é uma excelente forma de substituição sensorial, podendo repor um sentido e transmitir informação ao usuário. No futuro, deficientes visuais poderão usufruir dos tecidos táteis. A prevenção de obstáculos, por exemplo, é uma tarefa colossal para eles. Muitos projetos de suporte à “navegação de cegos” foram frustrados por diferentes problemas, sendo que a maioria falhou em fornecer um feedback multidimensional.
Um estudo publicado em 2022 mostra que é possível um sistema prevenir obstáculos combinando câmera 3D e uma luva de feedback tátil. Em teste de funcionalidade, ele foi capaz de identificar e localizar corretamente 98,6% dos padrões de vibração e 70% dos padrões de vibração multidirecional – avaliação em total escuridão. Trata-se de uma oportunidade de suporte virtual ao deficiente, que não demorará em chegar ao mercado assim como dispositivos que permitem a leitura em braile por meio de ultrassonografia. Inclui 256 transdutores ultrassônicos (pequenos alto-falantes), que emitem ondas ultrassônicas na direção dos dedos do usuário.
Luvas hápticas já possibilitam que pessoas sintam objetos virtuais (avatares) através de bolsas de ar. Robôs não serão mais sem-tato, terão ‘pele’, que poderá fornecer a sensação tátil dos humanos. “No futuro, braçadeiras táteis coletarão informações biométricas permitindo a análise do movimento físico do usuário em níveis granulares, podendo até prever o aparecimento de doenças como Parkinson. Tudo leva a crer que nossas sensações serão cada vez mais apoiadas por máquinas, dispositivos e sensores”, vaticina Guilherme Hummel.