O Healthcare Innovation Show (HIS) 2023, evento que ocorreu no São Paulo Expo, na capital paulista, nos dias 20 e 21 de setembro, abordando as rápidas transformações tecnológicas no campo da saúde. A programação incluiu a apresentação de casos reais de transformações tecnológicas, bem como debates intensos sobre a necessidade de comunicação, colaboração e integração no setor. Ao longo desses dois dias, o evento contou com a participação dos principais especialistas da área de saúde, distribuídos em cinco palcos: CEO Summit, CIO Summit, Inovando o Cuidado, Comunidade Tech e Palco Patrocinado, que no primeiro dia contou com a participação de Accenture e EY.
Uma das grandes atrações do HIS é o palco Demonstração de Soluções. Nesse espaço, os visitantes puderam conhecer de uma forma direta e rápida as ideias baseadas nas novas tecnologias para o aperfeiçoamento do trabalho das empresas que integram o ecossistema da saúde. As soluções foram agrupadas em 9 categorias: Segurança e privacidade de dados; Telessaúde; Plataformas de inteligência hospitalar; Dispositivos médicos e equipamentos; Produtos e serviços em saúde digital; Análise de dados e inteligência artificial; Infraestrutura digital; Interoperabilidade e Consultoria de serviços.
O destaque do primeiro dia ficou por conta da abertura realizada por Tiago Matos, cofundador da Aerolito, reconhecido internacionalmente como um especialista em futuros, além de ser membro do corpo docente da Singularity University (EUA). Na abertura do evento Matos fez algumas provocações sobre a forma como lidamos com o momento presente e futuro: “Quem vai esticar o futuro fazendo tudo que os outros fazem, ou quem fará a ruptura a partir do futuro?”. Pensando no mercado de saúde, Matos destacou que, em breve, vamos tratar muito mais a saúde do que a doença, pois estamos diante de um futuro de medicina preventiva e de precisão.
Em sua palestra “Os Futuros da Saúde – Como podemos pensar a saúde menos pela lógica reativa e standard e mais pela lógica preventiva, digitalizada, personalizada, automatizada e distribuída?”, ele trouxe vários exemplos de serviços e produtos que já estão disponíveis, mas que devem avançar ainda mais nos próximos anos, como carros autônomos, serviços de academias e personal training acompanhados por aplicativo, wearables para monitoramento de ingestão de alimentos e análise de valor calórico e queima de calorias, entre outros.
Segundo Matos, haverá uma popularização de softwares para gerenciamento de todos os dados gerados que ficarão armazenados em uma wallet e poderão ser monetizados pelo proprietário, de acordo com sua conveniência e interesse. Embora a tecnologia esteja avançando muito nos últimos anos, Matos considera que ainda estamos no 1º minuto dessa revolução, portanto ainda temos tempo de nos preparar e fazer parte dessa revolução.
No palco CEO, uma das palestras de destaque foi “O uso da tecnologia para tornar o acesso mais igualitário: banco de imagens do SUS e a interoperabilidade” ministrada por Pedro Vieira, Head da Plataforma Nacional de AI para Imagens Médicas do SUS e líder de projetos relacionado à experiência do paciente dentro da Transformação Digital no Hospital Israelita Albert Einstein.
Segundo Vieira, o projeto foi desenvolvido no formato plataforma que pode ser acessada e alimentada por hospitais, clínicas, laboratórios de todo país. Inicialmente, o banco de dados conta com imagens de tórax, de pele para diagnóstico de câncer (melanoma) e imagens neurológicas. Porém, por ser um projeto baseado no conceito de plataforma, o sistema pode agregar outras áreas ao longo do seu desenvolvimento. Acessível de qualquer ponto do Brasil que disponha de internet, o sistema agrega ferramentas tecnológicas de análises, incluindo IA, o que auxilia o diagnóstico na ponta.
Conduzido pelo Ministério da Saúde, que detém a propriedade intelectual, em conjunto com Hospital Albert Einstein, o projeto também contou com assessoria da Universidade de Stanford e MIT, dos EUA, que destacaram a grande vantagem do Brasil em ter um sistema único de saúde como um grande diferencial para o sucesso do projeto.
No palco CIO, Kátia Andersen, CIO do Hospital Israelita Alber Einstein; Viviane Rico, gerente de Cibersegurança no Banco Itaú Unibanco; Atualpa Aguiar, diretor de Tecnologia e Inteligência Digital no Grupo CURA; e David Zanotelli, diretor de Tecnologia na Hapvida Saúde, sob a mediação de Luiza Sarno, cofundadora da AlumniTech, se reuniram para o painel que debateu sobre o papel dos profissionais que ocupam essa função no desenvolvimento técnico-estratégico da transformação digital e nas inovações operacionais das instituições de saúde.
Segundo Viviane, a segurança deve ser pensada a todo momento e em cada processo, já que a área de saúde trabalha com informações confidenciais e extremamente sensíveis. Exige, portanto, uma proteção contínua para impedir acessos não autorizados e lutar contra os ataques. Para Atualpa, é preciso entender o contexto da interoperabilidade, que busca promover a integração das plataformas e dos sistemas utilizados na cadeia, sempre com o olhar de segurança.
De acordo com Katia, do Albert Einstein, um dos principais benefícios da interoperabilidade é o acesso mais fácil dos profissionais de saúde às informações, o que otimiza a rotina deles e melhora a experiência de cuidado com o paciente, além de apoiar na tomada de decisões clínicas. Para David, da Hapvida, tão importante quanto a interoperabilidade é a adoção de padrões a serem seguidos, com metodologias e estruturas preparadas, em larga escala, para receber as informações, propiciando a comunicação em diferentes sistemas com segurança.
Para finalizar o painel, Viviane Rico enfatizou a importância de fomentar a inovação dentro das empresas, de forma que as pessoas tenham espaço para compartilhar ideias. “A cultura da inovação deve permear toda a organização”. De acordo com Kátia Andersen, a inovação não poder ser vista como atividade separada, mas deve ser inserida na estratégia organizacional.
Outro ponto alto do dia foi o painel “Quais lições podemos tirar dos primeiros dez anos das healthtechs no Brasil?” que aconteceu no Palco Comunidade Tech e contou com participação de Lasse Koivisto, CEO Prontmed; Fernando Carbonieri, Founder da Wellbe e Academia Médica; Vitor Asseituno, CEO da Sami; e Diogenes Silva, CEO da Anestech, com moderação de Istvan Camargo, Head do Skyhub do Grupo Sabin.
Camargo começou o debate destacando 4 fases pelas quais as healthetchs passaram nos últimos dez anos. Nos primeiros anos, o foco era nos médicos e em ofertas de soluções para suas demandas operacionais (consultas, fichas de pacientes, etc). Em seguida, empreendedores de tecnologia com mais experiência em design de soluções entraram para o setor, trazendo os primeiros investidores. A fase seguinte foi a da pandemia, que potencializou o interesse de grandes empresas por soluções tecnológicas exigidas pela Covid-19, como telemedicina, prescrição eletrônica entre outras, que desencadeou uma onda de investimentos e M&A. A 4ª fase consiste no período pós-pandemia, em que o mercado está muito mais aberto para a inovação.
Os painelistas foram unânimes ao comentar sobre as dificuldades iniciais e a resiliência necessária para que as metas de uma healthtech sejam atingidas. Apesar do conservadorismo da classe médica, todos acreditam que a tecnologia aplicada às diversas áreas da saúde é um caminho sem volta, seja na aplicação de backoffice de hospitais, clínicas, laboratórios e consultórios, seja com soluções para facilitar a jornada dos pacientes.
O painel “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo: 5G, IoTM, wereables e os reais impactos no cuidado cirúrgico”, que aconteceu no palco Inovando o Cuidado, trouxe uma discussão sobre as possibilidades de transformar o cuidado com pacientes com a utilização de tecnologia de ponta, como dispositivos de monitoramento, alertas e lembretes.
Participaram Rodrigo Lopes, diretor da Humana Magna; Rafaela Guerra, diretora de Care Delivery da United Health Group; Guilherme Rabello, head de Inovação do InovaInCor, e Paulo Spaccaquerche, presidente da ABINC.
“Com a utilização de inovação no setor da saúde, podemos concentrar informação de pacientes e dar continuidade no tratamento e no histórico de saúde dos pacientes. É como um médico da família transformado no digital”, explica Rodrigo Lopes.
Os painelistas também reforçaram a importância da adesão do Sistema Único de Saúde (SUS) no projeto de transformação digital da saúde no Brasil. “Hoje, o paciente é separado do seu histórico e isso acarreta gastos desnecessários e um tratamento pontual, que não leva em consideração o indivíduo como um todo. Com a utilização de novas tecnologias, teremos uma melhor visão dos pacientes, reduziremos a ineficácia do uso de recursos, utilizaremos melhor a estrutura de saúde, tanto pública quanto privada e diminuiremos custos”, diz Guilherme Rabello.