
A SOBRASP (Sociedade Brasileira para a Qualidade do Cuidado e Segurança do Paciente) marcou presença na Hospitalar 2025, no dia 21, promovendo conferências inspiradoras. Com o tema “Alta confiabilidade: o valor da liderança em saúde como elemento central para o alcance do ‘Zero Dano Evitável’”, o evento abordou as principais inovações tecnológicas e as novas práticas que estão revolucionando o atendimento médico-hospitalar. Além disso, destacou os desafios e as oportunidades que o futuro da saúde no Brasil reserva.
O encontro proporcionou reflexões essenciais em um cenário atual desafiador, marcado por avanços tecnológicos exponenciais, escassez de recursos e uma crescente complexidade nos ambientes assistenciais. Nesse contexto, a liderança se torna uma força indispensável para orientar práticas seguras, fortalecer a cultura organizacional e garantir a excelência no cuidado e na segurança do paciente. Alcançar o objetivo do zero dano evitável, conforme proposto pela OMS, exige mais do que conhecimento técnico: é preciso coragem, ética, colaboração entre profissionais e a adoção de estratégias inteligentes e sustentáveis.
Ferramentas como as tecnologias digitais e a inteligência artificial, quando integradas com responsabilidade, potencializam a tomada de decisão, promovem a equidade e aprimoram os resultados em saúde. Paola Andreolli, presidente da SOBRASP, reforçou a importância de discutir estratégias e práticas que promovam uma cultura de segurança sólida em todo o sistema de saúde brasileiro. “Não falamos de teorias, mas de teoria efetivamente aplicada à prática. Os temas apresentados ilustram uma liderança que acredita que tudo que aprendemos pode ser aplicado na rotina, trazendo resultados concretos e positivos.”
A combinação dessas ferramentas com o fator humano e uma liderança inspiradora tem o potencial de transformar sistemas inteiros. Como destacou o pneumologista e CEO do Hospital Estadual Sumaré, dr. Maurício Perroud, que lidera há cinco anos um dos melhores hospitais públicos do país: “Desde sua criação, obter a acreditação da ONA nos permitiu modelar o hospital e alcançar sucessos em nossas experiências. Nosso diferencial estratégico é treinar a liderança para a sucessão, acompanhando a rotina diária de cada colaborador. Essa proximidade com a equipe, de forma responsável e com propósitos claros, valoriza cada ação individual, sempre em busca da excelência e da prevenção de riscos.”
Ele ainda acrescenta: “Nosso objetivo é gerar excelência. Trabalhamos para formar pessoas capazes de lidar com situações previsíveis e imprevisíveis. Delegar responsabilidades e estar aberto a ouvir também fazem toda a diferença. A proximidade da liderança, aliada à empatia pelo paciente, que muitas vezes está na situação mais frágil, é fundamental.”
Uma boa liderança, segundo o diretor executivo do Instituto de Oncologia do Vale, dr. Carlos Frederico Pinto, especialmente quando fundamentada na segurança psicológica — construída em ambientes colaborativos, confiantes e responsáveis — faz toda a diferença.
Para o presidente do Conselho Médico da Tabia Tecnologia em Saúde, dr. Jose Antônio Maluf de Carvalho, e para e a enfermeira da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), Marcia Dal Sasso, é importante que a liderança cumpra realmente seu papel de líder, ou seja, ouvindo relatos, que muitas vezes, são falhas nos processos, sem punir ou constranger e proporcionar segurança psicológica e física a toda a equipe. Os palestrantes frisaram sobre a importância de os líderes saberem ouvir, conversar e negociar. Muitas vezes, um relato pode mudar processos positivamente, proporcionando mais qualidade e segurança do paciente.
Inteligência Artificial aliada à segurança do paciente – Na segunda parte do evento, participaram o cardiologista do Hospital Albert Einstein, dr. Leonardo Pinto de Carvalho, o vice-presidente da Galileu, dr. Sérgio Ricardo Santos e o economista da área da saúde, André Médici. Eles destacaram que a inteligência artificial (IA) é uma grande aliada na promoção da segurança do paciente.
Segundo os participantes, a IA tem se mostrado uma ferramenta essencial na prevenção de eventos adversos, na mitigação de riscos, na análise de processos e na intervenção assertiva. Como afirmou o dr. Leonardo Carvalho: “O futuro da saúde está centrado em modelos inteligentes, seguros e personalizados, focados no indivíduo. A combinação de IA, alta confiabilidade e monitoramento contínuo são ferramentas indispensáveis. Automatizar para proteger é o caminho.”
Dr. Sérgio Ricardo reforçou a importância de olhar o paciente de forma holística, destacando a necessidade de prevenir mortes evitáveis. Ele explicou que sistemas de gestão tecnológica podem minimizar esses grandes danos. As instituições precisam atuar de forma coletiva, não resolvendo eventos isolados, mas adotando uma gestão global de pessoas e vidas, criando um verdadeiro ecossistema de cuidado.
Plataformas de monitoramento de assistência, prontuários eletrônicos, biometria, jornadas cirúrgicas e a educação do paciente com conteúdo de aprendizado são exemplos de como a automação com IA tem transformado positivamente a vida dos pacientes e a dinâmica das instituições públicas e privadas. Para ilustrar o impacto, foi mencionado que mais de 1.540 vidas foram salvas nos hospitais graças a esses sistemas.
Ao final do evento, Paola Andreoli destacou a importância desse encontro, reforçando a necessidade de um manifesto que impulsione a velocidade e a urgência na pauta da segurança do paciente. Ela afirmou que temos um caminho conjunto a percorrer para alcançar o objetivo do zero dano evitável.
Manifesto Zero Dano Evitável: De acordo com Paola, o Brasil tem sido impulsionado, há alguns anos, a alcançar patamares mais elevados de segurança do paciente. Muitos sistemas de saúde, mesmo fora do Brasil, têm evidenciado que o nosso ritmo de melhoria no setor ainda é bastante lento, tanto nas instituições públicas quanto nos particulares.
“Para ficar mais claro, por exemplo, vemos os resultados do sistema de saúde inglês que é um dos que possuem iniciativas de qualidade e segurança do paciente há mais tempo. Em 2024, o Imperial College publicou um relatório com os resultados alcançados pelo NHS (Serviços de Saúde Nacional inglês) nos últimos dois anos e demonstrou que, mesmo com todos os esforços realizados nesse período, ainda não conseguiram o alcance das metas propostas, com uma preocupante queda em todas as 12 métricas de segurança avaliadas”, explica Paola.
Essa dificuldade de evolução tem sido percebida mundialmente. “O Brasil tem evoluído bastante desde a implantação do Programa Nacional de Segurança do Paciente, em 2013, mas chegamos a um platô e estamos estacionados. Existem iniciativas isoladas, mas precisamos de um envolvimento maior de todos. Na SOBRASP, temos promovido ações para conscientizar principalmente as lideranças das instituições. Percebemos que muitas dessas lideranças ainda não estão preparadas para tomar decisões com vistas à manutenção da qualidade e da segurança do paciente”, comenta a executiva.
A proposta estratégica da SOBRASP para os próximos dois anos é uma mudança de posicionamento. “Vamos investir no envolvimento e da interlocução com a alta liderança, pois são eles que tomam as decisões que impactam na segurança ou insegurança do paciente”, complementa.
Na Hospitalar, a SOBRASP contou com a participação de algumas entidades que apoiaram esse manifesto, com o objetivo de juntos, propor caminhos que possam levar a melhores resultados.
Governo mais participativo na segurança do paciente – Segundo Paola, dentro dos órgãos governamentais, houve um crescimento importante desde a fundação da agência, em 2013, mas alguns anos passaram sem ações assertivas que trouxessem resultados concretos. “Apesar de iniciativas isoladas, isso não tem sido suficiente. Precisamos de diretrizes e políticas que garantam a segurança do paciente de forma consistente, independentemente da política de cada governo”, afirma Paola.
Paola também destaca que outros países, como Canadá, Austrália e Inglaterra, já estão mais avançados na área de segurança do paciente, justamente por possuírem agências específicas que pautam questões de qualidade e segurança para todo o sistema de saúde. “Esperamos que, em breve, possamos contar com políticas e um sistema de governança que trate desse assunto de forma mais assertiva e eficiente”, conclui.