“Um bom exemplo é o melhor sermão”. Os pais de crianças em idade escolar podem não ter pensado nisso, mas a frase atribuída ao inventor e político Benjamin Franklin tem tudo a ver com o período de férias. O mês tão esperado pelos pequenos pode ser recheado de brincadeiras e preguiça, mas é também uma boa oportunidade de passar mais tempo com os adultos realizando atividades que podem mudar o seu futuro.
De acordo com a psicóloga clínica do Hospital Amaral Carvalho (HAC), em Jaú (SP), Monique Moya, é necessário ocupar o tempo com atividades que a criança queira e sinta prazer em realizar, como brincar, que é fundamental para o seu desenvolvimento, especialmente quando há interação com coleguinhas de idade parecida. “Brincar é tão importante quanto comer, dormir e até ir pra escola. É dessa forma que ela consegue compreender relações sociais e controlar impulsos”, exemplifica.
Mas, como nem tudo é brincadeira, a profissional destaca que é dever dos responsáveis incentivar o bom comportamento da garotada. “As pessoas mais próximas são modelos e exemplos. Se enfatizarmos, desde cedo, alguns valores, como respeito e cidadania, estaremos contribuindo com seu crescimento e uma transformação social”.
A introdução às boas práticas pode começar devagar. “Que tal aproveitar as férias para ensinar sobre desapego de objetos? Passado o Natal, quando costumam ganhar presentes, é interessante motivá-los à doação, por exemplo. Mostre como aquele brinquedo pode fazer outra pessoa feliz, ou que aquela roupa que já não serve mais, pode servir para algum desconhecido”, orienta.
É preciso respeitar o espaço e tempo de cada criança, que são diferentes. “Uma forma de despertar nela o desejo de ajudar ao próximo é ressaltar que a doação não precisa ser material, pode ser uma atitude positiva, como dar atenção aos mais velhos ou participar de campanhas solidárias para ajudar uma entidade”, comenta Monique.
De família
Quando pequena, a jauense Nina Brandão Canal (40) via sua mãe organizar festinhas para as crianças de um abrigo da cidade e isso a fascinava. “As vizinhas preparavam a comida e presentes, e nós íamos brincar com os internos nos eventos, era muito divertido. Ela nunca me obrigou ou disse para fazer algo desse tipo, mas cresci nesse ambiente e foi determinante para ser quem sou hoje”, lembra.
Tão natural como uma brincadeira de criança, o voluntariado se tornou questão de família para a Nina, que se transformou na Dra. Zizi, dos Remédicos do Riso (grupo de palhaços do HAC), há mais de cinco anos.
Inspirada nela, a filha Esther (12) sentiu vontade de trilhar o mesmo caminho e já participa de um grupo infantil, o Ouvidorria Kids, criado há alguns meses, justamente para oferecer a oportunidade do voluntariado aos filhos de membros do Remédicos.
Acompanhados de um adulto, aos domingos, ela e outros jovens de 6 a 15 anos vão a um asilo para cantar, conversar e dar apoio aos idosos. “Me sinto tão feliz. Os velhinhos nos contam histórias, aprendo muito com eles. E sei que quando sorriem, não é só pra nos agradar, mas porque eles também estão felizes”, disse.
Para a Nina, não há realização maior. “Me ver ser voluntária foi motivo suficiente para a Esther querer fazer o bem e ela tem consciência que nós levamos esperança, muitas vezes a quem já não espera muita coisa”, conta emocionada.
A profissional do HAC afirma que ensinar empatia e solidariedade desde a infância contribui com a formação de pessoas mais generosas, que certamente contribuirão com uma sociedade mais humanizada. “Além disso, o ato de doar estimula a autoestima da criança, pois ela se sente importante ao constatar o efeito do seu ato benéfico”, completa.