Demência é a perda progressiva das capacidades cognitivas, como memória, atenção e aprendizagem. Na prática, é um conjunto de sintomas que afetam diretamente a qualidade de vida da pessoa, levando à perda da independência na realização das atividades diárias.
Mais recorrente em idosos, essa condição de perda da função cerebral tem repercussões profundas sobre o indivíduo doente, seus familiares, cuidadores e sociedade. Com prejuízos de ordem física, psicológica e financeira, sua conscientização deve ser encarada como prioridade de saúde pública.
Atualmente, o número de pessoas vivendo com demências no mundo é de aproximadamente 35,6 milhões, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No entanto, à medida em que a população mundial envelhece, espera-se que esse número dobre até 2030 e mais do que triplique em 2050.
Estima-se que, hoje, o custo anual destinado à demência seja de US$ 818 bilhões, o equivalente a mais de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) global. Tal valor inclui custos médicos diretos, assistência social e cuidados informais. Entretanto, com as taxas de natalidade decadentes e os índices de longevidade atingindo níveis cada vez mais altos, esse valor tende a ser cada vez mais significativo.
Dessa forma, países de sociedade mais envelhecida, como Portugal, Reino Unido, França, Alemanha e Noruega, já possuem um Plano Nacional de Demências, que visa ao desenvolvimento, por parte do governo, de estratégias para conter o impacto provocado por elas, bem como ao aumento da conscientização da população.
Para Paulo Bertolucci, chefe do setor de Neurologia do Comportamento e professor titular da disciplina de Neurologia da Escola Paulista de Medicina/Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp), o Brasil já se encontra atrasado nesse processo.
“Organizar um Plano Nacional de Demências para o Brasil trata-se de uma necessidade imediata. Precisamos encarar essa problemática. Caso contrário, iremos vivenciar a falência do sistema público de saúde, pois estamos falando de patologias de longa duração”, afirma Bertolucci.
E acrescenta: “Essas doenças implicam um cuidador, seja um profissional contratado ou um parente que precisou parar de trabalhar. Alguém vai ter que arcar com esses custos”.
No momento, o Plano brasileiro, que teve suas discussões iniciadas em outubro de 2015, durante o 8º Congresso Pan-americano de Alzheimer, no Rio de Janeiro (RJ), ainda está sendo redigido. Leonardo Cruz de Souza, neurologista e coordenador do DC de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da ABN, afirma tratar-se de um debate extenso e complexo que envolve representantes da Academia, da área da saúde, além de outros órgãos de classe, e da sociedade civil.
“A intenção é que seja desenvolvido da maneira mais democrática possível para todos”, explica o neurologista. “Para um Plano Nacional de sucesso, deve ser debatida a formação de recursos humanos e financeiros. Precisamos prever diagnóstico, tratamento, questões jurídicas e adaptação da cidade, entre outros fatores. Além disso, o ideal é que estudantes e residentes de Medicina tenham aulas que contemplem essas pautas desde cedo”, pondera.
Quanto à importância dessa discussão, Cruz de Souza acrescenta: “O número de idosos tem crescido exponencialmente. É primordial que nos preparemos em questões de saúde pública e também financeiras para isso. Temos de aprender a sustentar essa nova economia”.
Jerusa Smid, vice-coordenadora do DC de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da ABN, tem papel fundamental nessa conversa. “Defendemos e esperamos que o Plano Nacional de Demências seja finalizado e implementado no Brasil em breve. Dessa forma, participamos das discussões que envolvem o assunto e promovemos o debate durante congressos e encontros da Academia”, pondera Jerusa. E conclui: “Traçar estratégias de prevenção primária e de atendimento dos casos desde o nível básico até o nível terciário do sistema de saúde é primordial para resultados efetivos do Plano. Assim como medidas de convivência social, acesso facilitado ao tratamento e criação de instituições de longa permanência para pacientes que não têm onde ficar”.