A campanha Sábado sem Câncer, realizada pelo Centro de Oncologia Campinas no dia 12 de novembro, revelou que ao mesmo tempo em que os homens demonstram maior interesse em cuidar da saúde, as suspeitas de câncer de próstata cresceram nos últimos dois anos. Em duas décadas de ações, a edição deste ano foi a de maior nível de adesão. Tanto, que 524 pessoas foram beneficiadas – 24 a mais que o limite, atingido antes mesmo do início dos atendimentos, o que não ocorreu em edições anteriores. Desse total, 51 apresentaram suspeita para câncer de próstata.
No comparativo com a edição anterior do Sábado sem Câncer, organizado em 2020, houve um aumento de 59,3% nas suspeitas de neoplasia de próstata, já que na ação passada chegou a 32 o total de homens encaminhados à investigação da doença – destes, 13 tiveram confirmação e foram tratados.
O exame de sangue de PSA, que mede o nível de uma substância produzida pela próstata – Antígeno Prostático Específico – foi realizado no Sábado sem Câncer juntamente com o exame clínico e o toque retal. Oito pessoas tiveram resultado de PSA acima de 10, ou seja, são altamente suspeitos para câncer de próstata. E, no total, quase 10% apresentaram alterações que necessitarão de investigação – em 2020 foram 6,4%.
O resultado preliminar da campanha surpreendeu o oncologista clínico Fernando Medina, do Centro de Oncologia Campinas, pelo elevado número de suspeitas para a doença. “Tivemos muito mais casos suspeitos do que em 2020. Nesta fase, na campanha passada, tínhamos 32 e agora são 51. A gente esperava que fosse dar menos, porque à medida que fazemos as campanhas, deveria diminuir o número daqueles que têm câncer de próstata e não sabiam”, avalia.
Medina também considera que o aumento de suspeitas esteja interligado à possibilidade de que uma população de maior risco tenha comparecido à campanha deste ano. E a pandemia, diz, pode ter tudo relação com o crescimento, uma vez que a sobrecarga no sistema de saúde e as medidas restritivas para contenção da Covid contribuíram para a redução dos exames preventivos em toda a população.
“Nós entregamos agora cerca de 450 cartas para os que tiveram PSA abaixo de 4, sem risco para o câncer. Quando a gente manda essa carta, falamos que a prevenção é fundamental e que eles devem realizar no ano seguinte novamente o exame preventivo. Obviamente, como não pudemos organizar a campanha no ano passado, em razão do agravamento da pandemia pela variante Ômicron, a falta de continuidade dos exames pode ter agravado a situação”, detalha.
Quanto mais alto o resultado do PSA, maiores os riscos de o homem apresentar uma neoplasia de próstata mais avançada. “Quando o PSA está acima de 10, a chance de a doença ter acometido a próstata e de haver metástase é muito mais alta do que quando o resultado do PSA é menor”, diz Medina.
Outro resultado da ação salientado pelo médico vem dos exames de toque retal: 9% dos 524 atendidos (47 pessoas) tiveram toque retal positivo. Medina reforça que o toque retal positivo não necessariamente indica câncer de próstata, mas o resultado requer investigação aprofundada para diagnóstico.
Perfil socioeconômico
As pessoas atendidas no Sábado sem Câncer preenchem um questionário para definição de perfil socioeconômico e de risco. No formulário, 28% dos homens relataram história familiar para a doença.
“A história familiar é o fator de risco mais importante para o câncer de próstata, além da idade”, observa o idealizador da campanha. A idade mínima dos participantes foi de 36 anos e a máxima, 88, com a mediana de 61. “Ou seja, foi dentro daquilo que a gente esperava, compreendemos o grupo de maior risco baseado na faixa etária”.
Dois outros resultados, observa Medina, indicam que a campanha atingiu o objetivo principal de oferecer prevenção e tratamento para as pessoas em vulnerabilidade social. Avaliação da escolaridade e de convênios: 3% dos atendidos não tinham nenhuma escolaridade e outros 36% cursaram apenas o Ensino Fundamental 1; e somente 9% mantinham algum tipo de convênio médico. “Dados como esses confirmam que o Sábado sem Câncer atingiu o objetivo de levar prevenção aos que têm mais dificuldade de acesso a tratamentos”, reforça.
Do total atendido, 27% eram da raça negra que, segundo o médico, apresenta maior incidência de câncer de próstata e formas mais graves da doença.
Investigação e diagnóstico
Como propõe o Sábado sem Câncer desde sua criação, os casos considerados suspeitos agora darão seguimento à investigação para diagnóstico. E todos os que tiverem resultado positivo serão tratados gratuitamente. Os cuidados completos ofertados são possíveis graças à união de esforços de diferentes apoiadores que participam da campanha.
O Sábado sem Câncer é realizado pelo Centro de Oncologia Campinas, em parceria com a Boehringer Ingelheim; Fundação Centro Médico de Campinas; Inservice Facilities; Irmandade de Misericórdia de Campinas – Santa Casa Campinas e Hospital Irmãos Penteado; Janssen; MRV; Multipat; Próton Diagnósticos; Radiologia Clínica de Campinas (RCC) e Ramos Medicina Diagnóstica.
Todos os 51 homens que apresentaram suspeita para a doença já foram notificados e orientados para os próximos passos, que incluem, primeiramente, a realização de novos exames de PSA e também de PSA livre. “Com esses dois dados conseguimos determinar a densidade de PSA. Aqueles que apresentam densidade mais alta, acima de 18, provavelmente não têm câncer de próstata, já os que têm abaixo de 18, são suspeitos. Assim, esses homens com suspeita serão encaminhados à ressonância magnética e, se positivo, à biópsia”, confirma Fernando Medina.
Os casos suspeitos a partir do resultado da densidade de PSA realizarão a ressonância mutiparamétrica, que permite observar parâmetros como anatomia e morfologia da próstata, assim como celularidade e vascularização. “É um exame um pouco mais aprofundado. Ele apresenta o resultado em PI-RADS, que é usado como uma classificação para a probabilidade de uma lesão vista em uma ressonância de próstata”, define o oncologista. PI-RADS 4 e 5 serão indicativos da necessidade de biópsia, porque significam que o risco de ter câncer próstata é muito alto.
A última etapa de investigação é a biópsia, que determinará qual o tipo de tratamento recomendado. Há dois caminhos, que dependem do tumor, do estágio de evolução e da idade e estado de saúde do paciente: a cirurgia ou a radioterapia.
“Os homens mais jovens, que têm entre 50 e 55 anos e apresentam uma doença mais localizada, de baixo risco, serão encaminhados à cirurgia, porque para eles a resposta é melhor e o risco cirúrgico é menor. Aqueles pacientes mais velhos ou com comorbidades realizarão radioterapia. O tratamento dependerá de cada situação. É importante afirmar, contudo, que tanto a cirurgia quanto a radioterapia apresentam índice de cura semelhante”, garante Fernando Medina.
Sábado sem Câncer
O Sábado sem Câncer é um mutirão que reúne diferentes serviços de saúde e apoiadores para diagnosticar e tratar o câncer de próstata. É uma ação gratuita, que integra o Novembro Azul, movimento de prevenção e conscientização sobre o câncer de próstata.
Perto de 100 voluntários, entre profissionais da saúde, médicos e pessoal de apoio, trabalham no Sábado sem Câncer para cumprir a meta de realizar 500 atendimentos até se esgotarem as vagas. Não é necessária inscrição prévia. Os atendimentos são por ordem de chegada. Todo ano, os parceiros pedem a doação de alimentos não-perecíveis. No dia 1 de dezembro, o Centro de Oncologia entregou mais de 400kg de alimentos obtidos na campanha ao Natal sem Fome da Prefeitura de Campinas.