INCA estimou 556 mil novos casos de câncer de pele entre 2020 e 2022, mas total de diagnósticos até agora não chega a 100 mil

Dezembro anuncia a chegada do verão, férias escolares e, após dois anos de medidas preventivas contra a Covid-19, a retomada da vida lá fora. Mas também é um período para alertar sobre os cuidados contra o câncer de pele. Se a importância da prevenção assumiu o protagonismo nos anos anteriores, em 2021 a urgência recai na busca pelo diagnóstico. Entre janeiro de 2020 e outubro de 2021, foram realizados pouco mais de 99.600 diagnósticos de câncer de pele, independentemente do tipo, em todo o país.1 Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), a estimativa de novos casos esperados para o triênio 2020-2022 é de 185.380 para cada ano, totalizando 556.140 novos diagnósticos, entre os diversos tipos de câncer de pele (melanoma e não melanoma), no período de 3 anos.2 Isso significa que entre o início de 2020 até outubro desse ano, o número de diagnósticos de câncer de pele foi cinco vezes menor do que a incidência da doença. O medo de se contaminar com a Covid-19, a falta de conhecimento e até a desvalorização de pintas e sinais suspeitos estão entre os principais motivos para tamanho atraso.

“Embora o Brasil seja um país ensolarado a maior parte do ano, a população, principalmente aqueles que vivem longe do litoral, pouco adere ao uso do protetor solar nas regiões do corpo expostas ao sol no dia a dia. O hábito de examinar a pele para acompanhar o surgimento e evolução de pintas e sinais suspeitos também é pouco difundido, sendo que nem sempre esse motivo leva o brasileiro ao consultório do dermatologista”, conta Reinaldo Tovo, Coordenador do Núcleo de Dermatologia do Hospital Sírio-Libanês.

Segundo o especialista, o cenário nunca foi favorável. Prova disso é que embora o câncer de pele seja de fácil prevenção, o tipo não melanoma é a neoplasia mais frequente entre homens e mulheres em todo o mundo.3 “O grande problema é que a pandemia de Covid-19 impactou a nossa saúde de forma ampla, causando o abandono de hábitos que podem contribuir com a prevenção da doença. Deixar de usar o protetor solar, pois as pessoas estavam em casa e achavam que não eram suscetíveis à radiação UV, é uma das medidas abandonadas. Outro exemplo é o aumento da exposição ao sol com o objetivo de metabolizar a vitamina D, mas nem sempre se atentando às recomendações de horário. E o mais assustador, o brasileiro deixou de buscar diagnóstico”. Comparando o número de pedidos de biópsias para detecção do câncer de pele feitos em 2019, período anterior a chegada da Covid-19 ao Brasil, e em 2020, primeiro ano da pandemia, houve uma diminuição de 48%, segundo apuração da Sociedade Brasileira de Dermatologia.4

Diagnóstico precoce: por que é tão importante?

O câncer de pele é um conjunto de doenças dividido entre os tipos melanoma e não melanoma. Embora o segundo tipo corresponda a 30% de todos os tumores malignos registrados no país, a doença costuma ser branda e evoluir de forma lenta. No entanto, o melanoma é considerado grave em função do alto risco de metástases, ou seja, o espalhamento do câncer para outros órgãos, o que pode agravar muito o quadro geral do paciente, além de impactar na qualidade de vida do indivíduo.5 “Sem buscar por ajuda de um especialista, o paciente não consegue saber se a lesão indica um câncer e muito menos o tipo. Aquela pinta estranha que ele viu, mas não deu atenção, pode sim ser um câncer agressivo”, conta o oncologista clínico da instituição, Rodrigo Munhoz. “Quanto mais tempo o paciente leva para ter essa definição, mais restritas e difíceis se tornam as opções de tratamento, comprometendo diretamente no tempo e qualidade de vida. Vale sempre reforçar, o câncer de pele é altamente curável, desde que diagnosticado precocemente. Mesmo o diagnóstico dos tipos não melanoma é essencial para remoção da lesão e monitoramento com o objetivo de evitar o retorno do câncer”, completa.

Se o objetivo hoje fosse diagnosticar o número total de novos casos esperados pelo INCA para o triênio, seria preciso diagnosticar 63 pacientes por hora, ininterruptamente, nos 365 dias do ano que se aproxima. Uma missão muito difícil. Todavia, é preciso conscientizar para que a população aproveite a retomada das atividades e busque um especialista, relembre os cuidados com a pele, principalmente em função do verão. “O primeiro passo pode ser evitar se expor ao sol entre 10h e 16h; usar proteção adequada, como roupas, chapéus, óculos e até sombrinhas que protejam contra a radiação ultravioleta; outra forma de se prevenir é sempre aplicar protetor solar nas regiões do corpo expostas, lembrando que o produto deve ter um fator de proteção 15, no mínimo. Em segundo lugar, faça uma avaliação em casa, com a ajuda de um familiar, para ver se a pele tem pintas, sinais, lesões que surgiram recentemente, ou mudaram de aspecto, tem mais de uma cor, bordas irregulares, coçam, doem ou se parecem com feridas que não cicatrizam. Crie o hábito de fazer isso uma vez ao mês e em caso de dúvida, procure o seu médico”, reforça Marina Sahade, oncologista clínica do Hospital Sírio-Libanês.

Estudo em parceria com o Sírio-Libanês Ensino e Pesquisa abre caminhos para desenvolvimento de tratamentos mais cômodos e seguros

No último mês, um estudo coordenado pela UFMG e desenvolvido em parceria com o Sírio-Libanês Ensino e Pesquisa, Universidade de São Paulo, Universidades Federal do Oeste da Bahia, Universidade Federal de Goiás e instituições internacionais, abriu novas possibilidades para o tratamento do câncer de pele melanoma. Segundo o pesquisador participante Pedro Galante, o grupo analisou que a super ativação de neurônios sensoriais presentes nos tumores leva a uma redução no avanço da doença.6 “Para chegar até esse achado, o estudo contou com outros dois grupos de cobaias. Um deles passou pela desativação de tais células, o que provocou um maior avanço da doença. Enquanto o terceiro, chamado de grupo controle, não teve os neurônios superativados por meio da aplicação de drogas e modificações genéticas, e não passou pela desativação. Ou seja, o curso da doença ocorreu de forma natural, com a progressão esperada”, explica.

Embora seja necessário continuar testes e avaliações, o estudo mostra que tal conduta pode oferecer uma nova linha de tratamento ou contribuir de forma adjacente a tratamentos já amplamente utilizados, mas com o benefício de diminuir dosagem e tempo, o que pode ser decisivo em casos em que o paciente tem dificuldade para tolerar a toxicidade da medicação, tendo a qualidade de vida muito prejudicada durante e após essa etapa.6

Referências:

Redação

Redação

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.