Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, no Brasil, uma a cada três crianças, de até 12 anos, está acima do peso. Um estudo do ministério da Saúde, de 2019, aponta que o índice de sobrepeso em crianças é de 16,33%, obesidade 9,30% e obesidade grave em 5,22%. Em adolescentes, 18% de sobrepeso, 9,53% de obesidade e 3,90% de obesidade grave.
Para o ortopedista pediátrico David Nordon, que também é professor da disciplina de Saúde Pública da PUC-SP (Campus Sorocaba), a obesidade infantil é um problema de saúde pública grave que não se restringe apenas aos riscos cardiovasculares. “Do ponto de vista ortopédico, o excesso de peso em crianças em fase de desenvolvimento pode provocar doenças específicas, deformidades e complicações acima do esperado para a faixa etária.”
O médico ainda relata que a obesidade triplicou na última década e muito se deve a má alimentação, sedentarismo e também a hereditariedade. “Crianças obesas se tornarão adultos obesos quase que inevitavelmente. No entanto, ainda, é considerado gracioso uma bebê ou uma criança pequena gordinha. Pouco de fala que o excesso de peso nessas fases é prejudicial ao desenvolvimento ósseo, por exemplo. A densidade mineral óssea diminuída nessas crianças, quando ajustada ao peso, há maior probabilidade de deformidades. O geno valgo – joelho em X – e os pés planos são as mais comuns. Elas também estão mais sujeitas às fraturas, apresentam 1,25 vezes mais chances de traumas de extremidades, 1,43 vezes mais chances de lesões de tórax. Ao mesmo tempo, a mortalidade de crianças obesas é significativamente mais alta do que de crianças não obesas (4,7% X 2,8%), na ocorrência de traumas”, explica.
“Algumas complicações ortopédicas como a epifisiolistese – caracterizada pelo deslocamento do colo do fêmur em relação à epífise femoral, que é o escorregamento da cabeça do fêmur na bacia, acredita-se, que seja mais comum em obesos. Estudos apontam que 81% dos casos são em crianças com sobrepeso, e o risco de doença bilateral também é maior. Percebe-se o aumento dessa condição em consonância com o aumento da obesidade nas faixas etárias acometidas. Elas ainda terão mais dificuldade com a marcha: apresentam menor velocidade, menos tempo no apoio monopodálico, gastam mais energia e provocam maior pressão no antepé, em comparação com crianças de peso normal. O passo é mais longo, com uma maior base de apoio, como uma estratégia para ganho de estabilidade. Elas apresentam, também, uma menor flexão dos quadris e joelhos, quando caminham em uma velocidade determinada por si mesmas, o que pode se relacionar a um quadríceps contraturado e a diminuição da amplitude de movimentos do quadril e joelho”, conta o médico.
“É responsabilidade dos pais, médicos e entidades de saúde, sejam públicas ou privadas, alertar para a série de riscos causados pela obesidade, incluindo o de desenvolvimento estrutural, para essas crianças. A obesidade infantil causa comprometimentos e dificuldades, seja para o tratamento conservador, seja para o acesso durante tratamento cirúrgico, para o risco de infecções, ou até mesmo risco anestésico. A longo prazo, a sobrecarga articular e o desalinhamento levarão, invariavelmente, a dores e desgaste precoce”, finaliza Nordon.