Agosto Laranja: Mês da conscientização sobre Esclerose Múltipla, neurologistas e pacientes falam sobre eficácia de cannabis medicinal

Cerca de 40 mil pessoas, a maioria de jovens adultos, entre 20 e 40 anos, são acometidas pela esclerose múltipla (EM) no Brasil. O Agosto Laranja, mês dedicado à conscientização sobre a doença, foi criado pela organização não governamental Amigos Múltiplos pela Esclerose (AME) como forma de alertar para a importância de diagnósticos precoces da doença, informações sobre tratamentos e combater o preconceito contra pacientes e tratamentos à base de cannabis medicinal, produto que tem mostrado sua eficácia para sintomas graves da EM, como dores crônicas, espasticidade, insônia e fadiga intensa.

“Tratar preventivamente estes pacientes é a única forma conhecida de impedir progressão de doença e acúmulo de incapacidade”, destaca Dr. Gutemberg Santos, neurologista e especialista em EM. O médico explica que se trata de uma doença autoimune, inflamatória e neurodegenerativa do sistema nervoso central. “Já existe um importante arsenal para ser utilizado preventivamente, mas um seguimento multidisciplinar, com foco na qualidade de vida deles, é indispensável. Os fitocanabinoides têm sido amplamente discutidos nesse contexto, inclusive com estudos pré-clínicos mostrando o possível papel deles no controle da doença”, diz o neurologista.

Bruna Rocha Silveira, hoje com 36 anos, foi diagnosticada em 2000 com EM. Vice-presidenta da AME, ela é casada com Jaime Fernando dos Santos Jr, que também convive com esclerose múltipla. Os dois utilizam formulações de CBD e THC da Health Meds. “Comecei o tratamento a três meses com bons ganhos para controle de insônia e, consequentemente, melhora no sintoma de fadiga. Já meu marido, faz uso para controle do sintoma de espasticidade (distúrbio frequente nas lesões congênitas ou adquiridas do sistema nervoso central). Diferente dos óleos artesanais, onde não há controle sobre as dosagens de CBD (canabidiol) e THC (Tetrahidrocanabinol ), os fitofármacos têm um processo tecnológico com controle e análise criteriosa de substâncias, fruto de muita pesquisa. Nós, pessoas com EM, precisamos de tratamentos com continuidade para obter bons resultados. Por isso, uma das lutas da AME é o amplo acesso de produtos à base de cannabis a todos os pacientes por meio de sistemas de saúde”, relata Bruna.

Dr. Gabriel Micheli, neurologista e gerente médico da Health Meds, reitera que os produtos à base de CBD e o THC já são comprovadamente eficazes no tratamento da dor e das espasticidades associadas à esclerose múltipla, assim como fadiga, insônia e problemas urinários. “Todas as pesquisas realizadas em outros países e no Brasil, comprovam resultados efetivos. Atualmente, temos uma linha de pesquisa com foco em EM para avaliar a eficácia das nossas formulações com combinações diferentes de CBD e THC, e também com canabigerol”, relata com otimismo.

“A próxima fronteira é estudar a eficácia dos derivados da cannabis no tratamento da própria esclerose múltipla, no que tange o manejo da neuroinflamação, característica da doença. Já existem diversos estudos pré-clínicos muito promissores que apontam o CBG, o canabigerol, como potencial substância no tratamento de doenças inflamatórias, tais como a esclerose múltipla”, anima-se Dr. Gabriel.

Entenda a Cannabis Medicinal

A cannabis medicinal possui mais de 480 substâncias químicas, sendo que 150 destes compostos, denominados fitocanabinoides, são os mais estudados, com o THC (Tetrahidrocanabinol), o CBD (Canabidiol) e o CBG (Canabigerol). Eles são capazes de ativar receptores canabinoides (CB1 e CB2) em diversos tecidos dos nervos periféricos, Sistema Nervoso Central (SNC) e sistema imunológico. Esse funcionamento complexo é responsável por uma série de funções fisiológicas, incluindo a memória, o humor, o controle motor, o comportamento alimentar, o sono, a imunidade e a dor.

Com base em estudos variados em fase II, fase III ou observacionais, as principais indicações para o uso de produtos de cannabis são ansiedade, demência com agitação, distúrbios do sono secundários a doença neurológica, doença de Parkinson (sintomas não-motores), dor crônica, epilepsia farmacorresistente, esclerose múltipla (sintomas urinários, dores, espasticidade), esquizofrenia, síndrome de estresse pós-traumático e Síndrome de Tourette.

Redação

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