Geralmente, desejamos uma “boa noite” ao nos despedirmos de alguém, antes de dormir. Mas você já parou para pensar no quanto ter uma boa noite de sono é importante? E consegue avaliar se tem dormido bem? Parece algo banal, mas a qualidade do sono é muito importante para as pessoas, de todas as faixas etárias. A Academia Americana de Medicina do Sono (AASM) recomenda que os adultos durmam sete ou mais horas por noite, regularmente, para promover a saúde ideal.
O Dr. Rafael Malinsky, Otorrinolaringologista e Médico do Sono do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Moinhos de Vento, lembra que, considerando oito horas de sono diário, passamos um terço do nosso dia e de nossa vida dormindo. “O sono é um carregador de baterias, e é durante o sono que uma série de funções fisiológicas e hormonais são estabelecidas e reguladas, imprescindíveis para as nossas células e todo o nosso organismo”, ressalta. Durante o período de repouso ocorre a fixação do que aprendemos, conhecemos e a fixação da memória.
Entretanto, nem todos têm o privilégio de ter uma noite tranquila e revigorante. Estudos sugerem que há mais de 80 tipos de distúrbios do sono. Os mais comuns são o ronco e a apneia obstrutiva do sono.
O que é o ronco?
De acordo com o Ministério da Saúde (MS), o ronco é o som causado pela vibração dos tecidos da faringe quando o ar passa por essa região. A explicação básica é que, ao dormir, há um relaxamento natural dessa musculatura, que pode vibrar com a passagem do ar. Indivíduos com sobrepeso, dificuldades respiratórias (rinite, sinusite, desvio de septo nasal, adenoides e amídalas grandes, por exemplo), refluxo gastroesofágico, tabagismo e com problemas na arcada dentária têm maior probabilidade de desenvolvê-lo. Além disso, consumir bebidas alcoólicas e dormir com a barriga para cima também podem facilitar o ruído.
Todavia, ele não é apenas um barulho inocente e indesejado. Conforme o Dr. Rafael Malinsky, o ronco pode causar, principalmente, distúrbios cardiovasculares, como hipertensão e arritmia. Também pode desencadear outros problemas clínicos e doenças associadas, como a diabetes mellitus e o aumento do risco de Acidente Vascular Cerebral (AVC). “A privação do sono e o sono não reparador também prejudicam a noite do parceiro, causando irritação, dificuldade laboral e sonolência diurna ao paciente”, observa.
Riscos de acidentes
Um artigo da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF), que alerta sobre os riscos à saúde causados por noites mal dormidas, destaca a gravidade desse cenário. O texto indica que a falta de um sono reparador pode ter diferentes causas, como ronco, apneia, insônia, distúrbios do movimento (Síndrome das pernas inquietas e bruxismo), entre outras. Como consequência, a ABORL-CCF diz que “surgem indisposição, fadiga crônica, sonolência excessiva, prejudicando a pessoa em seu cotidiano e colocando-a em risco de acidentes dos mais variados tipos”. O conteúdo revela, ainda, que a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) e o Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN) estimam que grande parte dos acidentes de trânsito são causados, justamente, por condições físicas do motorista, associadas a distúrbios do sono.
O que mais o ronco pode causar?
O Ministério da Saúde adverte que o ronco pode ser o sinal de um problema ainda mais grave: a apneia obstrutiva do sono (SAOS), fator de risco importante para doenças cardiovasculares e AVC, como adiantou o Dr. Malinsky. Esta doença é caracterizada pela obstrução do ar na via aérea superior por um período acima de 10 segundos, levando a uma parada respiratória durante o sono. Dura, em média, 20 segundos, entretanto, pode chegar a dois minutos e acontecer diversas vezes durante a noite, causando um sono fragmentado e agitado para o indivíduo e muita angústia para quem o acompanha. O MS acrescenta que a apneia é mais comum em homens e acomete cerca de 5% da população geral, sendo 30% em indivíduos acima dos 50 anos de idade.
Números nacionais
Entretanto, uma pesquisa on-line publicada pela Revista Científica Elsevier demonstra que os “problemas noturnos” podem ter uma abrangência ainda maior. O estudo, realizado com 2.635 brasileiros, em todas as regiões do país, comprovou que os distúrbios do sono, no geral, atingiam 65,5% dos entrevistados. Entre eles, 52,5% relataram que dividiam a cama com alguém e outros 34,6% admitiram que tinham insônia. Entre as conclusões, o estudo confirmou que a má qualidade do sono era prevalente na população brasileira. A maioria jovem, com menos de 55 anos e do sexo feminino. Entre as principais causas, o uso excessivo de smartphones e outras mídias interativas.
Como tratar o problema do sono?
Muitos são os motivos para uma noite ruim. Se o problema for o ronco, saiba que não há um remédio específico para eliminá-lo. Mas o Dr. Rafael Malinsky enfatiza que existem algumas medicações que podem auxiliar, por exemplo, na indução do sono em pacientes com insônia e que novos estudos estão surgindo para tratar da apneia. “Além disso, temos muitas opções para contribuir com a diminuição do ronco, como tratamentos clínico, com fonoterapia e fisioterapia postural, para o fortalecimento da musculatura. Em casos extremos, ou quando temos alterações anatômicas na via aérea superior, podem ser indicadas cirurgias da orofaringe ou o uso do aparelho intraoral e, em alguns casos, a própria mudança de hábitos de vida do paciente podem ajudá-lo”, elucida o especialista.
A que profissional recorrer?
Caso você sofra com roncos (ou venha incomodando o seu parceiro sem perceber), procure por médicos otorrinolaringologistas e pneumologistas para fazer uma consulta inicial. “Na investigação e tratamento, muitas vezes necessitamos de um grupo multidisciplinar, com cirurgião dentista, fonoaudiólogo e fisioterapeuta, para o melhor manejo dos pacientes”, esclarece.
Atualmente, a individualização do tratamento e a identificação dos fenótipos de cada indivíduo é fundamental. “A gente procura identificar qual é o principal problema que pode estar levando ao ronco para melhor tratá-lo, pois hoje percebemos que não existe um tratamento único para todos os pacientes”, considera o otorrinolaringologista.
Orientações preliminares
Enquanto isso, veja abaixo algumas dicas do Ministério da Saúde que podem contribuir para melhorar o seu sono:
– Procure dormir de lado, utilizando colchão e travesseiro adequados;
– Busque ajuda especializada, de médico ou dentista, e siga suas orientações em caso de obstrução nasal, rinite, alergia, refluxo gastroesofágico, bruxismo (ranger de dentes noturno), etc.;
– Conserve o peso adequado;
– Evite o tabagismo e o consumo de bebidas alcoólicas;
– Mantenha a pressão sanguínea em níveis adequados;
– Pratique atividades físicas regularmente.