Há um tema ainda pouco falado na comunidade médica, por envolver dor, luto e emoções complexas. Este sábado, dia 15 de outubro, é lembrado o Dia Internacional da Conscientização da Perda Gestacional ou do Recém-Nascido. O abortamento espontâneo é mais comum do que se pensa: ele acomete cerca de 15% das gravidezes. E a taxa de mortalidade neonatal no Brasil também é alta: cerca de 13,2 por mil nascidos vivos, segundo dados do Ministério da Saúde. A maior parte dos óbitos neonatais ocorre no período precoce, do nascimento ao sexto dia de vida, e cerca de um quarto dos óbitos ocorre no primeiro dia após o parto.
A complexidade com relação a esse tema são as diferentes situações que podem levar à perda gestacional ou do recém-nascido. Existe o abortamento, que é a morte do bebê até 20 semanas de gestação, com menos de 500 gramas ou estatura menor que 25 centímetros. Já o nascido morto significa a despedida do bebê após 20 semanas de gestação, com peso acima de 500g e tamanho maior que 25cm. Por fim, o óbito neonatal é a perda após o nascimento e antes dos 28 dias de vida.
Independentemente da forma, o luto é um processo que envolve perda de expectativas, idealizações e planejamentos, e tudo isso é intensificado quando se trata de um filho, rompendo a ordem cronológica da morte. Segundo a psicóloga Isabella Thomé, do Hospital e Maternidade Pro Matre Paulista, é comum haver perda de interesse pelo mundo externo, incapacidade de investir afeto em outra pessoa ou outra coisa por um tempo. “Para a mãe, o pai e toda a dinâmica da família, a perda de um bebê causa uma crise e uma desestruturação. Quando ocorre a perda gestacional, o agravante é por conta de os pais não terem memórias de seu bebê, o que prejudica o processo de luto, no qual as lembranças são importantes”, completa a especialista.
A Pro Matre Paulista é referência em cuidados com famílias que passaram por uma perda neonatal e está sempre atenta aos processos para acolher esses pacientes desde a entrada no Pronto Atendimento, onde já é encaminhada para um andar com quartos reservados, sem contato com outras gestantes, e conta com sinalização para toda equipe multidisciplinar no tratamento com essas mulheres, amigos e familiares – por serem fundamentais para o conforto, para reduzir a sensação de desamparo e ajudar na saúde mental dos pais. É possível, ainda, pedir à equipe do hospital ajuda para fazer uma caixinha de memórias, guardando lembranças do bebê, como as marcas de seus pés e mãos ou uma mecha de cabelo, ou mesmo para realizar rituais e cerimônias de despedida – que ajudam a família a concretizar o luto ao enfrentar a dor de forma coletiva.
Depois de uma experiência traumática como essa, engravidar de novo pode envolver alegria e esperança, mas também pode gerar medo e ansiedade. “A mulher sente um misto de emoções: ora otimista, ora cautelosa. Também pode vir o sentimento de culpa, como se estivesse esquecendo o bebê que perdeu. O autocuidado é fundamental, fazer caminhadas, massagens, meditação ou apenas manter-se ocupada fazendo o que gosta. A mulher precisa aproveitar os dias em que está se sentindo positiva e feliz para amenizar o processo”, afirma a psicóloga. “É essencial escolher amigos e familiares com quem se possa conversar sobre os sentimentos e, claro, contar com um serviço de psicologia profissional”, comenta a psicóloga.
Para contribuir com o processo de todos envolvidos, a Pro Matre também elaborou um e-book com explicações e orientações sobre Perda Gestacional, que pode ser consultado no site do hospital (www.promatre.com.br/wp-content/uploads/2022/08/PMP-E-book-Perda-Gestacional-V02.pdf).