O Grupo Oncoclínicas, instituição de tratamento oncológico, anunciou na segunda-feira (17) mais um importante marco no desenvolvimento de novos tratamentos no combate ao câncer: a chegada do médico hematologista Renato Cunha para liderar um programa voltado à implementação do CAR-T, terapia genética que é considerada o maior avanço global em métodos de tratamento de cânceres hematológicos.
Formado em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia (2004), Renato liderou a equipe clínica responsável pelo primeiro tratamento bem sucedido baseado nessa modalidade de terapia celular realizado na América Latina. A técnica foi implementada no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HC-FMRP-USP) para tratar um paciente com linfoma não Hodgkin de células B, cujo resultado positivo foi anunciado em 2019. Entre os diversos outros feitos de sua carreira como médico e pesquisador, em 2021 também coordenou o Consenso Brasileiro para Células Geneticamente Modificadas pela Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (ABHH) e foi o primeiro brasileiro a receber em 2018 o prêmio ASH Global Research Award, importante iniciativa da American Society of Hematology, que fomenta o desenvolvimento de novos pesquisadores.
Agora, Renato Cunha chega ao Grupo Oncoclínicas com a missão de liderar o programa nacional em terapia celular, englobando o tratamento com células CAR-T. “O Grupo conta com inúmeros experientes hematologistas e de referência em formação técnica, que agora passam a integrar um programa nacional de desenvolvimento e implementação da terapia celular CAR-T. Com DNA inovador, o Grupo Oncoclínicas investe constantemente em novas tecnologias, como esta, se posicionando na vanguarda do tratamento de pacientes onco-hematológicos”, explica.
No Brasil existem poucos centros credenciados para realizar as etapas que envolvem esse procedimento. O Grupo Oncoclínicas faz parte dessa seleta lista dos que já possuem o respaldo para realizar o procedimento no país. Segundo Renato, o desenvolvimento dessa nova frente de atuação demandou uma profunda atuação com centros de referência e especialistas no Brasil e exterior:
“Para estar apto a incluir o CAR-T na sua linha de cuidados oncológicos, o Grupo Oncoclínicas passou os últimos anos em um intenso processo de estruturação. Para isso, houve ainda o apoio do Dana-Farber Cancer Institute, da Harvard Medical School – referência global no tratamento do câncer e com o qual contamos com uma parceria exclusiva para a América Latina. Assim foram somadas expertises nesse processo de aprimoramento, tanto das áreas físicas como da estruturação das práticas para realização das etapas que envolvem esse tipo de tratamento, criando um centro completo e altamente qualificado para atendermos aqueles que forem elegíveis à terapia com células CAR-T”, frisa Renato.
O que é a terapia CAR-T
A terapia gênica baseada em células T de receptores de antígenos quiméricos (do acrônimo em inglês CAR) deu origem ao nome CAR-T. Ela consiste em usar células do próprio paciente e geneticamente modificá-las em laboratório para combater o câncer. Desta forma, se tornou possível habilitar células de defesa do corpo com receptores capazes de reconhecer o tumor e atacá-lo de forma contínua e específica.
“Essa opção para combate a tipos específicos de tumores hematológicos conquistou popularidade no Brasil na segunda metade de 2019, quando a equipe da qual fiz parte obteve resultados positivos no tratamento do paciente considerado o primeiro da América Latina a alcançar a remissão da doença com uso de tecnologia CAR-T. De lá para cá, outros avanços consolidaram as descobertas relativas à eficácia da terapêutica no controle de diferentes tumores hematológicos”, comenta Renato.
Como funciona?
A terapia celular CAR-T é feita com células do sistema de defesa do organismo, especificamente os linfócitos T, que circulam no sangue. Eles são colhidos por meio de um processo de separação semelhante à hemodiálise, chamado aférese, são congeladas e enviadas a um laboratório de altíssima tecnologia para manufatura do produto final.
Após a coleta de sangue dos pacientes, os especialistas isolam um tipo de leucócito (célula de defesa) conhecido como linfócito T, que é um dos principais responsáveis pela defesa do organismo. Essa célula é capaz de reconhecer antígenos de agentes infecciosos ou de tumores e desencadear mecanismos que provocam a morte da célula alvo, defendendo o organismo. Para a construção do receptor quimérico (CAR) um vetor viral é usado como auxiliar (um vírus cujo material genético é alterado em laboratório) e introduzido no linfócito T extraído, que passa a reconhecer o antígeno específico do câncer e o ataca. É uma combinação que envolve terapia gênica, imunoterapia e terapia celular para gerar uma medicação personalizada para cada paciente.
Os leucócitos reprogramados são então multiplicados em laboratório e, depois, infundidos no paciente. Em resumo, explica Renato, as células do organismo são expostas a um vetor viral que não causa doença, mas funciona como um mensageiro que leva as informações necessárias para que passem a fabricar receptores de antígenos específicos que vão reagir contra as células do tumor. “De forma simplificada, as células geneticamente modificadas adquirem a capacidade de identificar e destruir as células cancerígenas, descobrindo onde estão os ‘inimigos’ que estavam enganando os mecanismos de resistência do sistema de defesa do paciente”, explica o líder de Car-T do Grupo Oncoclínicas.
Para quem é indicada?
Os pacientes que podem receber essa terapia são aqueles que não têm possibilidade curativa mais com quimioterapia e radioterapia e que, em geral, recaíram após o transplante de medula óssea.
De acordo com Renato, a estratégia usada no tratamento abre frentes para uso não só em tumores hematológicos, como leucemia, linfoma e mieloma, podendo possivelmente ser no futuro usada para qualquer tipo de câncer. “A metodologia já conta com pesquisas voltadas a protocolos para leucemia linfoide aguda, mieloma e outros tipos de linfomas. Há expectativas de que em um futuro próximo seja possível o uso de células CAR-T em tumores sólidos, como é o caso do câncer de pâncreas, que já está em discussão”, pontua.
Ele lembra que o acompanhamento médico especializado é outro ponto essencial do processo. “A equipe médica e assistencial deve ter experiência com a técnica e monitorar o paciente continuamente. Além disso, todo o tratamento deve ser realizado em centros de saúde altamente especializados”, finaliza Renato Cunha.