“Em um exame de Papanicolau, o médico suspeitou que algo estava errado. Havia um pequeno sangramento no colo do meu útero, imperceptível no dia a dia. Realizei outros testes, que confirmaram o câncer”, conta a analista de marketing Luciana Garcia de Sousa Gouvêa, de 50 anos.
A doença é tema da campanha Janeiro Verde, cujo objetivo é a conscientização, já que, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), no Brasil, é o terceiro câncer mais frequente em mulheres. Em 2023, a entidade estima 17 mil novos diagnósticos: em torno de 13,25 casos a cada 100 mil mulheres.
Fernanda Proa, oncologista do Vera Cruz Hospital, de Campinas (SP), explica que a patologia é uma proliferação anormal de células que se desenvolve na parte mais inferior do órgão, na região do fundo vaginal. “A infecção é causada pelo papilomavírus humano, mais conhecido como HPV, que é altamente contagioso e pode ser contraído após uma única exposição. Existem mais de 40 tipos de HPV de mucosa genital e cerca de 15% são oncogênicos, ou seja, podem levar ao desenvolvimento do câncer”, esclarece.
A contaminação pode atingir tanto homens quanto mulheres e, na maioria das vezes, não apresenta sintomas. Em alguns casos, segundo Fernanda, pode ficar latente de meses a anos, sem se manifestar. Apesar do contágio do HPV ser extremamente comum, poucos casos se transformam em câncer. “A maioria das infecções em mulheres é solucionada pelo próprio organismo, em um período aproximado de 24 meses, e estima-se que cerca de 70% a 80% dos adultos sexualmente ativos contraiam HPV antes dos 50 anos. A maioria das infecções é transitória, e o vírus sozinho não é suficiente para causar o câncer. Quando a infecção persiste, o tempo estimado para a infecção levar a uma lesão pré-cancerígena é de cerca de 15 anos”, detalha.
Ao longo dos anos, entretanto, o câncer de colo de útero pode apresentar sintomas, que, segundo Carlos Eduardo Godoy Júnior, oncoginecologista do Vera Cruz Hospital, são facilmente confundidos com outro distúrbio. “A paciente pode ter sangramento vaginal irregular, corrimento anormal, sangramento após as relações sexuais e dores pélvicas, que podem estar associadas a sintomas urinários ou intestinais”, classifica.
O rastreamento em mulheres entre 25 e 64 anos de idade é feito pelo exame de Papanicolau. Após dois exames consecutivos anuais com resultado normal, o intervalo passa a ser a cada três anos. “Realizava o exame de Papanicolau todos os anos, por orientação da minha médica, e receber e descobrir que estava com o câncer de colo de útero foi um susto, pois no ano anterior, o exame teve resultado negativo. Como a doença estava no começo, meu tratamento foi cirúrgico e, agora, sigo em acompanhamento médico. Conto a minha história para alertar outras pessoas sobre a importância do autocuidado e de realizar os exames de rotina corretamente”, reforça Luciana, que realizou a retirada do tumor em 2018.
Segundo Fernanda Proa, por ter características anatômicas e funcionais importantes para a saúde da mulher e o feminino, diagnóstico e tratamento podem impactar na qualidade de vida da mulher. “Quando há resultado positivo, 40% dos casos são ‘localizados’, 34% são ‘regionalmente extensos’ e 15% são ‘à distância, metastáticos’. O tratamento pode interferir em questões relacionadas à maternidade, disfunções sexuais, intestinais e urinárias, assim como também trazer repercussões emocionais relacionadas a medo de recorrência, distúrbios de imagem corporal e transtornos de humor. É necessário um cuidado coordenado que possa atender a todas essas dimensões, sempre com acompanhamento multiprofissional”, detalha.
Carlos Godoy salienta que, com os avanços da medicina, dependendo do caso, há possibilidade de realizar uma cirurgia preservadora de fertilidade, se a paciente tiver o desejo de gestar um filho. “O tratamento cirúrgico é indicado nos estágios iniciais, enquanto que a quimioterapia e a radioterapia podem ser indicadas em estágios mais avançados. Os índices de sucesso superam 90% nas fases iniciais, reduzindo progressivamente à medida em que a doença se encontra em estágios mais avançados”.
Prevenção
A vacina contra o HPV faz parte da estratégia de prevenção e tem objetivo de produzir anticorpos capazes de combater o vírus, o subsequente desenvolvimento de lesões pré-cancerígenas e o câncer de colo uterino propriamente. “Hoje, faz parte do calendário nacional de vacinação e deve ser administrada em meninas e meninos de nove a 14 anos. Por se tratar de uma doença sexualmente transmissível, também se faz necessário o uso de preservativo”, esclarece Godoy.
“A vacinação de adolescentes é utilizada hoje em mais de 100 países e pode, num futuro próximo, extinguir a infecção pelo HPV e até mesmo o câncer de colo uterino relacionado”, adiciona Fernanda Proa.
Tratamento oncológico
Aliado aos pacientes que precisam de acompanhamento oncológico, o grupo Vera Cruz possui o Vera Cruz Oncologia, centro especializado composto por consultórios pensados para facilitar a conversa entre médico, pacientes e familiares, permitindo a realização da quimioterapia com acompanhante, o que humaniza a terapia e promove mais segurança.