A interação humana empática entre o profissional de saúde e o paciente, por si só, já é curativa e tem impacto positivo nos resultados em saúde, segundo pesquisas consolidadas em todo o mundo. Há maior engajamento do paciente em seu tratamento, alívio da dor, menor angústia, maior compreensão das informações.
Até mesmo o diagnóstico pode ser mais acurado, pois o paciente revela mais informações sobre si quando há empatia na troca.
Já os profissionais de saúde que estabelecem relações empáticas com seus pacientes experimentam aumento da sensação de bem-estar e menos estresse e burnout; há redução dos riscos de litigância, visto que a maioria desses processos está relacionada a problemas na comunicação e estes, por sua vez, são diretamente ligados à empatia.
Mas essa empatia clínica – conceito que acaba de chegar ao Brasil através do livro ‘Empatia nos Cuidados em Saúde – Comunicação e ética na prática clínica’ (Manole), é a mesma que se tenta ter com um parente, um colega de trabalho? Não. Para a pesquisadora Aline Albuquerque, autora da obra, a empatia clínica envolve três estágios. Primeiro, a compreensão do estado do paciente, seus valores, necessidades, emoções a partir de um conexão emocional e cognitiva estabelecida com ele (e com familiares e cuidadores) pelo profissional de saúde; em segundo lugar, vem a comunicação empática; e, em terceiro, a ação pró-paciente.
“É neste último estágio que está a principal diferença entre a empatia clínica e a ‘empatia geral’. Podemos ser muito empáticos em nossos círculos de relacionamento pessoal, mas não necessariamente vamos adotar uma ação para o outro”, sustenta Aline, que é professora de Bioética no Programa de Pós-Graduação da UnB, Universidade de Brasília, em 2022 foi pesquisadora visitante no Programa de Empatia da Faculdade de Filosofia da Universidade de Oxford e tem um extenso currículo na área de direitos dos pacientes.
Por isso, neste que é o primeiro e único livro no Brasil sobre empatia nos cuidados em saúde, Aline inicia o percurso expondo, de forma didática, conceitos que ainda são confusos para a maioria das pessoas, como o de que empatia é “se colocar do outro”, e a diferença entre empatia e compaixão.
O livro introduz no país o conceito de empatia clínica e mostra seus benefícios para pacientes, profissionais e instituições de saúde, com base em literatura recente internacional. De forma inovadora, também desenvolve a ideia de que a empatia clínica tem quatro funções morais, demonstrando que ser empático também é importante para que o profissional seja ético.
A autora explora o papel da empatia na comunicação demás notícias, analisando vários protocolos sobre esse momento crítico na relação médico-paciente; e traz, ainda, a questão do disclosure de eventos adversos e a comunicação empática nesse contexto. O termo disclosure significa divulgação ou revelação e refere-se a uma política que instituições de saúde devem adotar para partilhar com pacientes e familiares um evento adverso que tenha ocorrido no cuidado.
Aline também enumera e analisa as várias barreiras que dificultam a prática da empatia pelo profissional de saúde, como a formação e contextos de trabalho, e demonstra que a empatia pode ser ensinada e aprendida, mesmo sendo uma capacidade humana inata.
“Em resumo, acredito que o primeiro passo é que todos os envolvidos nos cuidados em saúde entendam que é preciso ter a intenção de ser empático. É muito difícil sermos empáticos se não tomarmos essa decisão de querer agir a partir desse lugar. Para os gestores, é necessário que conheçam os muitos benefícios materiais e imateriais – para a instituição e para os profissionais – trazidos pela prática empática, e que proporcionem capacitação em empatia clínica, como tem sido feito em vários hospitais do mundo”, destaca a autora.
AUTORA
Aline Albuquerquefoi pesquisadora visitante no Programa de Empatia da Faculdade de Filosofia da Universidade de Oxford, é professora da Pós-graduação em Bioética da UnB, Universidade de Brasília, e, pela mesma instituição, é coordenadora-geral do Observatório Direitos dos Pacientes.
É diretora do Instituto Brasileiro de Direito do Paciente (IBDPAC) e da Pós-Graduação em Direito do Paciente da entidade; membro da diretoria da Sociedade Brasileira para a Qualidade do Cuidado e Segurança do Paciente (Sobrasp), do Comitê de Bioética do Grupo Hospitalar Conceição e do Comitê de Bioética do Hospital de Apoio do Distrito Federal.
Foi pesquisadora visitante no Instituto Bonavero da Universidade de Oxford; no Centro de Direitos Humanos da Universidade de Essex, Inglaterra; e no Instituto de Direitos Humanos da Universidade de Emory, Estados Unidos. Tem pós-doutorado em Direitos Humanos, pós-doutorado em Direito Humano à Saúde, é especialista em Saúde Internacional pela OPAS/OMS e em Bioética pela Cátedra Unesco de Bioética da UnB.