SBPC/ML alerta: Glicose deve ser medida anualmente

O crescimento do número de portadores de diabetes do tipo 2 é uma preocupação em todo o mundo e no Brasil. De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes, cerca de 17 milhões brasileiros são portadores da doença e 40 milhões são pré-diabéticos (quando a glicose está entre 100 mg/dl e 125 mg/dl), levando à morte cerca de 220 mil pessoas por ano no país. O Brasil tem a quinta maior população de diabéticos do mundo.

De acordo o médico Leonardo Vasconcellos, patologista clínico e diretor de Ensino da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), o mais agravante é que boa parte dos diabéticos – estima-se em 40% deles, não sabe que possui a doença, porque sua evolução é silenciosa e muitas vezes os pacientes irão descobrir apenas quando já apresentarem sintomas em fases avançadas.

“É preocupante, porque um exame tão simples, como a medição de glicose, que pode ser feita até mesmo com uma gota de sangue coletada da ponta dos dedos, não é feita por todos. Se as pessoas soubessem como a diabetes pode trazer complicações graves, certamente fariam essa medição anualmente. Temos três situações graves: as pessoas não medem, pré-diabéticos não fazem exames anuais e até mesmo diabéticos chegam a negligenciar a medição da glicose e dos outros exames indicados para estes pacientes”, diz.

O médico explica que a diabetes mellitus é a incapacidade do paciente de produzir ou de utilizar sua insulina adequadamente, um hormônio produzido pelo pâncreas, que leva a glicose do sangue para dentro das células. Com isso, sem ser utilizado pelas células para gerar energia, a glicose fica em excesso no sangue. Após a refeição, com elevação do nível de glicose no sangue, o pâncreas já é estimulado a liberar insulina na corrente sanguínea. O diabetes rompe o equilíbrio normal entre insulina e glicose.

“Não se deve confundir diabetes mellitus com diabetes insípido, que é um estado clínico mais raro associado a sintomas semelhantes aos do diabetes mellitus, mas que não causa elevação dos níveis de glicose e tem origens diferentes. Embora a mesma palavra ‘diabetes’ (que significa aumento da produção de urina) seja usada nos dois casos”, esclarece.

Se houver insulina insuficiente ou ineficaz, ou se as células forem resistentes a seus efeitos – a resistência à insulina é uma condição de quem sofre com síndrome metabólica, por exemplo –, os níveis sanguíneos de glicose permanecem elevados e as células não recebem nutrição adequada. Isso pode causar problemas agudos e crônicos, dependendo do grau da deficiência de insulina. A maioria dos tecidos do corpo precisa de glicose para produção de energia e, com poucas exceções, como o sistema nervoso, todos esses tecidos dependem completamente do transporte mediado pela insulina.

“A hiperglicemia aguda, que é o excesso repentino de açúcar no sangue, pode ser uma emergência clínica. O corpo tenta eliminar o que está sobrando, produzindo mais urina. Esse processo pode causar desidratação e pode perturbar o equilíbrio eletrolítico do corpo, com perda de sódio e potássio na urina. Como não há glicose disponível para as células com deficiência de insulina, o corpo tenta usar uma fonte alternativa de energia, metabolizando ácidos graxos. Esse processo menos eficiente causa acúmulo de cetonas e altera o equilíbrio ácido-base do corpo, produzindo um estado chamado cetoacidose. Se não for tratada, a hiperglicemia aguda pode causar desidratação grave, perda de consciência e até morte”, alerta o médico.

Níveis de glicose que se elevam aos poucos e permanecem elevados podem não ser notados logo pelo paciente. O corpo tenta controlar a quantidade de glicose no sangue aumentando a produção de insulina e excretando glicose na urina. Os sintomas em geral se iniciam quando o corpo não é mais capaz de compensar os níveis mais altos de glicemia.

“A hiperglicemia crônica pode causar lesões a longo prazo de vasos sanguíneos, nervos e órgãos em todo o corpo, provocando outros problemas, como insuficiência renal, perda de visão, acidente vascular cerebral e doença cardiovascular. Diabetes também causa, com frequência, problemas circulatórios nas pernas. As lesões provocadas pela hiperglicemia são cumulativas e podem começar antes do paciente perceber que tem diabetes. O diagnóstico e o tratamento precoces podem minimizar as complicações”, alerta Leonardo.

Tipos de diabetes

Há três tipos principais de diabetes: tipo 1, tipo 2 e diabetes gestacional. A doença pancreática pode também causar diabetes se as células beta produtoras de insulina forem destruídas.

Diabetes do tipo 1 – Antes chamado diabetes dependente de insulina ou diabetes juvenil, representa cerca de 10% dos casos de diabetes nos EUA. A maioria dos casos é diagnosticada antes dos 30 anos de idade. Os sintomas em geral se desenvolvem com rapidez e o diagnóstico com frequência é feito em um ambiente de emergência. O paciente pode estar muito mal, comatoso, com níveis muito altos de glicose e de cetonas (cetoacidose). Diabéticos do tipo 1 produzem muito pouca ou nenhuma insulina. Suas poucas células beta produtoras de insulina restantes na época do diagnóstico em geral estarão destruídas em 5 a 10 anos, deixando-os na dependência completa de injeções de insulina para sobreviver.

A causa precisa do diabetes do tipo 1 é desconhecida, mas uma história familiar de diabetes, lesões virais do pâncreas e processos autoimunes, em que o sistema imunológico do próprio corpo destrói as células beta, podem ter um papel importante. Diabéticos do tipo 1 podem ter complicações clínicas mais graves e mais precoces que diabéticos do tipo 2. Por exemplo, cerca de 40% dos diabéticos do tipo 1 desenvolvem problemas renais graves causando insuficiência renal antes de 50 anos de idade.

Diabetes do tipo 2 – Antes chamado diabetes não dependente de insulina ou diabetes do adulto, produzem insulina, mas, ou a produção é insuficiente para as necessidades ou o corpo se tornou resistente a seus efeitos. Na época do diagnóstico, pacientes com diabetes do tipo 2 costumam ter níveis altos de glicose e de insulina, mas podem não apresentar sintomas. Cerca de 90% dos casos de diabetes nos EUA são do tipo 2. Esse tipo em geral ocorre mais tarde na vida, em pessoas obesas, sedentárias e com mais de 45 anos de idade. Os fatores de risco incluem:

  • Obesidade
  • Falta de exercício
  • História familiar de diabetes
  • Pré-diabetes
  • Etnia: afro-americanos, hispano-americanos, índios americanos, americanos de origem asiática, originários das ilhas do Pacífico
  • Diabetes gestacional ou bebê com mais de 4 kg
  • Hipertensão arterial
  • Triglicerídeos altos, colesterol alto, colesterol HDL baixo

Como os americanos e brasileiros estão ficando mais obesos e não fazem exercícios suficientes, a população com diagnóstico de diabetes do tipo 2 está aumentando e a idade de diagnóstico está diminuindo.

Diabetes gestacional – Forma de hiperglicemia observada em mulheres grávidas, em geral no final da gravidez. A causa é desconhecida, mas considera-se que alguns hormônios placentários aumentem a resistência à insulina da mãe, elevando seus níveis sanguíneos de glicose. É feita a triagem para diabetes gestacional na maioria das mulheres com 24 a 28 semanas de gravidez. Se o diabetes gestacional não for tratado, o bebê pode ser maior que o normal, pode nascer com glicemia baixa ou pode ser prematuro. A hiperglicemia associada ao diabetes gestacional em geral desaparece após o nascimento, mas as mulheres que têm diabetes gestacional e seus bebês apresentam um risco aumentado de desenvolvimento posterior de diabetes do tipo 2. Mulheres com diabetes gestacional em uma gravidez com frequência apresentam recidivas nas gravidezes subsequentes. O diabetes gestacional em geral é pesquisado usando uma única dosagem de glicose após a ingestão de uma sobrecarga de glicose em dosagem e tempo padronizado. Se o resultado for anormal, deve ser confirmado com uma curva glicêmica.

Pré-diabetes – É um termo novo para alteração da glicose de jejum ou da tolerância à glicose. Caracteriza-se por níveis de glicose acima do normal, mas não o suficiente para o diagnóstico de diabetes. Em geral, as pessoas com pré-diabetes não têm sintomas, mas, se nada for feito para reduzir seus níveis de glicose, há grande risco de desenvolverem diabetes em cerca de 10 anos. Especialistas recomendam que todas as pessoas com fatores de risco para diabetes do tipo 2 sejam testadas para pré-diabetes.

Sinais e sintomas

Os sinais e sintomas de diabetes estão relacionados à Hiperglicemia, hipoglicemia ou a complicações associadas ao diabetes. As complicações podem estar relacionadas à produção de lipídios, a lesões vasculares, microvasculares ou de órgãos e à dificuldade de cicatrização observada no diabetes. Exemplos de lesões de órgãos são as renais (nefropatia diabética), nervosas (neuropatia diabética) e oculares (retinopatia diabética). O diabetes do tipo 1 com frequência é diagnosticado com sintomas agudos e graves que exigem hospitalização. Em geral, não há sintomas no pré-diabetes, no diabetes gestacional e no diabetes do tipo 2 inicial.

Sintomas de diabetes dos tipos 1 e 2 com hiperglicemia:

  • Sede aumentada
  • Volume urinário aumentado
  • Aumento do apetite (no tipo 1, pode ser observada perda de peso)
  • Fadiga
  • Náusea
  • Vômitos
  • Dor abdominal (especialmente em crianças)
  • Visão embaçada
  • Infecções de cicatrização lenta
  • Insensibilidade, formigamento e dor nos pés
  • Disfunção erétil
  • Ausência de menstruação
  • Respiração rápida (sinal agudo)
  • Diminuição da consciência, coma (sinal agudo)

Testes para Diabetes

De acordo com a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, a Sociedade Brasileira de Diabetes e a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial, a glicemia em jejum, o teste de tolerância à glicose ou a dosagem de hemoglobina glicada podem ser usados para diagnosticar diabetes e pré-diabetes. Cada exame tem indicações, vantagens, desvantagens e limitações. Por exemplo, a glicemia em jejum exige um jejum de 8 horas. O teste de tolerância à glicose requer uma glicemia em jejum, seguida da ingestão de uma dose padronizada de glicose e uma nova glicemia após 2 horas. Para a hemoglobina glicada, não é necessário o jejum de 8 horas ou a coleta de diversas amostras em horas diferentes, mas o exame não é recomendado para todos. Não deve ser usado para o diagnóstico de diabetes gestacional nem em pessoas que tiveram sangramento importante ou transfusões de sangue recentes, pessoas com doenças crônicas renais ou hepáticas, ou pessoas com distúrbios sanguíneos como anemia por carência de ferro, anemia por deficiência de vitamina B12 ou hemoglobinas variantes. Por outro lado, somente métodos de dosagem de hemoglobina glicada padronizados devem ser utilizados para fins diagnósticos e de triagem.

Se o resultado inicial de um exame for anormal, ele deve ser repetido em outro dia para confirmar o diagnóstico de diabetes.

Diabéticos devem monitorar seus próprios níveis de glicose, com frequência, diversas vezes por dia, para alterar sua medicação de acordo com as instruções do médico. Isso é feito colocando uma pequena gota de sangue (obtida por punção da pele com uma lanceta) em uma tira reagente, que é inserida em um glicosímetro, aparelho que fornece uma leitura digital da glicemia.

A hemoglobina glicada, (também chamada hemoglobina A1c ou glico-hemoglobina) é um exame usado para triagem e acompanhamento, pedido diversas vezes por ano para monitorar pacientes com diabetes dos tipos 1 e 2. É uma medida da quantidade média de glicose presente no sangue nos últimos 2 a 3 meses, e ajuda o médico a determinar a eficácia do tratamento.

Redação

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