A asfixia perinatal é uma das principais causas de mortalidade e sequelas graves em recém-nascidos, afetando cerca de 1,15 milhão¹ de crianças em todo o mundo anualmente. Entre elas, 233 mil¹ desenvolvem lesão cerebral severa. A técnica de hipotermia terapêutica tem, portanto, apresentado resultados eficazes na redução da mortalidade e da ocorrência de disabilidades neurológicas graves, que comprometem o funcionamento do sistema nervoso.
Esse tratamento protege o cérebro por meio da diminuição da temperatura corporal dos bebês, mantendo entre 33°C e 34°C durante 72 horas, com início nas primeiras seis horas de vida. Este resfriamento controlado bloqueia a chamada “segunda onda” de lesão cerebral causada pela falta de oxigênio. Estudos² mostram que o procedimento pode aumentar em 65% as chances de sobrevida sem sequelas, podendo reduzir em 32% o risco de danos neurológicos graves e contribuindo para um aumento da chance de sobreviver sem paralisia cerebral.
A Santa Casa de Misericórdia de São Paulo é uma as instituições de saúde que incorporam a tecnologia do ArcticSun, um sistema avançado que controla a temperatura do bebê de forma precisa e não invasiva. Diferentemente das compressas de gelo usadas antigamente, que demoravam a atingir a temperatura ideal e podiam gerar oscilações, o ArcticSun ajusta automaticamente a água circulante para manter a temperatura alvo. Dessa forma, protege o sistema nervoso central e evita complicações como arritmias e coagulopatias, doenças que prejudicam a coagulação do sangue.
“A hipotermia é uma técnica neuroprotetora que deve ser iniciada em até seis horas após o parto, para que o recém-nascido não desenvolva encefalopatia hipóxico-isquêmica, que é uma lesão no cérebro causada pela falta de oxigênio no parto ou logo após o nascimento e que podem causar lesões irreversíveis no cérebro”, explica Maurício Magalhães, chefe do Serviço de Neonatologia da Santa Casa.
Em casos de encefalopatia moderada ou grave, a chance de morte ou lesão neurológica severa pode variar entre 25% e 75%³. “Por isso, indicamos a hipotermia neuroprotetora, que precisa ser iniciada nas primeiras horas de vida, de preferência antes de três horas, para oferecer melhores resultados”.
Casos como o da Pietra Trindade, de um ano de idade mostram os benefícios da hipotermia terapêutica. Após um descolamento de placenta, Pietra nasceu com asfixia e passou por 72 horas de hipotermia. “O resfriamento foi essencial para salvar minha filha. Ela ficou um mês na UTI, mas vencemos. Hoje ela tem um ano e três meses de vida, está linda, saudável, sem complicações e muito esperta”, relata Camila de Souza Lima Trindade, mãe de Pietra.
Além do controle de temperatura, a terapia inclui cuidados humanizados, como analgesia para controle de dor, sucção, nutrição com leite materno e contato pele a pele com a mãe do bebê, favorecendo vínculo e produção de ocitocina, neuro-hormônio ligado ao bem-estar e afeto. Plataformas digitais, como a UTI Neon, complementam o tratamento, permitindo monitoramento remoto 24 horas por dia e discussões de casos com especialistas ao redor do mundo.
Tecnologia para controle de temperatura de bebês
A Santa Casa de São Paulo foi a primeira instituição pública de saúde a implementar a tecnologia ArcticSun para monitorar e controlar a temperatura corporal de recém-nascidos de forma precisa e não invasiva.
O equipamento oferece programação automática e segura tanto para hipotermia quanto para normotermia, quando mantém a temperatura corporal dentro da faixa normal (36,5°C a 37,5°C). Desenvolvido pela BD, uma das maiores empresas de tecnologia médica do mundo, o sistema foi doado à Santa Casa.
“Na BD, temos o propósito de promover saúde e qualidade de vida por meio de soluções inovadoras. O ArcticSun é um exemplo concreto desse compromisso. Trata-se de uma tecnologia avançada que já apoia mais de 50 hospitais, entre públicos e privados, no cuidado de pacientes críticos em todo o país”, afirma Juliano Paggiaro, presidente da BD Brasil.
Referências
¹ Lee AC, Kozuki N, Blencowe H, Vos T, Bahalim A, Darmstadt GL, Niermeyer S, Ellis M, Robertson NJ, Cousens S, Lawn JE. Intrapartum-related neonatal encephalopathy incidence and impairment at regional and global levels for 2010 with trends from 1990. Pediatr Res. 2013 Dec;74 Suppl 1(Suppl 1):50-72. doi: 10.1038/pr.2013.206. PMID: 24366463; PMCID: PMC3873711. Acessado em 16/09/2025.
² Tagin MA, Woolcott CG, Vincer MJ, Whyte RK, Stinson DA. Hypothermia for Neonatal Hypoxic Ischemic Encephalopathy: An Updated Systematic Review and Meta-analysis. Arch Pediatr Adolesc Med. 2012;166(6):558–566. doi:10.1001/archpediatrics.2011.1772. Acessado em 16/09/2025.
³Café da Manhã com BD. Asfixia perinatal – Campanha nacional de conscientização. Acessado em 16/09/2025.