As estimativas de incidência de câncer no Brasil são alarmantes. Dados divulgados recentemente pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA) apontam para 600 mil casos novos em 2018. Por isso, o Dia Mundial do Câncer, lembrado no último dia 4 de fevereiro, tem um papel cada vez mais relevante.
Este ano, o tema global da União Internacional para Controle do Câncer (UICC) é “Nós podemos, eu posso”. Segundo o órgão internacional, 8,8 milhões de pessoas morrem no mundo devido à doença. Dados como estes tornam ainda mais importante o alerta para a prevenção, como a prática de atividade física, manter uma dieta equilibrada, não consumir álcool e não fumar, reduzindo o risco de surgimento de câncer.
Com o aumento da conscientização e educação sobre o tema, é importante que cada indivíduo possa agir contra a doença. Porém, a adoção de hábitos saudáveis também é importante em casos diagnosticados, para que o paciente possa ressignificar seus hábitos durante o tratamento e levá-los para sua rotina. Além disso, o apoio de uma equipe multidisciplinar em conjunto com procedimentos eficazes é extremamente benéfico.
A nutricionista Etielle Sonaglio alerta que a alimentação pode ser uma das chaves para a prevenção do câncer. “Não se reconhece cientificamente nenhum alimento que isoladamente possua um efeito protetor tão superior aos demais. Por isso, cabe ao nutricionista oferecer subsídios para a escolha de uma alimentação variada, de boas fontes, colorida, que traga além de nutrientes, prazer à mesa, e ainda a consciência de cuidados com saúde em qualquer etapa da vida. A saúde acontece na cozinha”, diz Etielle.
A atuação do psicólogo na assistência ao paciente oncológico, por exemplo, dá o suporte emocional ao longo de todas as etapas deste processo. “Desta forma, as transformações impostas pela doença se tornam mais adaptáveis ao contexto. A Psicologia auxilia no enfrentamento, na busca pela qualidade de vida e na aquisição de novas habilidades emocionais”, ressaltam as psicólogas Karine Viana Maciel e Júlia Schneider Hermel, do Centro de Oncologia do Hospital Moinhos de Vento.
A qualidade de vida vai além da sensação de bem-estar, envolve o estado de saúde, tendo relação direta com a resposta ao tratamento. Um indivíduo que pratica atividade física regular e mantém hábitos de vida saudáveis, responderá ao tratamento de maneira mais satisfatória, além do fato de atenuar os efeitos colaterais. “Isso ocorre em virtude do aumento da força muscular e capacidade funcional, controlando o peso e reduzindo a fadiga, tendo impacto direto também na redução dos níveis de estresse e aumento da defesa imunológica. É fundamental que o paciente tenha condições clínicas para realizar a atividade, que deve ser elaborada pelo profissional de modo seguro, personalizado e agradável”, ressalta o coordenador assistencial do Serviço de Fisioterapia, Leonardo Garcia.
Pesquisa
O Hospital Moinhos de Vento em parceria com os cursos de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), iniciou um projeto pioneiro no Brasil. A pesquisa envolve exercícios de força e aeróbico em pacientes durante o tratamento de quimioterapia. Supervisionados e prescritos de forma sistemática por profissionais de Educação Física capacitados, a prática tem se demonstrado efetiva para atenuar os prejuízos promovidos pela quimioterapia e, por conta disso, melhora a qualidade de vida de pacientes com câncer de mama.
O estudo, que iniciou em dezembro de 2017, está sendo feito com 15 pacientes que realizaram cirurgia para câncer de mama e que estão em tratamento quimioterápico adjuvante no Hospital Moinhos de Vento. A previsão é incluir cerca de 80 pacientes até o final do ano. Até o momento já foi possível perceber a melhora no bem-estar e disposição das participantes.
“No que diz respeito ao atendimento multiprofissional para essas mulheres, o trabalho desenvolvido por profissionais de Educação Física parece ter um papel relevante. Os efeitos adversos da quimioterapia, como a redução na capacidade cardiorrespiratória, na força muscular e na massa magra, assim como o aumento no percentual de gordura corporal decorrentes da doença, prejudicam a qualidade de vida e podem ser minimizados com a realização de exercícios físicos específicos associados aos treinamentos de força e aeróbico”, destaca a coordenadora do estudo e oncologista do Hospital Moinhos de Vento, Alessandra Morelle.
Segundo a especialista, a realização de exames regularmente é fundamental, pois a detecção precoce pode salvar vidas. Porém, terapias complementares ajudam na recuperação. “Torna-se imprescindível o trabalho em equipe, realizado por profissionais de educação física, enfermeiros, fisioterapeutas e médicos para a adequação das rotinas de treinamento, tornando o exercício físico uma intervenção poderosa e, sobretudo, segura durante o tratamento destas pacientes”, conclui.
Os resultados serão conhecidos no início do próximo ano. O projeto integra o trabalho de mestrado do aluno Pedro Lopez, da Escola de Educação Física da UFRGS, orientado pelos professores Ronei Silveira Pinto (UFRGS), Stephanie Santana Pinto (UFPEL) e Daniel Umpierre (UFRGS).