Anos atrás, logo que o bebê nascia era levado para o berçário. Os primeiros momentos fora do útero eram longe da mãe. Enquanto isso, a mãe que acabara de dar a luz ficava ansiosa a espera de boas notícias. Hoje tudo mudou. O contato pele-a-pele e o aleitamento nos primeiros momentos de vida do bebê são seguidos em quase todas as maternidades brasileiras. No Hospital Universitário de Jundiaí (SP), estes princípios são praticados desde a década passada e se tornaram ainda mais intensos há quatro anos.
De acordo com a enfermeira Leslie Zonho, responsável por ações da Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC) – que visa especialmente o estímulo ao aleitamento e cuidados amigo da mulher -, este gesto simples de colocar o bebê em contato direto com o corpo da mãe após o nascimento e estimular a amamentação nos primeiros momentos de vida surtem efeitos positivos. “É importante para a criação de vínculo mãe-bebê, favorece o reconhecimento entre ambos, mantém a temperatura corporal do recém-nascido e possibilita o início da colonização com a flora materna, fazendo com que o bebê comece a adquirir sua própria identidade imunológica”, diz.
Os benefícios não param por aí. De acordo com a enfermeira, o início precoce do aleitamento materno também promove o estímulo dos hormônios prolactina e ocitocina, responsáveis pela produção e ejeção do leite materno. “Facilita a descida do leite e contribui para que o útero contraia, diminuindo o risco de uma hemorragia pós-parto”, explica. Nos primeiros momentos de vida, o bebê está bem ativo e iniciar o aleitamento facilita que ele aprenda a mamar. Desta forma, ele irá se adaptar à amamentação com maior facilidade, mantendo-a por mais tempo.
A médica Gabriela Coutinho Alves, ginecologista e obstetra, explica que antes de colocar o bebê em contato com a mãe, é feita uma rápida avaliação no próprio Centro Cirúrgico. “Logo ao nascer o pediatra verifica a respiração, o tônus, o tamanho do bebê, verifica se está coradinho e o põem em contato direto com a mãe. Muitas vezes antes de fazer o corte do cordão umbilical”, conta. “Se por acaso acontecer alguma intercorrência neste meio tempo, o pediatra coloca o bebê em um berço ao lado da mãe e no local é dada toda a assistência”, diz. “Este contato pele-a-pele só não é realizado em casos extremos, como por exemplo, se for necessária uma reanimação do bebê”, completa. Além da equipe médica, toda a equipe de enfermagem participa do processo.
Antes do parto, as enfermeiras explicam à gestante a importância do contato e do aleitamento. Enrolam uma faixa no peito da mãe. É nesta faixa que o bebê será encaixado, sem risco de queda e com total segurança. Enfermagem acompanha o parto e presta toda a assistência na hora de ensinar a mãe como introduzir o aleitamento materno. Todo o trabalho é feito em equipe.
Segundo a médica, o primeiro contato entre mãe e filho é sempre emocionante. “Geralmente elas choram e até nós, da equipe médica, ficamos emocionados. Muitas vezes a lágrima escorre pelo rosto, mas a máscara esconde. São sempre momentos muito bons. Fico muito satisfeita em ver que tudo ocorreu bem e nossa missão está cumprida”, relata.
Relato
“Foi muito especial”. Com essas palavras que Aline Vaz Bittencourt Aranha, 37 anos, define o contato pele-a-pele e o aleitamento nos momentos iniciais de vida de seu bebê, Thomaz Vaz Bittencourt Aranha, que nasceu no dia 11 de dezembro. Ela que é enfermeira, se viu do outro lado, como paciente. “A gente fala muito sobre este momento para as mães, explica a importância, ensina…no meu parto eu pude ver como é confortante ter o bebê nos braços logo depois do parto. Senti muita tranquilidade, me senti realmente assistida e pude constatar que o que a gente ensina realmente funciona”, conta.
Aline tem outros três filhos, mas declara que esta foi a primeira vez que teve a oportunidade de vivenciar essa experiência.