O cenário atual de pandemia e estado de emergência vivido na cidade de São Paulo têm colocado desafios a todos, com impactos sobre o ir e vir, o espaço público, a economia e, sobretudo, a saúde de cada um. Sabemos que estes impactos são vivenciados de maneira muito diferente a depender de onde se vive na cidade, e que a desigualdade experimentada diariamente no transporte público, no trabalho informal e nas oportunidades educacionais também se reflete neste momento de alta demanda por serviços de saúde.
Um mapeamento realizado pela Rede Nossa São Paulo, a partir de dados de fevereiro de 2020 do DATASUS, mostra a distribuição desigual dos leitos de UTI vinculados ao SUS no município, e os resultados são indicativos da exclusão vivida por cidadãos que moram nas periferias da cidade: apenas 3 subprefeituras (Sé, Pinheiros e Vila Mariana) – localizadas nas regiões mais ricas e centrais – concentram mais de 60% dos leitos em UTI do SUS no município. Enquanto isso, 20% da população (2.375.000 pessoas) vivem em 7 subprefeituras – localizadas nas periferias do município – em que não há um leito sequer.
A recente iniciativa da gestão municipal de ampliar o número de leitos por meio de hospitais de campanha é urgente e necessária. Além disso, espera-se a inauguração de um hospital na Vl. Brasilândia, em maio, o que aumentará significativamente o número de leitos na periferia. Mas vale lembrar que o hospital é uma demanda da população da Zona Norte há, pelo menos, 30 anos, e as obras, iniciadas em 2015, deveriam ter sido concluídas em 2017.
Este mapeamento revela, mais uma vez, a desigualdade estruturante na cidade mais rica do país. Nesse momento de crise, se por um lado São Paulo tem sido referência em medidas emergenciais, por outro os números atestam que estamos longe de atingir a equidade social. A desigualdade territorial segue acentuando as diferenças e tornando as populações ainda mais vulneráveis.