Há quase quatro meses, o mundo começou a registrar oficialmente os primeiros casos de pacientes com uma síndrome respiratória aguda, doença batizada de Covid-19. De lá para cá, pesquisadores de todo o planeta passaram a estudar o vírus, tentando entender como o SARS-CoV-2 atua no organismo humano. Por que alguns pacientes que não são do grupo de risco acabam desenvolvendo casos graves da doença?
A pandemia trouxe vários registros não só de pessoas, mas de famílias inteiras comprometidas pelo vírus e com sintomas graves, o que aponta para um possível componente genético no processo de infecção, que torna o paciente mais susceptível à doença. “Estamos começando nossas análises e esperamos conseguir obter mais informações sobre o funcionamento dessa infecção”, explica Dra. Anamaria Camargo, coordenadora e pesquisadora do Sírio-Libanês Ensino e Pesquisa. O Sírio-Libanês está trabalhando com duas linhas de pesquisa, ambas direcionadas a responder porque algumas pessoas são mais propensas a desenvolverem uma forma mais grave da Covid-19 do que outras.
A primeira linha de pesquisa irá investigar variações genéticas no gene ECA2 (enzima conversora da angiotensina 2), que é usado como porta de entrada da infecção provocada pela SARS-CoV-2 e está presente em células no pulmão, intestino, rim, epiteliais e nos vasos sanguíneos. “Queremos entender os casos de pacientes que não estão nesses grupos de risco e que apresentam um quadro mais grave da doença. Nossa hipótese é que certas variações no gene ECA2 favoreçam a entrada do vírus nas células”, informa Dra. Anamaria. A pesquisa irá sequenciar o gene ECA2 em pacientes internados e convalescentes, de forma a associar variações genéticas neste gene ao quadro clínico da doença.
A segunda linha de pesquisa investigará a resposta do sistema imunológico (de defesa) de pessoas com a infecção. Em alguns casos, observa-se uma resposta maior do que outras, e entender o que causa essa diferença é importante para saber como o sistema de defesa do paciente combate a infecção viral. A pesquisa irá sequenciar uma parte específica do genoma do paciente, chamada HLA (Sistema de Antígeno leucocitário humano). “O conhecimento possibilitará identificar pacientes que tenham dificuldade em desenvolver uma resposta de defesa e eliminar o vírus, e que, portanto, têm maiores chances de desenvolver formas graves da doença”, conclui a pesquisadora.