Pacientes de Covid-19 podem desenvolver infecções causadas por bactérias multirresistentes

As pandemias da Covid-19 e da gripe espanhola, que assolou o mundo entre 1918 e 1920, são regularmente comparadas entre si. Não à toa. Ambos os surtos foram causados por um vírus – novo coronavírus e influenza, respectivamente – e infectaram milhões de pessoas. A estimativa histórica é de que a gripe espanhola tenha contaminado por volta de 500 milhões de indivíduos, causando cerca de 50 milhões de vítimas fatais. Até o momento, após seis meses de sua identificação, a Covid-19 infectou aproximadamente 6,4 milhões, vitimando um pouco mais de 378 mil.

Outra semelhança, no entanto, ainda não é muito conhecida. Durante a gripe espanhola, diversas infecções bacterianas posteriores acometeram as pessoas contaminadas pelo vírus influenza. Na ocasião, houve elevadas taxas de morbidade e mortalidade em razão disso. A infecção posterior ocasionada por um microrganismo patogênico é algo que pode ocorrer em pacientes com a Covid-19, de acordo com o farmacêutico, bioquímico e pós-doutor em Microbiologia, Alessandro Silveira.

Artigo de revisão publicado no último dia 1 de maio, na Clinical Infectious Diseases, uma das mais respeitadas revistas médicas de doenças infecciosas, indica nessa direção. Conforme o estudo, até meados de fevereiro de 2020, foram notificadas co-infecções (Covid 19 + outro microrganismo) entre 5% e 27% dos adultos com o novo coronavírus, em Wuhuan, cidade chinesa onde a doença foi identificada pela primeira vez. De acordo com o levantamento, a taxa de mortalidade das pessoas que desenvolveram essa infecção secundária variou entre 50% a 100%.

Segundo o pós-doutor em Microbiologia, a infecção bacteriana que acomete o paciente de Covid-19 está relacionada ao uso muitas vezes indiscriminado de antibióticos. “Os pacientes com quadros graves da doença acabam recebendo, com ou sem justificativa, antibioticoterapia de amplo espectro durante a hospitalização, selecionando naturalmente o aparecimento de bactérias multirresistentes”, relata.

Estudo publicado, no dia 2 de maio, também na Clinical Infectious Diseases, corrobora a afirmação do pós-doutor em Microbiologia. Conforme a pesquisa, 72% dos pacientes com Covid-19 usam antibiótico de amplo espectro  e 8% deles desenvolvem co-infecção com bactéria e/ou fungo. Para chegar a esses resultados, os cientistas fizeram pesquisas em diversos bancos de dados com vasta literatura médica, biomédica, farmacológica e científica sobre o tema. E verificaram artigos, em inglês, mandarim ou italiano, com dados clínicos de pacientes com infecção por coronavírus (incluindo Covid-19) e co-infecção bacteriana/fúngica.

O bioquímico explica que a porta para essas bactérias que acarretam essa co-infecção pode ser o respirador artificial que normalmente o paciente necessita usar para facilitar a respiração prejudicada em quadros graves de Covid-19. “O uso dos respiradores artificiais facilita a entrada de microrganismos patogênicos no trato respiratório, causando um quadro chamado de pneumonia associada a ventilação mecânica.”, destaca.

De acordo com Silveira, as bactérias patogênicas podem ficar aderidas nas paredes do respirador artificial, formando uma massa bacteriana chamada de biofilme. “A possibilidade de que, após alguns dias, o paciente desenvolva um quadro de pneumonia é um risco inerente a uso de respiradores.”, afirma.

A co-infecção é facilitada pelo comprometimento do sistema imune do paciente, que pode já ser deficiente – em razão da idade avançada e da presença de doenças crônicas, tais como hipertensão, diabetes e obesidade – ou pela sua atuação na infecção pelo novo coronavírus. Segundo o pós-doutor em Microbiologia, o enfraquecimento da imunidade biológica é o responsável por tornar o organismo humano mais suscetível à infecção por bactérias que estavam apenas colonizando o corpo humano.

Nesse sentido, a importância de se preservar as bactérias que fazem parte da microbiota normal do ser humano, as chamadas bactérias boas, evitando o uso indiscriminado dos antibióticos. Conforme Silveira, esses microrganismos são importantes componentes do nosso sistema imune, ajudando a proteger nossas mucosas, incluindo a respiratória, através de três mecanismos: competindo com a bactéria ruim pela adesão às células da superfície da mucosa; competindo pelos nutrientes (derivados dos alimentos) disponíveis; e produzindo  substâncias antibacterianas que matam outras bactérias.

Além das bactérias, o bioquímico informa que pacientes com Covid-19 podem apresentar infecções pulmonares causadas por fungos ambientais presentes no ar, principalmente o Aspergilus. “Esses microrganismos são oportunistas por natureza e se aproveitam da situação para causar infecções graves de difícil tratamento”, conclui.

Redação

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4 thoughts on “Pacientes de Covid-19 podem desenvolver infecções causadas por bactérias multirresistentes

    1. Oi Flávio! Como veículo de comunicação, acreditamos que profissionais de saúde sejam mais capacitados para sanar a sua dúvida referente às manifestações da Covid-19.

  1. Eu dou me fico cirurgião dermatológico fiz extensão de imunologia e bacteriológica. Sugiro ki então que antes de tudo a primeira providência para o tratamento do covid 19 e a introdução imediata de um corticoide de longa ação mad não a dexametasona. Como exemplo um diprospam. Ou beta trina. É então outras providências como oxigenação é xarope expectorante a bbase de corticosteroides com prednisolona xarope ou a dexametasona. Estas medida a d encurtam extremamente o ciclo de agressão do virus.

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