Mortes por Covid-19 crescem 240% em Paraisópolis em dois meses

A taxa de mortes por Covid-19 em Paraisópolis, em São Paulo (SP), cresceu quase 240% em pouco mais de dois meses. A informação é de novo levantamento do Instituto Pólis que analisou as taxas de mortalidade na favela entre 1º de março e 4 de agosto. A análise utilizou dados da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo adquiridos pelo LabCidade (laboratório de pesquisa da FAU/USP), parceiro do Instituto, por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI).

Em estudo anterior, que agregava dados de março até a primeira quinzena de maio deste ano, o Instituto constatou que, apesar das condições de precariedade e vulnerabilidade, Paraisópolis demonstrava eficiência em conter a média de mortalidade pela pandemia no distrito de Vila Andrade, distrito em que a favela está inserida. Essa performance positiva foi atribuída às ações solidárias da comunidade, como, por exemplo, o sistema de presidentes de rua.

Em pouco mais de dois meses após esse estudo (77 dias), novo levantamento mostra que a situação se inverteu. “Sem contar com o devido apoio público, as ações solidárias deixaram de obter os resultados buscados de proteção à vida dos moradores”, afirma Jorge Kayano, médico sanitarista e pesquisador do Instituto Pólis.

Em maio, a taxa de mortalidade do distrito de Vila Andrade, em que Paraisópolis está inserida, estava em 50 óbitos a cada 100 mil habitantes. Até agosto, a taxa cresceu para 116 mortes por 100 mil habitantes, um aumento de 132%. Ao analisar apenas o território da favela, a taxa passou de 16 óbitos a cada 100 mil habitantes em maio para 54 mortes a cada 100 mil habitantes, um crescimento de 237,5%. Sem considerar Paraisópolis, o crescimento da taxa de mortalidade no distrito chega a 82%, passando de 34 óbitos/100 mil hab para 62 óbitos/100 mil hab.

Idosos

O estudo também apontou aumento expressivo de mortes entre os idosos de Paraisópolis. No levantamento anterior, foram registradas 8 mortes de pessoas acima dos 60 anos na favela. Em agosto, o número subiu para 30 óbitos, representando alta de 275%. Ao analisar o distrito sem Paraisópolis, o número também cresceu, mas de maneira menos acentuada, passando de 29 para 52 óbitos, alta de 79%.

Taxa padronizada

O Instituto também levou em conta a faixa etária da população da favela, consideravelmente mais jovem do que o restante do distrito de Vila Andrade, que conta com número maior de idosos. Para incluir essa variável, o Instituto aplicou o método de padronização nos dados de Paraisópolis. Esse método, utilizado na epidemiologia, realiza cálculos para considerar as diferenças na composição etária, possibilitando comparar de maneira mais fiel as taxas de mortalidade em populações diferentes.

As taxas de mortalidade padronizadas da população da favela mostram um cenário ainda mais preocupante. No distrito de Vila Andrade como um todo, o índice entre março e agosto de 2020 fica em 96 óbitos a cada 100 mil. Analisando apenas o território de Paraisópolis, a taxa passa para 293 óbitos por 100 mil habitantes, 203% maior que a média do distrito. Sem Paraisópolis, a Vila Andrade tem uma taxa padronizada de 65 óbitos/100 mil hab. A taxa da favela também supera a média do município como um todo, que registrou 133 óbitos/100 mil hab.

Redação

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