Os países mais ricos do mundo, que têm apenas 13% da população global, já compraram mais da metade (51%) das doses das vacinas contra a Covid-19 em desenvolvimento. E as grandes empresas farmacêuticas que estão na corrida para lançar o produto já fazem as contas de quanto vão lucrar. Enquanto isso, dezenas de países e centenas de milhões de pessoas, especialmente as mais pobres, poderão ficar sem a vacina até pelo menos 2022.
Esse é o alerta que a Oxfam faz nesta quinta-feira (17), dia em que ministros de Saúde e Economia dos países do G20 se reúnem virtualmente para discutir a pandemia global.
A Oxfam analisou, por meio de dados disponibilizados pela empresa AirIinity (www.airfinity.com), os acordos que empresas farmacêuticas e laboratórios já fecharam com países pelo mundo para a aquisição das cinco principais vacinas em produção hoje – da AstraZeneca, Gamaleya/Sputnik, Moderna, Pfizer e Sinovac.
As empresas envolvidas nos acordos não têm a capacidade de produzir vacinas suficientes para todos e todas que precisam dela. Mesmo que as cinco vacinas tenham sucesso, o que é bastante improvável, quase dois terços (61%) da população só terão acesso ao medicamento em 2022. Como é mais provável que algumas das vacinas não vinguem, o número de pessoas que poderá ficar sem imunização deverá ser maior.
Esse cenário revela um sistema que protege os monopólios e os lucros das grandes empresas farmacêuticas e favorece as nações mais ricas, restringindo a produção de medicamentos e deixando parte da população mundial esperando pela vacina por mais tempo do que o necessário.
Uma das vacinas, desenvolvida pela empresa Moderna, recebeu US$ 2,48 bilhões de dinheiro de impostos pagos por contribuintes. Apesar disso, a empresa tem afirmado que pretende lucrar com a produção de sua vacina, tendo vendido toda a sua produção para países mais ricos – a preços que variam de US$ 12 a US$ 16 a dose nos Estados Unidos e cerca de US$ 35 para outros países. Isso deixa a necessária proteção fora do alcance para muitos que vivem na pobreza. Ainda que a empresa esteja fazendo esforços para aumentar sua produção, conforme indicam informes, ela só tem a capacidade de produzir para cerca de 475 milhões de pessoas – ou 6% da população global.
O custo estimado para disponibilizar a vacina contra a Covid-19 para toda a população mundial é de menos de 1% do impacto que a pandemia teve na economia global. O mais recente relatório do FMI (World Economic Outlook, de junho de 2020) projetou uma perda acumulada para a economia global entre 2020 e 2021 devido à pandemia de cerca de US$ 12 trilhões. O custo de produção e distribuição de uma vacina contra o coronavírus para toda a população mundial, de acordo com os dados do Acelerador de Acesso às Ferramentas Covid-19 (uma iniciativa do G20), é de cerca de US$ 70,6 bilhões.
A Oxfam e outras organizações pelo mundo estão fazendo campanha para uma Vacina para Todos, sem custos e distribuída de acordo com a necessidade dos países. Isso só será possível se as empresas farmacêuticas permitirem que as vacinas sejam produzidas em toda a parte, compartilhando seu conhecimento sem patentes.
“Existem momentos em uma sociedade em que os interesses coletivos devem estar acima dos individuais. Tragédias como a que o mundo está vivendo hoje e que está afetando, de forma brutal, milhões de pessoas colocam o objetivo de lucrar em um lugar, para dizer o mínimo, inaceitável. A vacina para esse Coronavírus deve estar disponível para todas as pessoas do planeta. Isso é uma questão de humanidade. “, afirma Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil.
Assine a petição por uma Vacina para Todas e Todos: www.oxfam.org.br/vacina-para-todos