Lidando com diversos impactos desde o início da pandemia de Covid-19, que vão da escassez de produtos à queda no resultado financeiro, os hospitais privados caminham lentamente rumo à recuperação. Na 4ª Nota Técnica – Observatório Anahp, a Associação Nacional de Hospitais Privados revela a evolução dos principais indicadores do setor neste ano, faz comparativos com os dados de 2019 e apresenta uma pesquisa inédita com as perspectivas dos dirigentes para 2021. O documento completo está disponível para download gratuito em conteudo.anahp.com.br/nt-observatorio-anahp-4a-edicao. O vídeo com comentários de especialistas pode ser conferido em:
Na publicação, divulgada nesta terça-feira (15), a entidade mostra que, embora tenha havido uma retomada, os números ainda estão abaixo dos registrados no passado. A taxa de ocupação de leitos dos hospitais associados, que era de 77,8% de janeiro a outubro de 2019, caiu para 66,5%, no mesmo período de 2020. “A queda representa o adiamento de procedimentos e cirurgias eletivas pelo receio dos pacientes em buscar o cuidado hospitalar e ambulatorial”, explica Ary Ribeiro, editor do Observatório Anahp e CEO do Sabará Hospital Infantil.
Analisando o perfil epidemiológico das internações nos hospitais Anahp, verifica-se uma variação de -2% no total, entre janeiro e outubro de 2020, considerando a mesma amostra de respondentes. Ainda que a diferença seja pequena, chama atenção o aumento de 3,3 p.p. na participação das internações relacionadas a doenças infecciosas- onde está classificada a Covid-19, e a diminuição das internações de pacientes com doenças dos aparelhos respiratório (-2 p.p.), digestivo (-1 p.p.) e circulatório (-0,5 p.p.).
Na urgência e emergência, o número de pacientes com suspeita de Covid-19, em relação aos atendimentos totais, subiu progressivamente de março a junho, quando atingiu a maior taxa registrada até o momento (19,5%). Nos meses seguintes, esse percentual apresentou queda, mas em outubro voltou a aumentar e registrou um crescimento de 1 p.p, em relação ao mês de setembro.
Empregabilidade
O mercado de trabalho no setor de saúde também sofreu os impactos da pandemia, embora em menor magnitude. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o saldo de geração de empregos formais do setor saúde foi positivo em 87,6 mil vagas, no acumulado de janeiro a outubro de 2020. Esse resultado ainda é menor do que o observado no mesmo período do ano passado, quando foram criadas 93,5 mil vagas.
A grande responsável pela geração de empregos formais no setor de saúde foram as atividades de atendimento hospitalar. De janeiro a outubro de 2020, foram abertas 63,6 mil vagas, resultado 39,5% maior do que o observado no mesmo período do ano passado, e que representa 72,6% das vagas criadas no setor de saúde como um todo.
“O aumento de novas vagas também está ligado à criação de 44 mil novos leitos, o maior número desde 2012. Esses dados mostram o dinamismo dos hospitais em se adequar à demanda, principalmente durante a pandemia de Covid-19”, explica André Medici, editor da Nota Técnica – Observatório Anahp, economista de saúde e consultor internacional da Anahp.
Finanças
A economia brasileira saiu da chamada “recessão técnica”, caracterizada por dois trimestres consecutivos de queda. No entanto, a alta de 7,7% no terceiro trimestre de 2020, na comparação com o segundo trimestre do ano, não foi suficiente para recuperar as perdas decorrentes da pandemia de Covid-19.
A margem EBITDA, que chegou a ser negativa em abril, mês com o maior número de casos de Covid-19 no País, cresceu gradualmente desde então e, em outubro, ficou em 13,1%. “O número está um pouco abaixo da média do 3º trimestre de 2019, que foi de 13,7%. Porém, comparando o mesmo período (julho-setembro), em 2020, houve uma queda de 2,5 p.p”, afirma Medici. No acumulado de janeiro a outubro, o resultado obtido neste ano foi ainda pior: 7,8% x 13,4% (2019).
Perspectivas 2021
Para avaliar o cenário atual e apurar as perspectivas do setor, a Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) realizou uma pesquisa de opinião com dirigentes de instituições de excelência do Brasil, membros da entidade. No total, 59 executivos participaram da pesquisa online. Os resultados serão divulgados junto a 4ª Nota Técnica – Observatório Anahp, que avalia os principais indicadores do setor, amanhã (15), às 18h.
Segundo 49% dos líderes, a receita do hospital obtida em 2020 deve se manter estável no próximo ano. Para 35%, haverá crescimento, enquanto 15% estimam algum grau de queda.
Em relação ao volume de atendimento, a expectativa é similar. Para 53% dos dirigentes, deve haver uma estabilidade em 2021, para 27%, aumento e, para 20%, queda
A perspectiva dos dirigentes está alinhada à percepção dos indicadores deste ano. Para 73% deles, embora tenha havido uma retomada na realização dos procedimentos eletivos, o número ainda é inferior ao de antes da pandemia.
A recuperação dos níveis pré-Covid é importante para que os hospitais equilibrem as finanças e voltem a crescer, uma vez que registraram uma forte queda na receita, logo após realizarem grandes investimentos para o enfrentamento ao coronavírus.
Os dirigentes consideram que suas instituições estão preparadas para atender novamente uma alta demanda de pacientes com Covid-19, sendo que 58% dos respondentes acreditam que suas instituições estão parcialmente preparadas.
O aumento do número de casos de Covid, observados em novembro e dezembro nos hospitais Anahp, não impactou a percepção de um cenário de estabilização ou aumento de receita e volume para 2021. “Acreditamos que esta recrudescência da pandemia não levará aos níveis de demanda da ‘primeira onda’ e nos parece que a percepção dos dirigentes reflete o preparo dos hospitais em lidar com fluxos adequados para o atendimento e o tratamento de pacientes com ou sem Coronavírus, garantindo a segurança assistencial. É muito importante que as pessoas que precisam de cuidados para suas condições não relacionadas ao vírus continuem buscando consultas, atendimentos eletivos ou nos prontos-socorros”, explica Ary Ribeiro, editor do Observatório Anahp e CEO do Sabará Hospital Infantil.