Uma aliança para condução de pesquisas formada por Hospital Israelita Albert Einstein, HCor, Hospital Sírio-Libanês, Hospital Moinhos de Vento, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, o Brazilian Clinical Research Institute (BCRI) e Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet), avalia a eficácia e a segurança de potenciais terapias para pacientes com Covid-19. Na nova pesquisa apresentada, o grupo verificou que adicionar tocilizumabe, medicamento utilizado para artrite, ao tratamento padrão contra o novo Coronavírus em pacientes hospitalizados com Covid-19 em estado grave, não é melhor do que o tratamento padrão sozinho.
Houve um aumento do número de mortes no período de 15 dias em pacientes recebendo tocilizumabe, resultando na interrupção precoce do estudo. Ainda há resultados contraditórios nos estudos randomizados sobre o real benefício do tocilizumabe. A Organização Mundial da Saúde (OMS) está realizando uma metanálise incluindo dados de todos os estudos randomizados com a droga, inclusive o estudo da Coalizão, para identificar o benefício da droga na Covid-19.
A droga bloqueia uma parte específica do sistema imunológico (interleucina 6) que pode estar associada a complicações relacionadas à inflamação na Covid-19. Para testar essa hipótese, os pesquisadores conduziram ensaio clínico randomizado comparando tocilizumabe mais o tratamento padrão com o tratamento padrão sozinho em pacientes internados com Covid-19 em estado grave ou crítico. Os resultados são baseados em 129 adultos relativamente jovens (idade média de 57 anos) com covid-19 confirmado em nove hospitais brasileiros entre 8 de maio e 17 de julho de 2020. Os pacientes estavam recebendo oxigênio suplementar ou ventilação mecânica e tinham níveis anormais de pelo menos dois exames de sangue associados à inflamação. Eles foram divididos aleatoriamente em dois grupos: 65 receberam tocilizumabe mais o tratamento padrão e 64 receberam apenas o tratamento padrão.
Outros fatores potencialmente importantes, como condições de base e uso de outra medicação, foram levados em consideração e todos os pacientes foram monitorados por 15 dias. No dia 15, 18 (28%) pacientes no grupo com tocilizumabe e 13 (20%) no grupo de tratamento padrão estavam recebendo ventilação mecânica ou morreram. Mortes em 15 dias ocorreram em 11 (17%) pacientes no grupo com tocilizumabe em comparação com 2 (3%) no grupo de tratamento padrão. O aumento do número de mortes no grupo que estava recebendo tocilizumabe levantou preocupações de segurança e o ensaio foi interrompido precocemente. Em ambos os grupos, as mortes foram atribuídas a insuficiência respiratória aguda ou disfunção de múltiplos órgãos relacionada a covid-19.
O grupo apontou algumas limitações, incluindo o pequeno tamanho da amostra, que afeta as chances de detectar um efeito assertivo. No entanto, os resultados foram consistentes após o ajuste para os níveis de suporte respiratório necessários para os pacientes no início do estudo. Como tal, os pesquisadores concluem que para pacientes com Covid-19 grave ou crítico, “tocilizumabe mais o tratamento padrão não foi superior ao tratamento padrão sozinho na melhoria do estado clínico em 15 dias e pode aumentar a mortalidade”. Além disso, eles dizem que esses resultados “levantam questões sobre uma abordagem antiinflamatória no tratamento de Covid-19 além dos corticoides”.
O estudo contou com apoio científico do Grupo Fleury e recursos financeiros do Instituto Votorantim.
Os outros estudos da Coalizão COVID-19 Brasil
- Coalizão IV – Está avaliando se a anticoagulação plena com rivaroxabana traz benefícios para pacientes com Covid-19 com risco aumentado para eventos tromboembólicos. Foram incluídos aproximadamente 400 de um total previsto de 600 pacientes em 40 centros.
- Coalizão V – Avalia a hidroxicloroquina previne o agravamento da Covid-19 em pacientes que não precisam de internação hospitalar. Foram incluídos pouco mais de 1000 pacientes de um total previsto de 1300 em 68 centros.
- Coalizão VII – Está avaliando o impacto a longo prazo, após alta hospitalar, incluindo qualidade de vida, de pacientes que tiveram Covid19 e foram participantes dos demais estudos da Coalizão. Em andamento. Foram incluídos 1120 pacientes.
- Coalizão VIII – Avaliará se anticoagulação com rivaroxabana previne agravamento da doença com necessidade de hospitalização em pacientes não-hospitalizados com formas leves da Covid-19.
- Coalizão IX – Avaliará se drogas antivirais isoladas e/ou em combinação entre si são efetivas para tratar casos de Covid-19 hospitalizados com doença moderada. Os antivirais a serem testados são atazanavir, daclatasvir associados a sofosbuvir. Previsão de início das inclusões em janeiro de 2021.