Uma estimativa das Sociedades Brasileiras de Patologia (SBP) e de Cirurgia Oncológica (SBCO) apontou que nos primeiros meses da pandemia 70% das cirurgias oncológicas foram adiadas. Além disso, ao menos 70 mil brasileiros deixaram de ser diagnosticados com câncer devido a não realização de exames essenciais para identificar a doença. “O câncer em estágio inicial frequentemente não dá sinais ou sintomas. Por isso, pode haver uma falsa sensação de segurança, de que está tudo bem. E justamente nessa fase a doença é curável, na maioria das vezes. Por isso, os atrasos nos tratamentos podem impedir a cura, e fazer em alguns meses surgir uma doença com sintomas e até incurável”, afirma André Deeke Sasse, oncologista CEO do Grupo SOnHe – Sasse Oncologia e Hematologia.
Para o triênio de 2020 a 2022, são esperados 600 mil novos casos de câncer no Brasil. E neste dia Mundial de Combate ao Câncer, comemorado dia 4 de fevereiro, data escolhida pela União Internacional Contra o Câncer (UICC) para celebrar todo o esforço no combate, prevenção e conscientização do câncer, o oncologista Higor Mantovani, também do Grupo SOnHe, afirma que é a batalha contra a doença começa muito antes do diagnóstico e que agora enfrenta um desafio ainda maior com a pandemia da Covid-19. “É necessário estimular uma rotina de hábitos mais saudáveis, além do combate ao tabagismo, ao alcoolismo e ao sedentarismo e obesidade (fatores de risco que muitas vezes passam despercebidos). É preciso difundir informações confiáveis e de qualidade sobre o câncer em geral, buscando desmistificá-lo e estimular sua prevenção. É também importante a cobrança pelo acesso uniforme às tecnologias envolvidas no tratamento do câncer. Por fim, é de suma importância que os pacientes sejam estimulados a manter a investigação, acompanhamento e tratamento oncológico. Finalizo parafraseando um dos slogans da campanha que hoje celebramos: ‘juntas, todas as nossas ações importam’. Que mesmo na pandemia, façamos diariamente o esforço para a prevenção e combate ao câncer”, explica o médico.
A boa notícia é que o tratamento do câncer evoluiu de maneira substancial nos últimos dez anos. O refinamento das técnicas de cirurgia e radioterapia, assim como o advento e a definitiva implementação de novos fármacos como a terapia alvo e a imunoterapia, trouxeram ganhos inimagináveis aos pacientes. “Entretanto, é sabido que o acesso a todos esses recursos ainda não é uniforme. O financiamento de tais tecnologias é tema perene de discussão e ainda é insuficiente para garantir o tratamento ideal e no tempo adequado para todos os pacientes”, explica Dr. Higor.
Segundo Dr. Higor, ainda que a ciência tenha evoluído no tratamento do câncer, o correto é investir e incentivar políticas de rastreamento e prevenção primária, visando a intervenção em lesões precursoras de câncer e o diagnóstico no estágio mais precoce possível. “Neste quesito, ainda estamos muito aquém do que desejamos para o Brasil. Infelizmente, nossos programas de rastreamento são escassos e têm cobertura, abrangência e eficiência muito heterogêneas a depender da região de nosso país. Por tal motivo, ainda temos taxas elevadas de câncer de colo de útero, por exemplo, mesmo que este seja um câncer totalmente prevenível”, finaliza o médico.