No momento em que as primeiras notícias a respeito do novo Coronavírus foram ouvidas, não se imaginava, a princípio, que o caso tomaria a proporção mundial. Quando a Covid-19 atravessou fronteiras e chegou ao nosso território, não demorou muito para que toda a população estivesse alarmada e que muitos adotassem protocolos de distanciamento social. Nos primeiros meses de pandemia, ainda havia muito cuidado por parte de muitas pessoas quando se tratava do vírus. Mas, conforme os meses foram passando e os números só aumentaram, por algum motivo, a população pareceu simplesmente deixar de se importar.
Festas e aglomerações, o que se viu por meio das redes sociais foi um cenário usual do antigo mundo ao qual se estava acostumado. Mas por qual razão o comportamento dos brasileiros se alterou desta forma com o passar do tempo durante a pandemia de Covid-19? A psicóloga e cooperada da Unimed Chapecó (SC), Carla Andreza Zeni Baú, explica que a mudança no comportamento depende dos recursos de enfrentamento de cada pessoa.
“As necessidades psicológicas, o medo da contaminação e o distanciamento social afetam os relacionamentos, senso de competência para agir e senso de autonomia para tomar decisões. Isso faz a população se acostumar com a ameaça e aderir pouco às medidas e cuidados”, aponta a psicóloga.
Segundo Carla, para quem vive a cultura de socializar, estar em isolamento não é uma tarefa fácil. “Somos seres biopsicossociais, tendo a socialização como um fator necessário para o nosso desenvolvimento intelectual. Diante da pandemia, cada pessoa reage de uma forma diferente. Ou seja, depende da história de vida, crenças, valores, da comunidade em que se vive também”, explica.
Porém, não se pode culpar apenas uma faixa-etária de pessoas pelo cenário que é visto atualmente. De acordo com a psicóloga, todos são responsáveis. “A percepção de ameaça à liberdade torna-se fonte de estresse, fazendo com que algumas pessoas apresentem estratégias mal adaptativas como negação, evitação e pensamentos de fuga”, destaca. Isso também vale para o quanto as pessoas têm segurança no processo de imunização por meio da vacina. “O excesso de dúvidas e informações desenfreadas podem ser um gatilho e tendem a alimentar mais medos sobre isso. Tem alguma dúvida? Consulte fontes confiáveis ou seu médico de confiança. Eu vejo que é muita informação desencontrada e que muitas pessoas têm se desestabilizado em relação a isso”, afirma.
A chegada da vacina
Com a chegada da vacina ao Brasil nos meses de janeiro e fevereiro, a esperança quanto a um futuro livre do Coronavírus surgiu para os brasileiros. A CoronaVac é a vacina produzida pela fabricante de medicamentos chinesa Sinovac Biotech em parceria com o Instituto Butantan do Brasil e está sendo aplicada em milhares de brasileiros. A vacina da AstraZeneca (empresa biofarmacêutica) foi desenvolvida junto à Universidade de Oxford e, no Brasil, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) é a responsável por sua produção. Ela também já circula pelo território nacional. Além dessas, o Brasil já está negociando a compra de outras vacinas, inclusive com tecnologia de RNA.
Alergista, imunologista e médica cooperada da Unimed Chapecó, Dra. Leda Sandrin ressalta a importância em não temer o uso da vacina. Afinal, a segurança é o primeiro ponto a ser garantido em sua produção. “As premissas da vacina são segurança, imunizar e não gerar uma doença”, ressalta Leda.
Dra. Leda não deixa de lado o fato de que o processo de vacinação no Brasil precisa ser acelerado. Ela ressalta também que ainda levará algum tempo para que as vacinas cheguem às clínicas privadas, pois o principal objetivo da Organização Mundial de Saúde é garantir as doses para os grupos prioritários e com maior risco, sendo que isto inclui uma parcela muito grande da população mundial de baixa renda. “A vacina é a única arma que temos para tornar os pacientes imunocompetentes antes do contato com o vírus”, ressalta.
Para Dra. Leda, o uso de máscara e o distanciamento social precisam ser adotados e defendidos. Ainda, seriam necessárias avaliações por meio de assistentes sociais e agentes comunitários a fim de detectar nas diferentes comunidades suas necessidades para aplicação de distanciamento social seguro.
A alergista e imunologista considera que a Covid-19 já se tornou endêmica, ou seja, não deixará de existir e, assim como outras doenças, a exemplo da influenza, provavelmente vai necessitar periodicidade vacinal. “Sabemos que o vírus com RNA sofre muitas mutações. Então, provavelmente teremos que mudar os imunizantes com certa frequência. O vírus vai ficar, em termos de epidemia? Provavelmente sim, de vez em quando poderão acontecer algumas epidemias”, explica Dra. Leda.
Porém, o que ela ressalta como o mais importante para o momento, é que se pense no coletivo. “As pessoas precisam ter uma consciência coletiva, não só pessoal. O que eu tenho observado, é um número elevado de pessoas que não respeitam o isolamento quando estão contaminadas. Se eu estou doente, devo procurar auxílio médico, ficar em repouso, em local ventilado e respeitar o isolamento. Ao sair de casa, devo sempre usar máscaras adequadas: bem adaptadas na face, sem deixar espaço nas laterais e cobrindo o nariz, a boca e o queixo. As máscaras utilizadas de forma inadequada podem favorecer a contaminação”, afirma a médica.
Autoconhecimento e empatia
A psicóloga e cooperada da Unimed Chapecó, Carla Andreza Zeni Baú, explica que antes da pandemia as pessoas tinham liberdade e isso foi tirado delas de repente. O fato de as pessoas estarem privadas do que é comum à sua cultura tem causado sofrimento psíquico. “A cultura é do abraço, do beijo, é de confraternizar, mas neste momento temos que nos reinventar para uma dimensão de cuidados”, aponta.
Carla ressalta formas de estar presente durante a pandemia. “A gente pode sim estar presente com as pessoas, nos colocando à disposição, fazendo uma videochamada, enviando uma mensagem. Importante também é perguntar qual é a forma que a outra pessoa gostaria de ser ouvida. É empatia, colocar em prática nos tempos de hoje. Saber ouvir é estar presente”, pontua a psicóloga.
Carla afirma que é difícil prever o cenário futuro para o comportamento humano, mas que as pessoas têm investido mais em autoconhecimento. Segundo ela, a tendência é que as pessoas procurem cada vez mais atendimento psicológico. “Aumentou-se, sim, essa demanda. As pessoas têm tido mais essa necessidade por situações relacionadas a questões de insegurança, medos, luto, estresse pós-traumático”, afirma.
De acordo com a psicóloga, o cuidado contínuo, sistemático e integrativo começa pela mudança de pensamento. Para ela, investir em autocuidado é um ato de amor consigo mesmo, pois dá a oportunidade de construir uma relação saudável com a vida. Uma das recomendações de Carla é o auxílio psicológico, que pode ser uma opção neste sentido. A Medicina Preventiva – Espaço Viver Bem da Unimed Chapecó – realiza atendimentos on-line com psicólogos para facilitar a proximidade durante a pandemia. “Buscar atendimento psicológico é investir em autoconhecimento”, pontua.