Vivemos, todos, juntos, aqui e agora, momento absolutamente diferenciado em termos históricos. Daqui 100, 200, 500 anos e para sempre, o pesadelo iniciado em 2020 (e hoje ainda sem perspectiva de encerramento) seguirá em estudo em alguma escola de um ponto qualquer do planeta.
Inimaginável há pouco tempo, a Covid-19 parece não ter limites, deixando rastro de mortes e dor. Exatamente enquanto escrevia esse artigo, a Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciava que o número de novos casos confirmados por semana quase duplicou nos últimos dois meses.
No Brasil, as estatísticas são estarrecedoras. Mais de 16 milhões de episódios e os óbitos se aproximando de 500 mil. Entre as gestantes e as puérperas, cresceu exponencialmente o número de mortes maternas por Covid-19.
Aliás, desde o começo da pandemia, uma em cada cinco gestantes e puérperas internadas com SARS-Cov-2 não tiveram acesso a unidades de terapia intensiva (UTI) e cerca de 34% não foram intubadas, derradeiro recurso terapêutico que poderia salvá-las, de acordo com Observatório Obstétrico Brasileiro COVID-19 (OOBr Covid-19).
Está mais do que na hora de uma reação coletiva, consciente e responsável. O passo 1 é compreender a nossa pequeneza. Tecnologia, ciência, viagens interplanetárias são conquistas maravilhosas. Entretanto, nem elas nem todo o conhecimento do mundo nos propicia o status de Deus, de imortais.
Já que somos “apenas” e felizmente seres humanos, reajamos como tais. A Covid-19 pode virar sinônimo de vida, ou melhor, de amor à vida. Assim como marco de uma virada de postura e de atitude para o bem.
Mais do que nunca é preciso olhar a Terra como o cantinho de todos nós e de cada um. A partir daí, dispor o coletivo de possibilidades reais de combater o novo Coronavírus.
O sistema de saúde deve oferecer leitos, oxigênio, medicamentos, recursos humanos, vacinas e tudo mais o que for e tudo mais que se faz essencial para conter a transmissibilidade. Campanhas de alerta aos cidadãos têm de ser sequenciadas e permanentes, até que vençamos essa batalha; e ainda depois dela.
É mister igualmente que o social vire prioridade, de fato, garantindo moradia, comida, educação, trabalho etc. O mundo não será jamais perfeito, mas pode ser mais justo.
Como médico, ao longo da carreira, sempre olhei pacientes com carinho, dispensando-lhes atenção compromissada e ética. É inerente ao nosso ofício gostar de gente, amar o próximo.
Prescrevo, agora, isso a cada um de nós: aja com amor, mude tudo, ainda é tempo.
Antonio Carlos Lopes é presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica (SBCM)