Nos dias 9 e 10 de junho, aconteceu o Fórum Brasil Imune, parte da programação da Semana de Imunização, promovida pelo Instituto Lado a Lado pela Vida (LAL) com o objetivo disseminar a importância da proteção imunológica, não apenas contra a Covid-19, mas também de outras doenças infecciosas. O segundo dia de evento abordou o futuro da vacinação no país pós-pandemia. Marlene Oliveira, presidente do instituto e idealizadora da campanha, explicou que hoje o Brasil se tornou um país de uma só doença e questionou como será a organização do Sistema Único de Saúde (SUS) nos próximos anos. Todo o conteúdo do evento estará disponível na página www.semanadaimunizacao.com.br. Além do Fórum, o site traz videoaulas e um Guia de Imunização para pacientes especiais.
Gonzalo Vecina, médico sanitarista e professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), uma das maiores autoridades do cenário da saúde no Brasil, pontuou que é preciso que o país tenha a capacidade de enxergar a próxima crise sanitária, com a criação de um banco de dados para antecipar situações futuras e com novos quadros de profissionais na área da epidemiologia genômica, mas o subfinanciamento histórico do SUS é um grande entrave para isso. “O tratamento das sequelas (da Covid-19) vai ser um problema muito grave no Brasil porque um dos problemas do SUS é que há uma dificuldade no que se trata de reabilitação.”
Sobre o futuro das imunizações no Brasil, Ana Marisa Chudzinski-Tavassi, diretora da Divisão de Inovação do Instituto Butantan, explicou que a pandemia escancarou os gargalos do país e, a partir de agora, teremos uma grande oportunidade de dar um novo rumo à imunização e à produção de tecnologias próprias. “Precisamos falar de uma política nacional de entendimento do que somos capazes, para onde vamos e se é viável nos tornarmos produtores de imunobiológicos de uma forma madura”.
De acordo com Ana Paula Burian, infectologista e coordenadora do Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE) de Vitória, no Espírito Santo, vivemos um momento crítico em que, devido ao sucesso das imunizações passadas, perde-se a percepção das doenças e as pessoas passam a não entender que elas persistem. A médica exemplifica dizendo que foram 265 casos de tétano com 68 óbitos no Brasil no ano passado, mas a população parece não estar atenta a isso. O biólogo Fernando Reinach corroborou com a fala de Ana Paula, enfatizando que a queda nas taxas de vacinação é um problema a ser combatido. “Se tem um programa com um sucesso total como o da vacinação, é natural que surjam movimentos antivacina porque não se vê mais as doenças que foram erradicadas.”
A respeito da vacinação para pacientes com problemas cardiovasculares, a cardiologista Ariane Scarlatelli Macedo, que também é diretora da Sociedade Brasileira de Trombose e Hemostasia (SBTH) e Membro do Comitê Científico do LAL, contou que o Brasil já possui vacinas altamente eficazes. “Pacientes vacinados contra a influenza tiveram uma redução de 25% nas mortes por diversas causas, reduzindo a incidência de infarto e AVC (acidente vascular cerebral)”.
Ariane ainda ressaltou que é preciso estar atento ao calendário vacinal dos idosos e que a vacinação deve estar na prescrição médica de forma direta. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o número de pessoas com mais de 60 anos chegará a 2 bilhões até 2050, representando um quinto da população mundial.
“Estamos vivendo uma infodemia”. É o que afirma a epidemiologista Edlaine Villela, diretora técnica do Grupo de Apoio às Políticas Públicas de Prevenção e Proteção à Saúde da Coordenadoria de Controle de Doenças da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. No evento, a especialista explicou que somos diariamente bombardeados com informações, que podem ser verdadeiras ou não, o que gera confusão. “Enquanto estamos lutando pela distribuição e logística (de vacinas), também precisamos estar atentos para combater as fake news para não prejudicar todo esse processo.”
O tema da imunização tem sido destacado pelo Instituto Lado a Lado pela Vida com maior ênfase desde o início de 2020, quando o assunto ganhou força devido à pandemia da Covid-19. Porém, pelo olhar do LAL, recebe ampla abordagem para que os brasileiros tenham mais informações sobre a importância da imunização nas distintas fases da vida e não somente na infância e, também, independentemente da pandemia.
As vacinas são uma das mais poderosas ferramentas da ciência e da medicina e os brasileiros têm desde final da década de 70, um dos mais eficientes programas nacionais de vacinação do mundo, o PNI (Programa Nacional de Vacinação) com inúmeros casos de sucesso como a erradicação da varíola e do sarampo, eliminação do tétano neonatal, do combate à meningite; ações de controle de doenças imunopreveníveis como difteria, coqueluche e tétano acidental, hepatite B, febre amarela, formas graves da tuberculose, rubéola e caxumba; além do conhecido programa de erradicação da poliomielite.
Poucos brasileiros sabem, mas o PNI também coordena a aquisição, distribuição e normatização do uso de imunobiológicos especiais, recomendados para grupos específicos como os de pacientes portadores de imunodeficiência congênita, infectados pelo vírus HIV, portadores de doenças neurológicas e hematológicas, cardiopatas, pneumopatas, pacientes oncológicos e transplantados, que são atendidos nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIEs) espalhados por todo o Brasil.