Um estudo realizado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e publicado na última quinta-feira (29), no periódico JAMA Ophthalmology, conseguiu identificar a presença de partículas do SARS-COV-2, o vírus da Covid-19, na retina de pacientes acometidos pelo novo Coronavírus. Para Rubens Belfort Jr, professor da Escola Paulista de Medicina da Unifesp (EPM/Unifesp) e coordenador da pesquisa, conjuntamente com Wanderley da Silva, da UFRJ, “a descoberta revela um biomarcador importante talvez relacionado à presença do vírus em outras partes do organismo e causador de outras doenças provocadas pelo Coronavírus”.
Para fazer essa identificação, em junho e julho de 2020, os pesquisadores realizaram enucleação post mortem de olhos, usando tecnologia de transplantes de córnea e relacionaram os achados clínicos com os obtidos por imunofluorescência, imuno histoquímica e processamentos de microscopia eletrônica de transmissão na retina de pacientes que estavam internados em hospital e faleceram em decorrência da gravidade da doença da Covid-19.
“As proteínas do vírus foram observadas nas células endoteliais, próximo à chama capilar e às células das camadas nucleares interna e externa da retina. Na região perinuclear dessas células, foi possível observar por microscopia eletrônica de transmissão, vacúolos de membrana dupla consistentes com o vírus, explica Rubens Belfort Jr., que também é presidente da Academia Nacional de Medicina.
Para os pesquisadores, a presença dessas partículas virais não só reforça possíveis manifestações clínicas oculares da infecção, como acende um importante sinal de alerta para a possibilidade de o vírus estar diretamente relacionados a diferentes formas da doenças e inclusive neurológicas pelas semelhanças com a retina, além da possibilidade de se constituírem santuários de persistência viral.
“Agora, está claro que após a infecção inicial no sistema respiratório, o vírus pode se espalhar por todo o corpo, atingindo diferentes tecidos e órgãos. Assim, as descobertas podem ajudar a elucidar a fisiopatologia do vírus e seus mecanismos etiológicos, o que pode permitir melhor entendimento das sequelas da doença e pode direcionar alguns caminhos de pesquisas futuras”, conclui Belfort Jr e Wanderley de Souza.