Segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (Isaps), a cirurgia para colocar próteses de silicone nos seios representa 15,8% de todos os procedimentos cirúrgicos estéticos. No entanto, nota-se uma redução no interesse de 3,6%, no período entre os anos 2018 e 2019. Nesse mesmo tempo, houve também um crescimento de 10,7% na retirada do silicone. Além disso, entre 2015 e este ano, o número de mulheres que procuram o explante de silicone aumentou em 50%, aproximadamente.
Dra. Tatiana Moura, graduada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e membro especialista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, explica que modismo, a síndrome ÁSIA (síndrome autoimune induzida por adjuvante) e o linfoma anaplásico de células gigantes são as principais razões que levam as mulheres a pedir o explante.
Esse tipo de câncer é um subtipo bastante raro de linfoma de células T. “Uma em 500 mil mulheres com próteses o desenvolvem e os índices de cura são superiores a 90% só com o explante da prótese e da cápsula, sem necessidade de outra terapia”, explica a cirurgiã plástica.
Segundo alerta da Sociedade Brasileira de Mastologia, “não há nenhum dado até o momento que justifique qualquer mudança de postura ou intranquilidade por parte das pacientes portadoras de implantes mamários, sejam elas oriundas de cirurgias estéticas ou reparadoras. Devem essas pacientes apenas de seguir com a realização de exame clínico mamário e exames de imagem regulares, e serem alertadas de que esta é uma condição muito rara, sobre a qual seu cirurgião a monitorará”.
Dra. Tatiana tem recebido pacientes que a procuram para saber como é a vida com próteses e quais os riscos de desenvolver a “doença do silicone”. Ela recorda que pode existir, sim, uma relação direta entre o uso da prótese e o desenvolvimento desse tipo de linfoma de células T. No entanto, não existe modelo experimental que possa comprovar cientificamente essa relação. “Então, trabalhamos com um efeito de causalidade, baseado em evidências clínicas apenas”, indica.
As outras duas principais razões para o explante mamário (moda e síndrome ÁSIA), de acordo com a cirurgiã, se explicam por mulheres, que em idade mais madura, não querem mais manter o colo muito marcado, inspirado em corpos malhados. “Muitas pacientes com próteses maiores passaram a trocar por próteses menores ou até a optar por ficar sem. Ocorre que alguém que colocou prótese aos 25 anos não chegue aos 50 anos com o mesmo desejo de volume e formato, por exemplo. Soma-se a isso o enaltecimento da autoaceitação e a fuga de padrões de beleza, muito divulgados por celebridades”, justifica.
A terceira razão, a síndrome Ásia, de origem autoimune, é induzida por estímulos ambientais. “Os sintomas são fadiga, dor muscular e articular, boca seca, comuns a muitas síndromes. O que há em comum é o fato de acometer pessoas geneticamente predispostas e seus estímulos servirem de gatilho para o aumento da inflamação causadora dos sintomas. E a faixa etária que apresenta tais sintomas coincide com a que mais procura próteses”, explica Tatiana.
No entanto, apesar da relação entre o uso de silicone e essas doenças ser estudada há 40 anos, não há evidências dessa relação causal também. Acredita-se que o aumento da síndrome ÁSIA em pacientes com próteses se deva à popularização do uso de próteses mamárias e por ocorrer em pessoas que desenvolveram doença autoimune. “Vale lembrar que é muito rara, sendo o risco de desenvolver doenças do tecido conjuntivo, após implantes, em apenas 0,8%, número muito próximo ao da população em geral”, indica a médica.
Importante – Dra. Tatiana alerta que antes de realizar um implante de silicone mamário ou explante, é interessante que a paciente saiba que:
- Doenças relacionadas a implantes de silicone são extremamente raras, mas existem;
- Ter prótese de mama é uma escolha, portanto pode-se voltar atrás;
- A realização do explante resulta em redução do volume mamário e na retirada de pele, por consequência;
- Sintomas da síndrome ÁSIA podem não sumir após o explante, se tiverem outras origens;
- Não há consenso sobre a volta de linfoma em pacientes que recolocaram prótese após o tratamento, sendo essa uma decisão da paciente e de seu médico.