A perda de peso de 15% ou mais deve se tornar um foco central de gerenciamento do diabetes tipo 2 (T2D), uma vez que pode reverter as anormalidades metabólicas da doença e, como tal, melhorar o controle da glicemia. A estratégia proposta, publicada no The Lancet, foi apresentada na Reunião Anual da Associação Europeia para o Estudo do Diabetes (EASD).
“Propomos que, para a maioria dos pacientes com diabetes tipo 2 sem doenças cardiovasculares, o foco principal do tratamento seja o gerenciamento do principal condutor da doença: a gordura corporal”, afirma o Dr. Ricardo Cohen, Coordenador do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e um dos autores do estudo.
A maioria dos pacientes, de 40 a 70%, com diabetes tipo 2 terá uma ou mais características de resistência à insulina, o que significa que a doença é provavelmente impulsionada pelo aumento da gordura corporal, como a presença de adiposidade ao redor da cintura, múltiplas marcas de pele, pressão alta e doença hepática gordurosa.
O estudo avaliou uma intervenção intensiva de estilo de vida em pacientes com sobrepeso ou obesidade e que desenvolveram o diabetes tipo 2 há menos de 6 anos. Como resultado, foi identificada a remissão da doença em 70% daqueles que perderam 15kg ou mais (com peso médio de 100 kg).
Além de ajudar no controle de açúcar no sangue, o protocolo traz alguns benefícios adicionais em outras complicações relacionadas à obesidade, como fígado gorduroso, febre obstrutiva do sono, osteoartrite, pressão alta e perfil elevado de gorduras no sangue, tendo assim um impacto muito maior na saúde geral da pessoa.
O uso de remédios e cirurgias para a perda de peso são apontados pelos autores como complementos para o tratamento da doença. De acordo com o Dr. Ricardo Cohen, a cirurgia bariátrica tem mostrado benefícios imediatos e sustentados para pacientes com diabetes tipo 2 e obesidade, diminuindo a necessidade de redução de glicose em poucos dias de cirurgia e melhorando múltiplos indicadores de saúde a longo prazo.
Apesar de seus benefícios consideráveis, o procedimento cirúrgico complexo não é viável para uma intervenção em toda a população, ao contrário da farmacoterapia, que ajuda na perda de peso em aproximadamente 5%. No entanto, mesmo com as medicações disponíveis, apenas uma minoria de pessoas sustenta a perda de peso necessária para alterar materialmente o curso do diabetes tipo 2, mesmo com as mudanças no estilo de vida, que como indica o estudo, são particularmente difíceis de manter fora de um ambiente de ensaio clínico.
Diretrizes de tratamento
Dentre as considerações indicadas pelos autores para a definição de metas de tratamento para pacientes com diabetes tipo 2, está a atualização das diretrizes, tendo como alvo primário a perda de peso. Os sistemas de saúde devem focar nos benefícios da redução da obesidade na prevenção ou controle do diabetes tipo 2, em vez dos custos mais elevados de tratar alguém com o avanço da doença e o conjunto de complicações que podem vir com a condição.
“É o momento certo para considerar a perda de peso substancial, de mais de 15%, como principal alvo para o tratamento de muitos pacientes com diabetes tipo 2. Tal mudança nas metas de tratamento reconheceria a obesidade como uma doença com complicações reversíveis e exigiria uma mudança no atendimento clínico”, finaliza Dr. Ricardo Cohen.