De acordo com a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), cerca de 10 milhões de pessoas no país possuem doença renal crônica (DRC)¹, deterioração da função renal de longa duração e progressiva. São também 4 milhões de brasileiros com insuficiência cardíaca (IC)², enfermidade crônica caracterizada pela incapacidade do bombeamento de sangue corretamente por parte do coração, prejudicando o recebimento de nutrientes e oxigênio.
O potássio é um mineral encontrado em diversos alimentos e o corpo humano precisa dele para manter os músculos, nervos e o coração funcionando. Sendo assim, é um nutriente importante, responsável por regular as funções nervosa e muscular, bem como equilibrar os fluidos e eletrólitos no corpo³.
Causada pela presença de níveis elevados de potássio no sangue e quase sempre assintomática, a hiperpotassemia é uma complicação comum entre pacientes com doença renal crônica e insuficiência cardíaca⁴. Em geral, há vários fatores contribuintes além do aumento da ingestão de potássio, como fármacos que prejudicam a excreção renal⁵.
Um em cada três pacientes com DRC ou IC que realizam tratamento com medicamentos inibidores do sistema de renina angiotensina aldosterona (SRAA) podem desenvolver a condição⁶, que apresenta manifestações clínicas neuromusculares, resultando em fraqueza e toxicidade cardíaca, com sintomas que vão desde náuseas, fadiga muscular e formigamento, até arritmias e paradas cardíacas em casos mais graves⁷.
Descobertas para o tratamento
Neste ano, a AstraZeneca lançou no Brasil um tratamento que pretende beneficiar pacientes com hiperpotassemia. Aprovada pela Anvisa, a terapia com a molécula é indicada para paciente adultos e vem demonstrando resultados positivos.
Os estudos clínicos tiveram a participação de mais de 1.700 pacientes, que em até 1 hora após a primeira dose do medicamento apresentaram rápida redução dos níveis de potássio no sangue, sendo que 88% deles mantiveram níveis controlados por 11 meses⁸. Além disso, 90% dos pacientes com condições renais e/ou cardiovasculares mantiveram a terapia com inibidor do sistema de renina angiotensina aldosterona (iSRAA) por 12 meses⁹.
As reações adversas mais frequentemente relatadas com a molécula foram eventos relacionados a edema, os quais foram reportados por 5,7% dos pacientes tratados. Cinquenta e três por cento destes pacientes foram tratados com a introdução de diuréticos ou com o ajuste da dose de um diurético; os outros não precisaram de tratamento.
Entendendo a condição
O potássio é eliminado pelo corpo pelos rins, que funcionam como filtros para dispensar excesso de minerais, fluidos e resíduos. Em situações normais, os rins são responsáveis pela eliminação de 90% do potássio consumido diariamente, sendo os 10% restantes excretados pelas fezes⁴.
Nos estágios iniciais da doença renal, os rins podem compensar o alto nível de potássio, entretanto, à medida que a função renal piora, eles podem não conseguir remover potássio suficiente do corpo. Com isso, pacientes com doença renal apresentam um maior risco para hiperpotassemia, devido à diminuição da excreção renal de potássio⁴.
Segundo dados da literatura, aproximadamente 50% das pessoas que vivem com a doença renal crônica apresentam hiperpotassemia quando comparados à 2-3% da população geral⁴. Além disso, pacientes com DRC associada a diabetes mellitus e/ou insuficiência cardíaca apresentam maior risco de desenvolver essa alteração metabólica¹⁰.
Uma pessoa saudável possui cerca de 3,5 a 5,0 milimoles por litro (mmol/L) de potássio no sangue, enquanto um paciente com hiperpotassemia ultrapassa 5,0 mmol/L4. Pacientes com doença renal em diálise representam 33,3% dos casos; os que têm injúria renal aguda são 25,7%; doença renal crônica não dialítica, 14,6%; insuficiência cardíaca, 8,6%; e diabetes, 8,4% dos casos⁷.
O diagnóstico da hiperpotassemia se dá por meio do controle de níveis de potássio, pela medida da concentração plasmática através de exames de rotina, mas a melhor forma de prevenção é controlar a ingestão do nutriente e manter uma dieta balanceada⁵.
O tratamento, por sua vez, pode ser feito também por meio do ajuste de fármacos, uso de resinas de troca de cátions e, nas emergências, administração de gluconato de cálcio, insulina* e hemodiálise⁵. Além disso, deve ser acompanhado continuamente por equipe multidisciplinar a fim de entender os mecanismos de evolução. Só assim será possível retardar e até mesmo impedir a progressão da complicação, garantindo melhor qualidade de vida aos pacientes crônicos¹¹.
*A terapia citada é uma prática clínica utilizada há anos e presente em guidelines de tratamento. A classe terapêutica não tem aprovação regulatória local para essa indicação e não é utilizada para fins de promoção. Caráter meramente informativo
Material destinado para médicos. BR-30882. Aprovado em maio de 2024.
Referências:
- Ministério da Saúde. Dia Mundial do Rim 2019: Saúde dos Rins Para Todos. Disponível em: bvsms.saude.gov.br/14-3-dia-mundial-do-rim-2019-saude-dos-rins-para-todos. Acesso em 18 de abril de 2024
- Arq. Bras Cardiol. 2018 Set;111(3):436-539. doi: 10.5935/abc.20180190
- O Globo. Potássio: para que serve, onde encontrar e sintomas da deficiência. Disponível em: oglobo.globo.com/saude/guia/potassio-para-que-serve-onde-encontrar-e-sintomas-da-deficiencia.ghtml. Acesso em 18 de abril de 2024
- PACIENTE, Faz Bem – Programa de Cuidado e Apoio Ao. Hiperpotassemia: Níveis elevados de potássio no sangue. Disponível em: programafazbem.com.br/blog/post/hiperpotassemia. Acesso em 18 de abril de 2024
- Manual MSD. Hiperpotassemia. Disponível em: www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-end%C3%B3crinos-e-metab%C3%B3licos/dist%C3%BArbios-eletrol%C3%ADticos/hiperpotassemia. Acesso em 18 de abril de 2024
- Epstein M, Reaven NL, Funk SE, McGaughey KJ, Oestreicher N, Knispel J. Evaluation of the treatment gap between clinical guidelines and the utilization of renin-angiotensin-aldosterone system inhibitors. Am J Manag Care. 2015;21(11 suppl):S212-S220.
- National Kidney Foundation. What is hyperkalaemia? www.kidney.org/atoz/content/what-hyperkalemia. Acesso em 18 de abril de 2024
- Kosiborod M, Rasmussen HS, Lanvin P, et al. Effect of sodium zirconium cyclosilicate on potassium lowering for 28 days among outpatients with hyperkalemia: the HARMONIZE randomized clinical trial. JAMA. 2014, 312: 2233
- McDonagh TA, Metra M, Adamo M, et al. 2021 ESC Guidelines for the diagnosis and treatment of acute and chronic heart failure. Eur Heart J.
- Brazilian Journal of Nephrology. Interações entre a doença cardiovascular e a doença renal crônica. Disponível em: www.bjnephrology.org/en/article/interacoes-entre-a-doenca-cardiovascular-e-a-doenca-renal-cronica. Acesso em 10 de maio de 2024
- Pellissari R, Sanches A. Eventos adversos a medicamentos associados à função renal e hipercalemia em uma revisão bibliográfica. Brazilian Journal of health Review. 2021