Um poema diz que “O homem é um abismo que olha para outro abismo”. Essas palavras de Fernando Pessoa nos fazem perceber que o olhar não só nos conecta com o mundo exterior, mas também é uma ponte para nossa saúde interior onde há emoções, reflexões e ideias criativas.
A grande maioria das pessoas trata como prioridade a saúde dos olhos e tem um grande medo de perder a visão devido a doenças ou acidentes. No entanto, uma das grandes contradições em todo o mundo é que a minoria frequenta médicos especialistas. Um exemplo são os dados revelados pela Global Sight Survey 2021, onde o Brasil foi incluído pela primeira vez (1).
Em uma amostra de estudo com 2.000 pessoas consultadas no Brasil, 90% disseram que cuidar da sua saúde visual é prioridade e 91% disseram ter muito medo de perder a visão. Em contrapartida, apenas 38% disseram ter ido a algum exame ou consulta para verificar a saúde de seus olhos.
Todo dia 14 de outubro é comemorado o Dia Mundial da Visão e para este ano, as associações de oftalmologistas e outros profissionais de saúde visual querem convidar as pessoas a pensar sobre a importância da saúde visual e por que devemos priorizar os cuidados com os olhos.
A Agência Internacional para a Prevenção da Cegueira (IAPB), pediu a junção de vozes em torno do slogan ‘Ame seus olhos’ (2) e organizações como Johnson & Johnson Vision, reforçam a campanha educacional Priorize seus Olhos (PYE), para que as pessoas realizem pelo menos um exame ocular anualmente.
Há evidências crescentes de que escolhas saudáveis são a coisa mais importante na assistência à saúde. A Johnson & Johnson Global Sight Survey 2021 contribui para o esforço global para revelar aspectos sobre a experiência e a percepção das pessoas sobre a saúde ocular.
O fato do Brasil ter sido incluído pela primeira vez nesse ano permitiu conhecer dados muito reveladores, por exemplo, de que no país a confiança nos profissionais de saúde visual é uma das mais altas do mundo (88%), mas também foi revelado que há uma crença equivocada de que ir a uma consulta é muito caro (33%) e que as pessoas não teriam dinheiro suficiente para consultar um especialista em olhos (49%) ( 1)
A pesquisa também revelou que o medo da exposição ao Coronavírus foi a principal razão pela qual as pessoas não marcaram uma consulta oftalmológica (28%).
Algumas das respostas da pesquisa indicam que as pessoas sabem que, ao examinar os olhos, cuidam de outros aspectos de sua saúde, pois 49% dos pacientes brasileiros dizem que os profissionais de saúde informaram sobre as condições relacionadas ao cuidado ocular. No entanto, 44% não sabem que um exame oftalmológico pode ajudar a detectar sinais de doenças crônicas como diabetes, pressão alta ou câncer (1).
A educação é a ferramenta que transforma e deixa legados mais duradouros. As campanhas que convidam a uma consulta ocular anual, como Priorize Seus Olhos, buscam ressaltar que a saúde ocular é fundamental para a saúde integral, não só física, mas mental e emocional, pois ao olhar para o mundo exterior também olhamos para o que acontece dentro de nós e ao amar seus olhos, uma pessoa ama a si mesmo.
Referências:
- Johnson & Johnson Visual. J&J Global Sight Survey 2021. Participantes globais: 16.034 entrevistas online; Países: Participantes globais: 16.034 entrevistas online; Países: 21 de julho a 31 de agosto de 2021;
- Agência Internacional para a Prevenção da Cegueira. Dia Mundial da Visão 2021. www.iapb.org/world-sight-day;
- Campanha de JJ PYE. www.jjvision.com/prioritizeyoureyes.
Apneia do sono aumento risco de glaucoma, aponta estudo
Roncar pode até parecer normal, mas não é! O ronco pode estar associado à apneia obstrutiva do sono (AOS). Trata-se de uma condição caracterizada pela obstrução intermitente das vias aéreas superiores durante o sono.
Nessas pausas da respiração, que podem durar até 2 minutos, o organismo entra em hipóxia, ou seja, falta oxigênio para as células, incluindo para as do nervo óptico.
Segundo um estudo publicado no periódico Ophthalmology, pacientes com apneia do sono têm um risco de 1,67 maior de desenvolver o glaucoma nos 5 anos após o diagnóstico. Nesses casos, o mais comum é o de pressão normal, um dos tipos de glaucoma de ângulo aberto.
Cegueira irreversível
Segundo a oftalmologista Dra. Maria Beatriz Guerios, especialista em glaucoma, o glaucoma é o termo geral que se usa para nomear as doenças que causam danos no nervo óptico. “Esses danos são irreversíveis. Portanto, quando há falta de oxigênio, as células nervosas morrem. Com o tempo e sem tratamento, a consequência é a perda definitiva da visão”.
“Frequentemente, a falta de oxigênio (hipoxemia) causada pela apneia do sono costuma ser grave. O resultado é um aumento da resistência vascular com influência direta na morte das células do nervo óptico. Além do glaucoma, a apneia do sono pode estar associada a outras doenças oculares”, explica Dra. Maria Beatriz.
Dados de estudos epidemiológicos indicam que a prevalência da apneia do sono pode variar de 2% a 20% da população em geral. Normalmente, os homens são mais afetados do que as mulheres. Há algumas comorbidades que aumentam ainda mais o risco, como obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares.
Diagnóstico e Tratamento
O grande problema do glaucoma é que não há sinais ou sintomas nas fases iniciais. “Isso quer dizer que quando o paciente percebe alguma mudança no seu campo visual, a doença já está em uma fase mais avançada. Nesses casos, o tratamento visa impedir a progressão dos danos no nervo óptico”, diz a especialista.
Um dos agravantes é que no caso do glaucoma de pressão normal, como o próprio nome diz, não há alteração nos valores da pressão intraocular (PIO), considerada o principal fator de risco do glaucoma.
“Portanto, a doença pode passar despercebida nas consultas oftalmológicas, caso o oftalmologista não faça outros exames, como o de fundo de olho e não leve em consideração o histórico médico do paciente”, alerta Dra. Maria Beatriz.
Por isso, é altamente recomendado que pacientes com histórico de apneia do sono, obesidade, doenças cardiovasculares e diabetes, por exemplo, façam um acompanhamento regular com um oftalmologista, de acordo com a médica.
O tratamento mais comum para o glaucoma de pressão normal é o uso de colírios. Há outras opções, dependendo da gravidade do quadro, como as cirurgias a laser.