A retomada dos procedimentos médicos que ficaram “represados” durante a crise da Covid-19, deu impulso a um movimento que vinha ocorrendo no país há anos. Os custos dos serviços em saúde – oferecidos por operadoras de saúde suplementar ou por empresas a seus funcionários – crescem ano após ano, impactados também pela chamada ‘inflação na saúde’.
Resultado: as operadoras de planos de saúde individuais e familiares foram autorizadas pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) a aplicar reajustes de 15,5% nas mensalidades. O maior reajuste até então havia sido de 13,57%, em 2016. No caso das empresas com contratos coletivos, empresariais ou por adesão, o aumento pode ser maior, considerando que a negociação é livre e há registros de reajustes superiores a 25%.
Em paralelo à alta dos custos, há um agravante: a cultura de desperdício na saúde. Ela está consolidada pelo funcionamento do sistema e pelo modo de utilização dos serviços, com comportamentos aparentemente inofensivos, mas bastante danosos, como a repetição de exames de forma desnecessária, a utilização desmedida de recursos e idas excessivas ao pronto-socorro. Esse modus operandi causa um desperdício estimado em mais de R$ 40 bilhões, que interfere ativamente na segurança dos pacientes e no custo do serviço.
Portanto, o maior desafio do setor de saúde atualmente é modificar o seu modelo de atuação para continuar viável. As práticas vigentes não centram na promoção à saúde e na prevenção de doenças – em vez disso, buscam remediar problemas que já existem. Há necessidade de mudar essa dinâmica, direcionando o foco para a Atenção Primária em Saúde (APS), para a prevenção e até mesmo a remuneração atrelada a resultados. Experiências de outros países mostram que o modelo reduz de forma significativa o custo assistencial, garantindo ainda a melhora da qualidade do serviço.
Há muito a fazer – e por certo essa é uma mudança que exige tempo. Mas toda jornada começa pela decisão de mudar e pelos primeiros passos. Rever conceitos, ousar pensar diferente e implementar mudanças pode ser vital para que as pessoas possam continuar usufruindo desse benefício essencial de forma sustentável. Isso é ser incansável por uma saúde melhor.
André Machado é CEO da AsQ