Guilherme nasceu com epilepsia. Do parto até a adolescência, sofreu com as dezenas de convulsões e não foi raro ao longo de sua vida ter até 50 crises diárias. Mesmo fazendo acompanhamentos médicos e recebendo os tratamentos convencionais para administrar a doença, a família do agora jovem de 21 anos, recorreu à medicina canabinoide como complemento para amenizar a doença rara e considerada de difícil tratamento. Foi aos 15 anos que o CBD entrou na vida deste paciente, para levar bem-estar. Os efeitos positivos resultaram também na melhora do relacionamento entre mãe e filho. Não é raro ouvir de Daniela Costa que o tratamento com canabidiol resultou também em uma “presença maior de Guilherme como filho”. Esse paciente é apenas um dos cerca de 4 milhões que podem ser beneficiados por medicamentos à base de Cannabis.
Mesmo sabendo desse potencial de mercado, o Brasil ainda precisa avançar no fomento à informação sobre medicina, de forma integrada entre famílias, consultórios e empresas do chamado “Cannabusiness”. Investidores, comunidade científica e empresários precisam entender, antes de mais nada, que sem prescritores este mercado não irá perseverar no Brasil. É exclusivamente a partir de uma receita médica, sob a autoridade e conhecimento do responsável pelo diagnóstico, que o CBD leva qualidade de vida para famílias e pacientes. Ou seja, para democratizar a Cannabis medicinal no vasto território brasileiro, é necessário um trabalho forte na formação e na qualificação dos profissionais da saúde.
Hoje, contamos com mais de 500 mil médicos em atuação no Brasil, mas apenas 2 mil deles efetivamente prescrevem a Cannabis medicinal. Ou seja, apenas um a cada 250. Mesmo com nomes consagrados entre a comunidade científica brasileira, como a do pesquisador e professor Elisaldo Carlini, referência mundial no assunto e falecido no último de 16 de setembro, aos 91, os empresários precisam ter em mente que não basta apenas registrar um produto no país e obter uma autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para comercializar esses produtos. Para que a Cannabis medicinal chegue na casa dos pacientes, é necessários ouvir suas histórias, empoderar as famílias de informações de qualidade sobre o assunto para que elas não sejam vítimas de desinformação e preconceitos e, principalmente, impactar médicos e pesquisadores com estudos laboratoriais e clínicos em relação ao assunto.
Na HempMeds, empresa de importação da Cannabis medicinal no Brasil, temos esses princípios não são apenas um modelo de negócios, mas também propósito. Quando a empresa desembarcou no Brasil, não se restringiu a trazer o produto, mas também chegou com o objetivo de incrementar a formação e a qualificação dos prescritores. Desde 2015 promovemos workshops para profissionais de saúde, levando conhecimento sobre como e quando recorrer à medicina canabinoide nas prescrições médicas. Como autoridades de saúde, eles precisam ter autonomia inclusive para saber se o CBD precisa, de fato, complementar outros tratamentos.
De fato, no último ano, avançamos bastante. A Anvisa criou uma categoria específica para produtos derivados de Cannabis, permitindo que ele chegue nas farmácias. O órgão regulador ainda flexibilizou e desburocratizou a importação. O Congresso Nacional, a sociedade civil, empresários e famílias têm promovido debates. No entanto, para que o canabidiol se torne uma realidade, ainda é preciso que a iniciativa privada e novos players não se preocupem apenas em trazer frascos e seringas de CBD. Eles precisam trazer também a informação baseada nas evidências.
Renato Anghinah é Chief Medical Officer (CMO) Global da HempMeds