Artigo – Impacto socioeconômico do câncer de pulmão

O câncer de pulmão é o tumor mais frequentemente diagnosticado (11.6% dos casos), além de figurar como a principal causa de morte (18.4%) por câncer no mundo, segundo dados do GLOBOCAN 2018. Mas qual é o impacto econômico da doença? Um estudo publicado pela revista Cancer Epidemiology em 2018, avaliou o impacto financeiro da perda de produtividade causada pelas mortes devido ao câncer nos países emergentes BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Constatou-se que o câncer de pulmão foi o tumor que mais causou prejuízos financeiros ao Brasil.

A análise feita pelos pesquisadores considerou o quanto as pessoas que morreram por câncer em 2012 deixaram de contribuir economicamente, enquanto estariam economicamente ativas, até o final de suas carreiras, caso estivessem em condições saudáveis. Crianças e pessoas em idade para aposentadoria não foram levadas em consideração.

A pesquisa também mostrou que os países que compõem o grupo BRICS sofreram um prejuízo de 46,3 bilhões de dólares causado por mortes prematuras em decorrência do câncer em 2012. Além disso, o BRICS apresenta 42% das mortes causadas pela doença no mundo.

Considerando a incidência do câncer de pulmão, são estimados em torno de 30.000 mil novos casos no Brasil em 2018, e seus impactos sociais e econômicos, é crítico para o controle desta doença no país que haja uma priorização de acesso à prevenção, rastreamento e tratamentos que impactam na sobrevida destes pacientes, mesmo quando diagnosticado em estágio avançado.

O tabagismo é um fator crítico para o desenvolvimento desse tipo de câncer estando associado em cerca de 90% dos casos diagnosticados, porém vale ressaltar que não é o único fator de risco, já que a doença também pode afetar não-fumantes. Estudo recente sugere que os casos de câncer de pulmão associados a não-fumantes vêm aumentando nas últimas 2 décadas nos Estados Unidos (8% para 14.9%), fato que deve ser melhor estudado. Câncer de pulmão tipo não pequenas células perfazem 80% dos casos, e hoje é dividido em diferentes subtipos de acordo com alterações moleculares.

O diagnóstico precoce do câncer de pulmão é desafiador, já que a doença pode ser inicialmente assintomática ou haver a apresentação de sintomas inespecíficos semelhantes aos de outras doenças respiratórias e, por isso, a maior parte dos pacientes são diagnosticados com doença localmente avançada ou metastática, o que impacta no tratamento e prognóstico. Assim, é importante que as pessoas, especialmente os tabagistas, procurem orientação médica caso os sintomas de tosse, catarro, falta de ar progressiva, sangue no escarro e dor no peito persistam por tempo prolongado.

O câncer de pulmão é diagnosticado por meio de exames de imagem, como a tomografia computadorizada, e confirmado por biópsia do tumor. No caso de diagnóstico de tumores adenocarcinomas é necessário realizar testes moleculares específicos que indicarão o subtipo da doença. Um dos subtipos que pode ser definido com esse exame é o adenocarcinoma com mutação no EGFR, os quais são frequentes no Brasil (em torno de 22 a 33% destes tumores).

O câncer de pulmão é sabidamente um tumor agressivo, os tratamentos evoluíram e, além da quimioterapia e da radioterapia, já existem as chamadas terapia-alvo, cujo objetivo é atingir preferencialmente as células cancerígenas com alterações genômicas, tornando o tratamento mais assertivo e com melhores resultados em termos de sobrevida. Por exemplo, para pacientes diagnosticados com o adenocarcinoma de pulmão e presença de mutação no EGFR o Afatinibe, terapia-alvo, demonstrou melhor eficácia e tolerabilidade em comparação com a quimioterapia e hoje é indicado como primeira linha de tratamento em pacientes adultos com esse subtipo da doença, sendo recentemente incluído no rol de procedimentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Portanto, os avanços das pesquisas e evolução dos tratamentos oferecem excelentes perspectivas aos pacientes com câncer de pulmão.

Dr. Gustavo Werustky é diretor do Latin American Cooperative Oncology Group, Porto Alegre, Brazil

Redação

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