Condição bastante comum entre os brasileiros, o sedentarismo aumentou consideravelmente na pandemia. Um levantamento realizado em 2020 pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) apontou que 62% da população não realizou nenhuma atividade física durante o período de isolamento social. A jornalista Júlia Trindade de Araújo, de 28 anos, de Curitiba (PR), é um exemplo dessa realidade. “Antes da pandemia, eu havia começado a praticar corrida, mas, por conta do isolamento, acabei perdendo o hábito de realizar exercícios físicos e tem sido difícil voltar”, afirma.
Júlia não é a única. Apesar do retorno gradual das pessoas aos hábitos que costumavam levar até o início da pandemia, a prática regular dos exercícios físicos não foi retomada como deveria por uma enorme parcela da população. O que pode significar indivíduos mais estressados, com a alimentação e o sono comprometidos, o que, certamente, vai prejudicar a performance pessoal, social e profissional das pessoas.
De acordo com o médico do esporte, Pedro Murara, do Hospital Marcelino Champagnat, em Curitiba (PR), a falta da prática de exercícios físicos regulares é um grande fator de risco para doenças crônico-degenerativas, doenças cardiovasculares, metabólicas e oncológicas. “As doenças crônico-degenerativas são a maior causa de mortes no mundo atualmente. Vários tipos de câncer já são, comprovadamente, associados à falta de atividade física. Portanto, é claro que o sedentarismo traz profundo impacto na saúde do indivíduo”, alerta o médico.
Para o especialista, essa ociosidade física, além de contribuir para uma sociedade mais propensa ao adoecimento, também resulta em um número maior de casos de pessoas que não cumprem suas tarefas profissionais e têm queda na produtividade. “Existem estudos que tentam identificar também o impacto do sedentarismo sobre o presenteísmo, que é a pessoa estar presente no ambiente de trabalho, mas apresentar uma produtividade baixa”, ressalta.
Programas de qualidade de vida revistos
De olho nesse cenário, empresas se mostram cada vez mais preocupadas com a saúde e o bem-estar de seus colaboradores e começam a promover ações corporativas de estímulo à prática de atividades físicas e combate ao sedentarismo. O Grupo Marista, onde Julia trabalha, é uma delas. A jornalista conta que algumas ações organizadas pela empresa, como uma corrida e caminhadas especialmente para colaboradores, já começaram a surtir efeito no seu bem-estar. “O fato de ter me inscrito para participar da corrida, já me animou a fazer caminhadas para ter mais preparo físico, e adotar hábitos alimentares mais saudáveis. Tenho acordado mais cedo para me exercitar e já percebi que nesses dias começo a minha jornada de trabalho me sentindo muito mais disposta”, comemora.
A especialista em saúde corporativa e responsável pelo Programa de Qualidade de Vida do Grupo Marista, Luciana de Souza Augusto, diz que o objetivo do evento é justamente tirar as pessoas da inatividade e ajudá-las a dar o primeiro passo para incluir, de forma regular, a atividade física em suas rotinas. De acordo com Luciana, a ação da corrida foi amplamente aceita pelos funcionários. As 300 vagas disponibilizadas foram rapidamente preenchidas. A preocupação com o tema vem fazendo com que o Grupo invista também na oferta de benefícios como uma plataforma corporativa que, por meio de uma assinatura, permite aos colaboradores acesso a academias credenciadas, aulas virtuais e conteúdos de atividade física. Além disso, um aplicativo foi desenvolvido para que, depois do preenchimento de um questionário, sejam monitoradas a saúde e os hábitos de vida de quem participa, oferecendo conteúdos personalizados e a indicação dos melhores programas para o momento de vida do funcionário.
“Depois da pandemia, sentimos a necessidade de reformular nosso Programa de Qualidade de Vida a fim de reforçar a atenção sobre o bem-estar e saúde física e mental de nossa equipe, sabendo que cuidar do corpo é um dos primeiros passos para se garantir também a saúde emocional. São vários os fatores que permitem ao indivíduo se sentir bem e feliz para viver e trabalhar. A atividade física é um deles, portanto, combater o sedentarismo é muito importante, porque sabemos que as pessoas que se exercitam com frequência, sofrem menos, por exemplo, com quadros de ansiedade e depressão”, completa Luciana.