Nesta última quarta-feira (10), palestrantes convidados pelo Fundo de População da ONU (UNFPA) debateram sobre as Estratégias de Mobilização Social em Resposta à Covid-19. Ao longo da discussão, a ausência de dados sobre as populações em situação de vulnerabilidade no País esteve entre os temas abordados.
Participaram do debate, o professor da Faculdade de Saúde Pública da USP, Gonzalo Vecina, o Coordenador geral da REBRAPD e professor da UFRJ, Richarlls Martins; a Gestora da Mídia Ninja e ativista do Fora do Eixo, Dríade Aguiar e a Diretora Associada do Programa de Saúde Comunitária e membro do Comitê Executivo para Ações de Hepatites Virais (CATIE/Canadá), Melisa Dickie.
O contexto de pandemia da Covid-19 vem exigindo respostas de todos os setores da sociedade. A mobilização e atuação da sociedade civil, em diferentes frentes, começa a se destacar como no enfrentamento aos efeitos do novo coronavírus, não apenas em áreas diretamente relacionadas à saúde mas também em questões econômicas, sociais e culturais. Esta atuação tem se mostrado fundamental especialmente para que grupos em maior situação de vulnerabilidade sejam visibilizados e atendidos em suas necessidades. Os modos de engajamento também vêm sendo bastante diversificados, seja por meio de campanhas e parcerias para arrecadação de recursos para uma atuação direta, seja por meio de articulação junto ao poder público.
Richarlls Martins, Coordenador geral da REBRAPD e professor da UFRJ, acredita que estamos vivendo um momento no Brasil em que a “produção de respostas é extremamente atravessada na imensa complexidade das perguntas que se coloca em contexto”. Nesse sentido, traz três questionamentos e reflexões. O primeiro sobre as lições que a instalação desta presente emergência sanitária internacional, ocasionada pelo coronavírus, traz para o Brasil. Richarlls aborda a questão o indicando que uma das lições mais significativas é que a vulnerabilidade não é democrática e ela não atinge todos os sujeitos da mesma maneira. “A exposição ao vírus é universal, mas os impactos dos processos de contágio e de letalidade são diferentes, denunciando os diferentes modos de nascer, viver e morrer das pessoas”. De acordo com Richarlls, as respostas e as estratégias sociais devem ser estruturadas a partir dos marcadores sociais de diferença. Entre eles, gênero, raça, classe, sexualidade, escolaridade, território, deficiência e geração, mas o Brasil tem uma escassez de dados sobre esses grupos populacionais.
Os segundo e terceiro questionamentos, do professor, estão relacionados ao primeiro, sendo eles: Como estas questões atravessam as nossas capacidades de atuação coletiva nesse contexto de enfrentamento da Covid considerando alguns eixos estruturantes da agenda de população e desenvolvimento?; É possível reconhecer que diferentes grupos populacionais estão sendo deixados para trás na resposta à pandemia? Richarlls acredita que é urgente a criação de um fórum composto por diversas frentes para coordenar um movimento para ativar uma sala de situação, ação e articulação sobre os direitos dos grupos populacionais em situação de maior vulnerabilidade no contexto da Covid-19.
A Gestora da Mídia Ninja e ativista do Fora do Eixo, Dríade Aguiar, traz a perspectiva da comunicação como frente de atuação como estratégia de mobilização social. Pontua a falta de uma liderança atenta a todas as necessidades das populações e compartilhou a estratégia adotada pela Mídia Ninja em três frentes: o plano de ação é composto por saídas para ontem, hoje e amanhã. A Mídia Ninja está na linha de frente para diminuir a lacuna entre as respostas à pandemia e as pessoas mais vulneráveis; atua no combate a desinformação em torno deste momento de pandemia; e articula um espaço de trocas sobre tecnologias e formas de adaptação nesse novo contexto.
Em sua fala, traz exemplos de como a desigualdade social no país vem agravando cada vez mais os impactos da Covid-19 entre os grupos em situação de maior vulnerabilidade, como a população periférica, negra, indígenas e quilombolas. Dessa forma, segundo a ativista, os processos e as ferramentas de arrecadação tem se mostrado importantes para diminuir esses impactos da pandemia.
Gonzalo Vecina Neto, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP explora em sua fala como a desigualdade afeta – especialmente dentro do contexto da Covid-19 – de maneira muito significativa, as populações mais vulneráveis, especialmente negros, mulheres, indígenas, pessoas LGBTs, quilombolas, migrantes, portadores de deficiência e idosos, e como o Estado vem enfrentando essa crise, trazendo críticas e questionamento para reflexões.
“Se fossemos um país mais igual, a epidemia seria muito menos importante e todos sofreriam menos”, compartilha Gonzalo. Reflete que em um país como o Brasil, em que a desigualdade está mais exacerbada do que nunca, as medidas de isolamento social para muitos grupos é um grande desafio.
Sob uma perspectiva internacional, Melisa Dickie, Diretora Associada do Programa de Saúde Comunitária e membro do Comitê Executivo para Ações de Hepatites virais (CATIE/Canadá), compartilha exemplos de como a organização está o atuando com grupos em situação de maior vulnerabilidade no contexto da Covid-19. A CATIE trabalha construindo soluções com a própria comunidade. Dessa forma, se torna uma troca de experiências entre as autoridades de saúde, estudiosos e as comunidades.
Entre os exemplos apontados por Melisa trouxe esta uma ação desenvolvida junto a tribos indígenas que sofrem com o HIV. Foram elaboradas reuniões online diante deste contexto da Covid-19 para entender como essa população teria acesso ao tratamento de HIV no isolamento social imposto pelo governo. Questões foram levantadas sendo que algumas delas já trouxeram resultados.
Assista esse debate na íntegra www.youtube.com/watch?v=S9TXfYKm92Y
A cada semana, a série “População e Desenvolvimento em Debate” promovida por UNFPA e ABEP realiza discussões entre academia, governo e sociedade civil sobre temas emergentes na Agenda de População e Desenvolvimento. Nessa quarta-feira (17) o tema será “Migrantes e refugiados no contexto de distanciamento social. Acompanhe no perfil do UNFPA no Youtube: youtube.com/unfpabrasil.